Capítulo 5

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ANAHI

— Anahi, quer parar de se sacudir e ficar calma, pelo amor de Deus? — Maite tentou chamar minha atenção. — Você está chacoalhando o prédio todo! Fica calma.

Certo.

Minha tia maluca gastara todas as economias num casamento que não tinha a mais remota chance de acontecer nos próximos cem anos. Claro que eu podia ficar calma.

— Eu preciso cancelar essa loucura. E interditar a tia Bê.

— Sua tia não ficou louca. — Ela deu risada. — Bom, não mais do que sempre foi.

Eu tinha que cancelar aquele contrato. Não sabia bem como contaria à tia Begônia que não haveria casamento. Eu nem tinha conseguido inventar um nome para o meu suposto namorado! Graças aos céus consegui me esquivar do pequeno interrogatório de tia Bê quando dona Inês, nossa vizinha, ligou para perguntar sobre sua saúde. 

Tudo bem, eu veria isso depois. O importante agora era pegar seu dinheiro de volta.

— Essa tal de Amanda tá demorando muito. — Eu me levantei da cadeira e comecei a zanzar pela saleta da Allure Eventos.

O ambiente era uma bagunça de tecidos, convites, caixas com luzes, plumas e outras coisas que eu achei melhor não saber o que eram. Uma mulher morena surgiu pela porta. Estava bem vestida, com saltos finos e um vestido com tiras largas e um decote quadrado que certamente chamaria atenção na rua, no metrô, em qualquer lugar que ela andasse. O cabelo negro e cacheado na altura do ombro brilhou sob a luz fluorescente. Ela sorriu ao fechar a porta.

— Desculpem a demora. Acabei enrolada numa reunião. Sou a Amanda Gouvêa. Qual de vocês é a garota de sorte que vai ter o casamento do ano? — questionou, animada.

— Sou eu. Quer dizer, eu sou a sobrinha da Begônia. Mas não vai ter casamento. Vim aqui cancelar o contrato.

O sorriso de Amanda tremeu.

— Como?

— Não vai ter casamento.

Levou um minuto inteiro para que ela desse a volta na mesa e se acomodasse lentamente, um sorriso compreensivo no rosto repleto de sardas.

— Escuta... É Anahi, certo? — perguntou. Depois que eu anuí uma vez, ela prosseguiu: — Se você não gostou de alguma coisa, eu posso refazer o projeto, tornar real o que você imaginou. Qualquer coisa que quiser. Eu transformo seus sonhos em realidade em um estalar de dedos. Ou então...

— Agradeço muito — eu a interrompi, tentando não parecer desesperada. — Mas só quero cancelar tudo e pegar o dinheiro de volta.

— Olha, já vi isso acontecer antes. — Ela me mostrou aquele sorriso de quem sabe das coisas. — É normal ficar em dúvida quando a coisa se torna real. Mas você ama o seu noivo...

— Amo nada.

— Ah, entendi. — Riu de leve. — Isso também é normal. O estresse pode causar brigas realmente, mas vocês vão se entender. Seu noivo...

— Não existe — completei. Ela piscou.

— Como disse?

— Não tem noivo nenhum! Eu inventei, tá legal? Minha tia estava morrendo na UTI, aí o meu amigo falou pra ela que eu tinha um namorado, e ela pareceu melhorar. Eu achei que não teria problema mentir um pouquinho. Aí ela se recuperou, graças a Deus, mas o coração ainda está meio fraco, então ainda não posso contar pra ela que eu inventei tudo — terminei meio sem ar.

Mentira Perfeita - ADPOnde histórias criam vida. Descubra agora