10: cera seca e argila molhada

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A tarde daquele dia marcava-se por um típico céu de primavera

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A tarde daquele dia marcava-se por um típico céu de primavera.

Os ventos estavam fortes e as nuvens ajeitavam-se calorosamente para uma noite de chuva. Nos jardins, grupos de crianças corriam sobre a terra para aproveitar o resto de sol que ainda lhes restava e suas mães descansavam, reclusas nos recantos cobertos por seda branca. Os funcionários da cozinha aproveitavam a pouca movimentação do dia e cantavam melodias camponesas durante todo o expediente. As jovens filhas de marquesas divertiam-se no salão de descanso principal, onde os mais sutis cortejos aconteciam entre olhares. Tudo ocorria conforme mais um lindo dia no castelo de Kaena.

A princesa e suas damas, porém, não aproveitavam nenhuma dessas raras demonstrações de humanidade, pois, a metros de distância de tudo o que ali ocorria, as três jovens lutavam para não cair no sono enquanto trabalhavam entre as paredes do quarto de senhorita Bolgart.

Sienna xingava palavras de baixo calão em sua mente. Margareth suspirava profundos ares de tédio. Gabrielle mal conseguia contar quantas vezes fechou os olhos e quase dormiu.  Era, de fato, um péssimo dia para as damas. Quando a princesa, enfim, necessitava de suas presenças, era apenas para cumprir uma tarefa chateante de organizar cartas.


Sem opção além de obedecer às ordens, as meninas dividiam as pilhas de papéis ao seu lado entre importantes e não-importantes, enquanto a ruiva redigia recados em sua escrivaninha.

Por mais que quisesse, Margareth não podia culpá-la, pois senhorita Bolgart apenas submetia-se a tais afazeres por conta de rainha Anna, que ainda não havia perdoado a partida de príncipe Charles. Os castigos, embora ocorridos há um longo tempo, estavam longe de terminar. Por isso, as portas do quarto não deveriam ser abertas até que a princesa terminasse de separar, ler e escrever tudo o que fosse necessário.

Sienna, de vez em quando, trocava de assento, indo da cadeira para a poltrona, da poltrona para o sofá, do sofá para a cama, da cama para cadeira e, por vezes, ficava em pé, parada ou caminhando por aí, porém nunca cessando sua leitura. Marga admirou-se com o poço de concentração no qual a princesa afundava-se sobre quando necessário. Aquela não era a primeira vez em que observava tal atitude nela. Sienna Bolgart possuía uma mente forte, incapaz de ser invadida por meros fenômenos naturais das rotinas mundanas.


Em algum momento, porém, ela parou a leitura, com o rosto atingido por luz. Luz que parecia ser coberta por um lençol de cansaço, exposto em seus olhos cabisbaixos. E direcionou-se novamente à escrivaninha, sacando um papel em branco e uma pena ao canto direito.

— Gabrielle — falou, olhando para o papel — traga-me a correspondência do duque de Arion, por favor. Finalmente estou com a cabeça posta em criatividade para lhe responder.

— Claro — assentiu a dama, procurando em sua pilha pela carta específica, de selo dourado e majestoso, e entregando-a à princesa.

Logo, assumiu em sua face uma expressão de dúvida e indagou:

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