Enfim, a Noite

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Não faço ideia de quantos minutos continuei caindo no meio daquela escuridão. As únicas certezas que eu tinha eram de que o topo dos prédios estava ficando mais distante e que Ignávia estava morta, com seus braços frios e estáticos ainda ao redor de mim. Além disso, Kristal não estava mais presente. Senti sua energia sumir assim que a soturna foi atingida, deixando-me confusa na hora se a garota acabou sendo morta ou não. Posteriormente um pesar em meu peito me fez pensar na pior hipótese.

Depois, e repentinamente, lembro-me de ter caído dentro da água. O baque inesperado me fez engolir um pouco do líquido e desesperadamente tentei me soltar da criatura que permanecia abraçada em mim, sendo obrigada, no final das contas, a dar chutes no corpo gelado conseguindo, seguidamente, libertar-me da prisão de braços e alcançar a superfície, nadando até a margem. Por fim, e com mais um pouco de força, saí do fundo rio (que por sorte não estava com o curso tão feroz naquela hora).

Após recuperar o fôlego e me levantar, procurei lembrar-me do local que estava, contudo não obtive sucesso: era completamente desconhecido e, apesar de ter elementos da vida real cotidiana, mostrava-se estranhamente anormal para mim (talvez fosse a atmosfera, não fazia ideia). O lugar possuía uma fina neblina, com algumas casas, aparentemente vazias e deterioradas, e grandes árvores distantes umas das outras (lembrava muito um bairro rural). Havia também um detalhe curioso: a falta de vida, tanto nas cores quanto no ambiente em si. A paisagem era em preto e branco, como nos filmes mais antigos, e os únicos sons que se ouviam eram da água, do vento e do farfalhar das folhas. Na hora que notei estes últimos detalhes, arrepiei-me ao perceber que era a realidade inversa (o estilo do local era a mesmo que vi antes).

- Bem-vinda outra vez.

Assustada, virei-me rapidamente. Porém ninguém estava perto de mim ou sequer ao alcance de minha visão.

- Por fim, chegou-se a tão esperada hora.

Outra vez fiquei movendo a cabeça de um lado para o outro, para trás e depois para frente, mas nada conseguia encontrar.

- Aqui, criança.

Em um sobressalto, afastei-me apressadamente da voz que tinha ecoado atrás de mim. Quando pude finalmente ver o Seu dono, senti uma mistura de medo e pânico tomar conta de meus sentidos, acelerando meu coração e minha respiração.

- Não vai cumprimentá-lo?

Ao lado de Noite Mortal, estava uma criatura familiar e ao mesmo tempo aterradora: o mesmo grande e negro lobo que havia me perseguido antes em um pesadelo, preso por correntes que se originavam do chão e mantinham seu comportamento violento controlado, em meio aos seus bufos de raiva e tentativas falhas de se soltar. Eu automaticamente dei alguns passos para trás, sem saber o que dizer na hora.

- O que você fez com Alex? - perguntei, procurando me acalmar.

- Apenas o preparei para dar continuidade no meu plano. Aquela medrosa já te contou meu objetivo, não contou?

- Aquilo... - como um flash de luz, minha confusão esvaiu-se e finalmente entendi o que tinha acontecido. - Aquilo já era uma armadilha, não é? Você sabia que a Invídia viria atrás de mim...foi tudo planejado, não foi?

Com um sorriso triunfante, seguido de uma risada estranhamente abafada, Ele passou a caminhar lentamente em minha direção.

- Acho fascinante a rapidez do seu raciocínio. Chega a ser um desperdício cumprir o que devo fazer.

Receosa, andei para trás conforme Ele chegava mais perto. Eu não tinha nenhuma chance contra Aquele monstro ou contra o lobisomem e, no final das contas, somente restava eu tentar obter respostas.

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