Quando os sinos de emergência do castelo tocaram, um vulcão entrou em erupção dentro do peito de Margareth. Em apenas algumas horas daquele dia, ela se sentiu transportada de volta ao seu passado, quando a ocorrência de ataques chegava a ser rotineira. Foi como se tudo houvesse passado a ocorrer de maneira desordenada, como pequenos desencontros em sua memória.
Ela se lembrava apenas de Sienna estando ao seu lado no momento em que ambas ouviram o soar dos sinos e de alguns rostos aparecendo em seu caminho de vez em quando. Mas, tomando as rédeas, contarei cada passo dado pela dama naquele assombrado fim de tarde...
O quarto da princesa estava escuro e quente. Margareth continuava sentada sobre a cama, com ambas as mãos presas ferozmente ao lençol e os olhos vidrados na porta fechada, o corpo completamente paralisado. Sienna andava nervosamente de lá para cá, recolhendo algumas coisas em suas mãos magricelas.
— Temos que ir — falou, enquanto agarrava os documentos que havia deixado anteriormente sobre a cama. Um dos papéis caiu sobre o colo de Marga, mas a dama não moveu um músculo, ainda com a atenção paralisada na porta. Sienna o recolheu por ela. — Agora.
Sienna correu até sua escrivaninha e abriu a mesma gaveta, tomando mais alguns papéis e objetos que havia deixado ali dentro. Ela a fechou e a abriu novamente algumas vezes. Na terceira vez que a abriu, retirou dali uma faca e a enfiou dentro de seu vestido.
— Está ouvindo? — perguntou à dama. Fechou a gaveta com o joelho e recolocou o monte de papéis sobre a cama, ao lado de Margareth. Depois, limpou as mãos e começou a caminhar até sua penteadeira, do outro lado do quarto.
No entanto, a dama continuou sem dar um pio, o que fez Sienna encurtar seus passos e encará-la, com o rosto ofegante.
— Margareth? — repetiu.
A dama engoliu em seco. Aos poucos, foi notando que seu nome havia sido chamado pela voz ainda doce e fixou os olhos em Sienna.
— O quê...? — murmurou, tentando encontrar a racionalidade dentro de si. A ruiva a encarava com o rosto franzido.
— Temos que ir — insistiu a princesa. Ela esperava por uma ação, esperava que Marga se levantasse de súbito e começasse a sair correndo dali junto dela. Mas a dama ainda a encarava com os olhos paralisados. — O que foi? Está amedrontada?
Margareth abriu a boca, como se fosse pedir ajuda, mas não falou nada.
— Margareth, preste atenção. — Sienna colocou suas mãos brancas e geladas ao redor dos ombros da garota. — Você tem que sair daqui.
— Eu tenho que... — a dama balbuciou, confusa.
— Deve achar nosso esconderijo — interrompeu a princesa. — Há três entradas, mas deve seguir pelo caminho mais próximo... Ele está no quarto de minha mãe. Estará segura lá. Ao menos, até que tenhamos certeza de que isso não é um... — Ela reprimiu a própria fala, mas estava certa em dizer "ataque".
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Vossa Alteza | ⚢
Historical FictionLIVRO UM. Em meio a uma guerra civil inabalável, a camponesa Margareth Allboire é vítima de um misterioso ataque em sua vila, situada no leste de Irbena, e precisa lidar com o novo lar que passa a habitar contra sua vontade. Certa de que o castelo d...