Capítulo 44

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ANAHI

Algumas vezes, tudo o que se precisa é de uma grande mudança, algo totalmente novo, que faça você tremer só de pensar no que o futuro lhe reserva.

Porque eu sabia o que o presente havia me reservado, e não estava nada satisfeita.

O beijo no banheiro me disse duas coisas:

a) eu não havia esquecido Alfonso coisa nenhuma,

b) eu acabaria caindo na lábia dele, mesmo que relutasse.

Então, ir para Nova York era a coisa certa a fazer. Eu repetia isso dezoito vezes por dia desde que aceitara a proposta, tentando me convencer de que não estava cometendo um grande erro.

Minha mãe ficou eufórica com a novidade, embora tenha chorado às escondidas em seu quarto, quando pensou que eu estivesse dormindo. O novo coração dela estava aguentando firme, e os medicamentos o deixaram estável. Depois de uma longa conversa com o dr. Victor — que agora nos visitava todas as noites; eu ainda não sabia o que pensar sobre isso —, em que ele me garantiu que as chances de uma complicação eram muito pequenas àquela altura, acreditei que ela poderia viver sem que eu estivesse por perto.

Como eu iria viver sem ela era outra história, mas eu descobriria.

Chris não chorou, mas o sentimento agridoce da separação iminente pairava entre nós. Eu não sabia como viveria sem ele também. Maite ficara animada com a notícia, a ponto de planejar uma festa de despedida para meu último dia na L&L. Até Ivan estava contente.

Todo mundo estava feliz.

Exceto eu, mas isso não significava nada.

Apenas dizia que eu precisava de um pouco mais de tempo para entender como aquilo era bom.

Era ótimo! Era maravilhoso! Era...

...Aterrorizante.

Sim, aquela era a chance da minha vida, mas, caramba, os EUA era longe demais do mundinho que eu amava e ao qual pertencia.

É claro que eu estava assustada, mas tentava bravamente esconder isso. Sobretudo de minha mãe. Às vezes eu a enganava. Mas só de vez em quando.

O tempo então foi passando depressa. Entre acertar os documentos necessários para a mudança e me inteirar sobre os problemas da filial da Nova York, eu me vi às portas de embarcar para os EUA.

Eu havia tentado conversar por telefone sobre algumas questões do meu contrato com a gerente do RH da filial de NY.

PÁ, POWW. AU AU

Um barulho seguiu de um grito e em seguida, a agitação de muitos latidos.

— Gigica ­— Achei ter ouvido um homem falar ao longe — Você pode vir aqui um instante?

­— Já vai ­— A mulher respondeu — Desculpe, Anahi, é que eu estou em casa agora e aparentemente meu marido não dá conta de dois filhos e dois cachorros.

— Claro, eu entendo. Nós continuamos nossa conversa depois. — Me despedi e desliguei.

Gigica...que nome estranho pra uma gerente de RH!

Bom, mas não havia muito tempo para pensar sobre isso agora.

Naquela noite de sexta-feira, Christian e eu seguíamos para a tal festa de despedida que Mai havia organizado. Minha mãe foi proibida pelo dr. Victor de participar, pois haveria muita gente e ela ainda precisava manter certa distância de vírus e bactérias, de modo que Magda e ela decidiram fazer uma sessão de carteado, com dona Inês e o próprio dr. Victor como parceiros.

Mentira Perfeita - ADPOnde histórias criam vida. Descubra agora