LIVRO UM.
Em meio a uma guerra civil inabalável, a camponesa Margareth Allboire é vítima de um misterioso ataque em sua vila, situada no leste de Irbena, e precisa lidar com o novo lar que passa a habitar contra sua vontade.
Certa de que o castelo d...
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A viagem perdurou por horas, de forma que Margareth, pela janelinha da carruagem, pôde presenciar toda a transição entre o azul-turquesa da manhã de Kaena e o alaranjado forte do fim de tarde.
O que a levou a prestar tanta atenção à paisagem do dia foi Sienna, pois a princesa, de repente, não parecia mais apta para conversas. Era como se houvesse transformado-se em outra pessoa, novamente. Marga teve certeza disso quando observou, lá fora, os cavaleiros seguirem o mesmo caminho que fizeram, quando foram à cidade mais próxima.
— A carruagem seguiu o caminho reto. — Margareth voltou a olhar para dentro com o cenho franzido. Ela havia se esquecido do humor de Bolgart e frase havia saído de si espontaneamente. — Por que não viramos a estrada para o porto?
— Por acaso acha que sou uma bússola? — Sienna a fitou com os olhos mortos de tão frios.
A dama ergueu as sobrancelhas e coçou o pescoço, envergonhada.
— Desculpe — murmurou, bem baixinho. Estava com os ombros cabisbaixos em sua própria órbita. Não podia acreditar que seriam dias convivendo com instabilidades como essa.
Sienna observou o rosto machucado de Allboire. Após um tempo, seu olhar foi ficando morno e amolecido, como se houvesse visto estrelas a céu limpo. Ela mordeu os lábios e respirou fundo.
— Não faremos a viagem por navio — disse, com a voz bem menos agressiva. — Vamos por terra. Será mais seguro, devido às circunstâncias.
Marga quis saber quais eram as circunstâncias citadas, mas não perguntou. Apenas fez que sim com a cabeça e voltou a olhar lá para fora. O que quer que estivesse ocorrendo na mente da princesa, naquele momento, era uma fera perigosa demais para ser cutucada mais uma vez.
...
A viagem perdurou por horas, mas elas conseguiram chegar ao destino. Ao menos, ao primeiro deles.
Não havia caminhos por terra que levassem a comitiva da princesa de forma direta até Irbena em um período de tempo que não fosse exaustivo – e talvez mortal – para os cavalos. Eles precisavam parar em algum momento, e o pequeno reino de Pat Nam, na cidade da Maltônia, era o lugar perfeito para fazer isso.
Pat Nam era um país tranquilo, que costumava se abster em tempos de guerra. Ficava entre as fronteiras de Irbena e Kaena. Era muito conhecido, mas pouco temido, o que o tornava o melhor ponto para paradas durante viagens. Sienna já havia passado noites ali. Ao menos, foi o que disse a Margareth para tranquilizá-la, assim que a carruagem parou em frente aos campos verdes do palácio.
— As festas daqui são adoráveis — comentou em tom sarcástico, percebendo a feição claramente desgostosa da jovem à frente. Já havia se esquecido de sua mágoa do início da viagem.
Marga franziu o cenho e largou os ombros, encarando a amiga com total descrença.
— Não estou brincando. — Sienna respirou fundo, animada. — Podemos comparecer a uma, esta noite.