Por que?

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Ao término das aulas, eu saí da sala e fui para a entrada do colégio, onde, estranhamente, avistei o carro de meu pai. Caminhei até o automóvel e entrei, colocando a mochila em meu colo.

- Olá papai.
- Oi filha.
- Ah...aconteceu alguma coisa? - questionei, já num tom baixo.
- Por que a pergunta?
- É que normalmente o senhor não me busca, então...
- Então eu não posso te buscar? - ele perguntou, interrompendo - me.
- N-Não é isso, eu só...estranhei - respondi olhando para a janela.

Ele murmurou uma resposta, mas eu não prestei atenção. Eu sempre evitava conversar com meu pai, porque seus comentários perante ao que eu falava eram normalmente curtos e frios, mostrando não estar com um bom humor para conversar.

Após alguns minutos silenciosos, e um pouco torturantes, finalmente chegamos. Meu pai estacionou o carro e em seguida saí, indo diretamente para a entrada de casa, onde, a alguns passos da porta, notei algo estranho.

Alguma coisa estava me encarando de longe. Não sei porquê, mas senti calafrios percorrerem pelo meu corpo, o que fez o medo brotar em segundos. Fazia tempo que isso não acontecia comigo.

- Samantha? - meu pai chamou, confuso.
- S-Sim?
- Está olhando para o quê?
- Para...nada - respondi - Estava só..lembrando que tenho que terminar um trabalho!

Franzindo o cenho, meu pai entrou em casa, sem mostrar muita preocupação, e eu logo o segui, apenas desviando do caminho para ir até meu quarto, onde troquei de roupa e deixei a mochila na cama. Até àquele momento, nenhum outro sinal do que estava me observando apareceu.

Após uma hora, ou talvez duas, minha mãe apareceu no quarto, avisando que ela e meu pai já sairiam, levando meu irmão junto.

- Se precisar de algo me ligue - falou enquanto colocava o último brinco - Nós estaremos na casa de Kate. Tem certeza de que não quer ir?
- Tenho sim mãe. Não gosto desses tipos de almoço.
- Tudo bem então. Eu deixei um prato pronto pra você, do jantar passado, na geladeira, é só esquentar.
- Está bem.
- Tranque as portas e não atenda nenhum estranho. - disse, despedindo-se com um beijo em minha testa.

Observando o carro dos meus pais dar partida e sair da garagem, eu tive a ligeira impressão de que eu não estava sendo deixada sozinha em casa. E como se não bastasse essa impressão, senti como se todos os sons da casa tivessem indo junto com o automóvel. A casa ficou em completo e desconfortável silêncio.

Eu estava sozinha novamente. Ou era o que eu tentava acreditar.

Pegando meu celular e meus fones, com a esperança de conseguir me distrair um pouco através da música, deitei em seguida na minha cama, fechando os olhos logo depois.

- Samantha.

Olhei para os lados, porém nada vi.

- Aqui em cima.

Quando virei minha cabeça, uma cena tirou todo o ar de meus pulmões: uma criatura horrenda, com corpo esquelético, estava no teto me observando com curiosidade. Seus braços e pernas eram compridos e magros, seus olhos eram negros e profundos e seu rosto era assustador...e ao mesmo tempo familiar.

- Olá menina - aquilo disse, descendo através da parede, como uma aranha - Oh não fique com medo, vim para te ajudar.

- O-O que você quer? - falei, recuando para o canto da cama.

- Eu é que lhe pergunto isso. O que você quer?

Ele se aproximou mais e sentou-se na beira da cama, mantendo os olhos fixos em mim.

- Eu sei que você tem milhares de perguntas em sua cabeça. E por isso vim aqui: para te ajudar a entender. Você não vê tudo isso à toa, há um objetivo importante nessa história.

Eu ainda estava em choque, não sabia nem o que pensar.

- Mas...por que vocês...ficam me assustando? Aparecendo de repente...me encarando? - meu medo era nítido e tão nítido que eu nem mexia.

- Nós temos uma natureza própria e devemos seguí-la. As pessoas não são perfeitas também graças a nós. Existimos para testar a mente dos humanos, pois, apenas dessa forma, podemos saber se o indivíduo merece um descanso pacífico...ou uma morte inacabável, sem fim.

Lentamente, ele se levantou e andou até a janela, olhando para as crianças que brincavam no meio da rua, em meio aos próprios gritos de euforia.

- Acho que precisarei lhe contar desde o início...

Conexão SombriaOnde histórias criam vida. Descubra agora