Em dias comuns, caminhar pela floresta sem obter arranhões ou tornozelos torcidos já era uma tarefa de extrema dificuldade.
Em tempos de caça, os problemas tornavam-se ainda maiores, visto que o mínimo de barulho causado transformava-se em seu pior inimigo. É por isso que Margareth absteve-se de comparecer aos dias em que Enrico saía para caçar e, por muito tempo, ficara aliviada por não ter de enfrentar a realidade assustadora que um acúmulo de árvores poderia lhe causar. Naquele momento, arrependeu-se da troca feita.
Foi, ao tentar correr dentro de uma floresta, que Margareth lembrou-se de um odioso fato: ela nunca havia corrido dentro de uma floresta e não sabia o quão difícil era isso.
Depois de escorregar no solo úmido, pisar em falso vezes demais para se contar e receber um arranhão furioso de um galho pontiagudo em seu olho, decidiu parar sua corrida e tomar mais cuidado com os lugares por onde pisava. A floresta podia ser extremamente rude, quando queria.
Ela cessou a andança sem destino e atreveu-se a olhar para trás por um momento, mas tudo o que encontrava-se diante de seus olhos era a densidade das árvores, que impedia-lhe de alcançar qualquer caminho que pudesse levar-lhe de volta para casa. Entretanto, independente de seus desejos de reencontrar o vilarejo, o cheiro eminente de fumaça ainda pairava por todo o ambiente. E, por isso, ela não podia voltar.
Então, continuou a caminhada até uma árvore e encostou-se sobre o tronco para recuperar o fôlego. No meio tempo, olhou para o céu coberto por folhas e concentrou-se em sua visão. As únicas partes de seu corpo que bem funcionavam, naquele momento, eram sua audição e sua mente. E isso não era nada bom. Os sons daquele lugar sombrio eram contínuos e nem um pouco amigáveis e misturados com seus pensamentos inoportunos, cada minuto que se passava servia apenas para assustá-la um pouco mais.
Em meio ao desespero e à dor de cabeça que logo vinha, Marga fechou os olhos com força e pôs-se a chorar, enquanto clamava para que um sinal divino lhe mostrasse o caminho para sair dali.
Retirou de sua manga a pétala seca que carregava consigo desde criança e segurou-a com ambas as mãos. Ela encontrava-se extremamente patética: com os cabelos emaranhados ao rosto, os ombros circundados em si mesma e as pernas trêmulas feito um animalzinho assustado. Qualquer um que passasse por ali, ou sentiria pena da pobre donzela, ou correria para longe da mesma. Ela, mais do que tudo, queria poder ser capaz de escolher a segunda opção e fugir de sua própria situação.
Remetendo, em sua mente, o rosto escuro, os olhos castanhos e a melódica voz de Enrico, tudo o que desejava era desfazer os últimos minutos daquele dia. E por saber que não havia possibilidade de tal ação ser feita e, também, por estar mais cansada do que nunca, ela jogou-se ao chão e xingou o irmão em voz alta, como se o mesmo fosse capaz de escutá-la. Concordar com sua ideia era a última coisa que deveria ter feito. Deveria ter ficado no vilarejo e enfrentado-os, como todos os outros faziam. Mas é claro que não foi o que ela fez. Era uma covarde. E, agora, arrependia-se amargamente. Perdeu-se entre os troncos fantasmagóricos da floresta e estava sozinha.
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Vossa Alteza | ⚢
Historical FictionLIVRO UM. Em meio a uma guerra civil inabalável, a camponesa Margareth Allboire é vítima de um misterioso ataque em sua vila, situada no leste de Irbena, e precisa lidar com o novo lar que passa a habitar contra sua vontade. Certa de que o castelo d...