11: pedido de urgência

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Senhorita Vincent marcava um compasso agitado com seus passos pelos corredores do castelo

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Senhorita Vincent marcava um compasso agitado com seus passos pelos corredores do castelo.

Quem a observasse passando, diria que havia acabado de receber um pedido de casamento de Conde Gustavh (afinal, era esse o único assunto que parecia lhe circundar), de tão agitada que estava. Pois era verdade – não a parte do pedido de casamento, deixaremos isso para os próximos capítulos –, carregava em suas mãos a carta que, há pouco, recebera do mensageiro real. Uma carta: a pólvora para sua explosão de pressa repentina. O motivo para dirigir-se aos campos dos estábulos, naquele exato momento.


Entretanto, como ironia do destino, a última pessoa que desejava ver – e a única que seria capaz de diminuir sua confiança a um nível desconcertante – apresentava-se nos campos. Afinal, onde mais Klaus Bolgart poderia estar, senão em seu habitat natural?

Com suspiros que mais pareciam bufadas, Gabrielle tomou um tempo até que retomasse seu caminho. O cavalheiro já havia notado sua presença ali no exato segundo em que aparecera e lhe observava com um olhar nervoso, que penetrou o profundo do estômago da dama. Ficou parada, estática, por alguns segundos.


Logo, trouxe de volta os ombros eretos e a expressão de confiança que empregava-lhe ao rosto e voltou a dirigir-se até o ruivo, certa de que deixava claro sua falta de simpatia para com o cavalheiro. Mas tudo o que o príncipe parecia fazer, conforme ela aproximava-se dali, era levantar mais ainda o brilho de seu rosto pálido e salpicado.

— Gabrielle — moldou suave seu nome ao vento, assim que a menina parou à sua frente. — Digo, senhorita Vincent. O que fazes aqui?

A dama retribuiu a educação com um sorriso amarelo. Algo dizia a ela que Klaus imaginava que estava ali para vê-lo.

— Alteza — cumprimentou com uma reverência forçada, o que fez a expressão leve do príncipe transformar-se numa risada sem graça.

— Sabes que não precisas disto — murmurou.

Gabrielle engoliu em seco. Ela sabia que não precisava e sabia que Klaus diria aquilo, é claro que sabia.

Resolveu tomar as rédeas da conversa:

— Gostaria que um de seus homens arranjassem-me uma carruagem. Rapidamente, se possível.

— Está certa? Isso é estranho — comentou o ruivo, coçando o queixo. — A próxima viagem de Sienna não está marcada para daqui três dias?

— Não é para ela — respondeu com prontidão. — É para mim.

Klaus franziu o cenho.

— Oh. Entendo. — Ele desviou o olhar bruscamente. Começou a caminhar até o cercado de um dos celeiros e Gaby o acompanhou, logo atrás.

Os dois seguiram com passos encharcados de desconforto. Mas era exatamente isso que senhorita Vincent desejava. Preferia que permanecessem em silêncio, por mais vergonhoso que fosse, do que abrir a boca para falar qualquer coisa. Pois é claro que qualquer fala seria mil anos à frente no nível de constrangimento. Além disso, Gabrielle planejava manter seus segredos a salvo e sabia que a probabilidade de a mente curiosa de Klaus interferir em sua situação era gigantesca.

Por isso, ela não surpreendeu-se quando o príncipe cessou os passos na metade do caminho e virou-se para ela, com os lábios reprimidos.

— Será indiscrição de minha parte — disse, e ela o xingou nos pensamentos por isso — caso pergunte-lhe o motivo de sua viagem?

Gabrielle piscou inúmeras vezes, de cenho franzido, transtornada.

— Sim, Klaus — afirmou, dura. — Seria indiscrição de sua parte.

— Certo. — O rapaz arqueou a sobrancelha, motivado a continuar com o interrogatório. — E, por questões de segurança de uma residente do castelo, que também acaba por ser dama de companhia da princesa de Kaena... Sienna está a par de sua ausência?

A dama revirou os olhos e respirou fundo. Não podia acreditar naquilo.

— Sim. Está ciente.

Depois disso, Klaus a encarou por segundos miúdos, em silêncio e com o que parecia ser um sorriso formando-se no canto do seu rosto. Ela não sabia o que aquilo significava, mas, pelo simples fato de ele não ter dito nada, já lhe era satisfatório o suficiente que permanecesse daquele jeito.

Ele virou-se de volta à direção inicial de seu caminho e voltou a andar até o celeiro como se nada do último minuto houvesse ocorrido. Ela o seguiu, encarando suas costas largas com um olhar desconfiado e a mente bagunçada. O peso de ter de mentir para ele era ainda pior do que o peso dos vestidos de baile da princesa.


Quando próximos de encerrar a interminável caminhada, Klaus abriu a boca para falar novamente:

— Para onde deseja ir? — indagou sua voz, indubitavelmente irritante.

Gabrielle franziu o cenho, consternada.

— Qual a parte que não entendestes quanto a ser indiscreto? — ela rebateu. — Isso não lhe diz respeito.

— Na verdade — suspirou, conforme abria os portões pesados do celeiro, um de cada vez —, pouco importa-me o que fará em sua viagem. O que pergunto-lhe diz respeito à manutenção de nossos mantimentos. — Ele virou-se, arrumando os cachos ruivos e ainda atordoado com o esforço físico feito. Quando notou que a mesma não compreendia o que dizia, acrescentou: — Precisamos saber para onde levam nossos cavalos. E cavaleiros. E damas. Até mesmo as mais independentes.

Vincent balançou a cabeça em negação. Não dirigia a ação ele, mas a si mesma: não podia acreditar em quanta má sorte tinha de ter de deparar-se justo com aquele que menos deveria conversar. Aquele que menos gostaria de ver. Aquele que mais enchia-lhe os nervos quando menos precisava.

A má sorte, também, vinha devido a razão do cavalheiro: por mais que soubesse os verdadeiros motivos pelos quais ele lhe fazia tantas perguntas, sabia que era necessário que sua localização fosse posse do castelo. Independentemente de suas vontades pessoais.

E era melhor que ele, alguém conhecido, que poderia facilmente ser ameaçado pela princesa em casos extremos, soubesse de seu destino, do que qualquer outro cavaleiro não-confiável daquele castelo.


Suspirando, ela cruzou os braços, a pele sendo arranhada por suas próprias unhas e os olhos saltitando entre ódio e estresse.

Klaus podia ser uma pessoa de humor exagerado, mas também era observador o suficiente para notar que as expressões que a dama lhe lançava eram sérias, e aquilo quase o fez desistir de receber qualquer resposta. Até que ela desfez-se em seu próprio corpo e, balançando a cabeça em rendimento, murmurou, com a voz baixa:

— Vou em direção à cidade. Caliver Romstock, no Casarão Azul. Se isso cair no conhecimento de qualquer um do castelo, saberei que saiu do senhor príncipe. Estamos entendidos? — Ela o encarou profundamente. Ele, com o rosto congelado, assentiu. — Agora, pode, por gentileza, trazer-me a maldita carruagem?

 — Agora, pode, por gentileza, trazer-me a maldita carruagem?

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