Pelo que Sienna lhe disse, Gabrielle estaria fora pelo resto do final de semana. O que significava que, durante todo aquele sábado (e mais um pouco), Margareth teria de trabalhar o dobro do que era esperado de si.
Por algum motivo, senhorita Vincent ainda não era considerada conselheira oficial da princesa de Kaena, pois estava mais do que claro que a pequena donzela não era apenas uma simples dama de companhia, da maneira que Marga lutava para ser. Gabrielle fazia com que acompanhar Sienna – não só em seus caminhos, como também em seus pensamentos – tornasse-se numa tarefa fácil. Para a novata, isso estava longe de ser uma realidade.
O silêncio a instalar-se pelo ares que cercavam Allboire e Bolgart desde o começo do dia era perceptível a qualquer um. Era como se a noite do baile de primavera, na qual ambas conversavam como se fossem há anos confidentes, nunca sequer houvesse existido. Ao menos, isso era o que Margareth acreditava.
(Para sua felicidade, aquela noite, de fato, existiu. De pouco em pouco, o que restou da mesma crescia feito uma chama horrorosa no peito de cada uma. Em algumas semanas, elas não mais aguentariam e deixariam essa chama explodir uma na outra. Mas não é sobre isso o que falaremos, por agora.)
O dia – o único dia em que estavam sem Gabrielle, aliás – era cheio e ambas necessitavam de contribuir para acabar com suas tarefas o quanto antes pudessem. O que significava que encontravam-se em sua mais profunda agonia.
Rainha Anna andava ocupada demais com as preparações para as tão-comentadas boas-vindas de uma família distante, que estava para chegar ao castelo em alguns dias, e, por isso, todos os restos complicados de comandar aquelas terras caíram sobre as mãos de sua nem-tão-querida filha. Às nove da manhã, Sienna e Margareth já haviam rodado o castelo para pegar correspondências, checar exportações, receber atualizações quanto à situação de Irbena e entre outras – numerosas e animadoras – atividades. Ao menos, estas livraram-nas de terem um único segundo livre para conversar sobre qualquer assunto que não envolvesse trabalho.
Até mesmo a presença de senhora Bolgart pareceu trazer alegria ao rosto preocupado de princesa Sienna, assim que a mesma notara que todas as tarefas da manhã tinham chegado ao fim.
— E agora? — Marga arriscou perguntar, após notar que as duas rodavam o castelo sem rumo algum pelos últimos dez minutos.
A ruiva parou o caminho e lançou um olhar desconcertado para a dama. Ela umedeceu os lábios, numa aparente tentativa de criação de alguma desculpa, mas, em trinta segundos, nada foi capaz de surgir em sua mente.
— Acabamos — foi tudo o que sua boca derrotada conseguiu dizer.
— Acabamos? — repetiu a mais nova.
— Acabamos.
— Oh — exprimiu Margareth, indecisa entre o alívio e o nervosismo. Afinal, ela sabia o que aquilo significava.
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Vossa Alteza | ⚢
Fiction HistoriqueLIVRO UM. Em meio a uma guerra civil inabalável, a camponesa Margareth Allboire é vítima de um misterioso ataque em sua vila, situada no leste de Irbena, e precisa lidar com o novo lar que passa a habitar contra sua vontade. Certa de que o castelo d...