Enfim, Margareth descobriu onde estava.
Não por completo. Isso era algo que descobriria mais tarde. Porém, o fato de saber que o lugar em que estava tratava-se de um castelo e não um calabouço já era aliviante o suficiente. Ali, ao menos, ela mantinha-se na despreocupante ideia de que não havia sido sequestrada por rebeldes (apesar de sua memória ainda embolar-se num poço profundo e a mesma não fazer a menor ideia de como fora parar ali).
O longo caminho até a biblioteca foi movido por passos desconfortáveis e um silencioso incômodo. Ela não sabia se Klaus era um bom falante ou se igualava-se à garota, nesse quesito. Por isso – e por mais outros motivos que, em tal caso, tratavam-se unicamente de sua insegurança – nenhuma tentativa de diálogo foi feita.
Para o seu alívio, em poucos minutos eles chegaram ao seu destino. Um grande e largo corredor que se estendia por, mais ou menos, uns trinta metros e que não possuía nada em suas paredes além de uma única passagem de duas portas, a qual parecia ser a marca do fim da linha para a dupla.
Inquieto, Klaus elevou sua mão a uma maçaneta de ouro e, antes de empurrar a porta que punha-se à sua frente, pigarreou.
— Antes de entrarmos, é preciso que saiba que não devemos fazer barulhos exagerados — afirmou ele, já com o tom de voz esmorecido. — Mas tenho a certeza de que isso não servirá como um problema para a senhorita — acrescentou, junto de uma piscadinha.
Então, ele abriu a porta e o coração de Margareth imediatamente acelerou. Nunca, em toda a sua vida, havia visto um salão tão extenso e com livros tão bem cuidados quanto o que via em sua frente. O pouco que conseguira acumular em seus dezenove anos havia sido esquecido após as mais de cinquenta prateleiras ilustres aparecerem diante de seus olhos. Aquilo fez sua respiração falhar e a cabeça rodar por um só segundo. Ou, talvez, houvesse sido apenas fruto de sua surpresa.
Klaus lançou um meio sorriso ao rosto, notando o incontestável vislumbre da garota, e voltou a caminhar junto dela, até ambos alcançarem as dezenas de mesas vazias que estavam distribuídas ao centro do salão e acomodarem-se nas cadeiras de uma delas. Não havia ninguém ali além de um único serviçal, que permanecia tão envolto em seu trabalho de observar o nada que sua presença chegava a ser ignorável. Menos para Marga, que, enquanto esperava um pronunciamento do recém-conhecido, lançava-lhe olhares inquietos, quase como se estivesse a pedir socorro. Como se um simples serviçal no canto de uma biblioteca fosse capaz de salvá-la das mãos de um suposto guerreiro treinado por anos.
— Sabe onde está, Margareth? — indagou o ruivo, depois de um longo minuto.
Ela fez que não com a cabeça e, como sempre, esperou.
— Está em Kaena. — disse ele, com o olhar penoso. Algo em sua voz demonstrava uma tristeza que lutava para não ser mostrada à jovem. — No castelo de Kaena.
Aquilo já fora o suficiente para deixá-la totalmente fora de órbita por alguns segundos. Kaena era o país-irmão de Irbena, ambos situavam-se lado a lado no mapa, sendo separados apenas pelo mar de Ostros. Eles foram ocupados na mesma década e, por muito tempo, continuaram como dois reinos prósperos, diferindo-se em suas reputações apenas depois do início da guerra contra a coroa, o que causara o decaimento do reino de Irbena e afastou-o grandemente da visão de outros países.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Vossa Alteza | ⚢
Ficción históricaLIVRO UM. Em meio a uma guerra civil inabalável, a camponesa Margareth Allboire é vítima de um misterioso ataque em sua vila, situada no leste de Irbena, e precisa lidar com o novo lar que passa a habitar contra sua vontade. Certa de que o castelo d...