Eles são reais

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- Por favor! Me deixe em paz! Eu não suporto mais isso! - gritei enquanto corria pela trilha da floresta.

Uma voz surgiu de repente, vindo de cima de alguma das árvores.

- Samantha, minha querida menina, não há nada a temer. Venha comigo e tudo ficará bem, com minha ajuda você nunca mais verá o que não quer ver.
- Você está mentindo! Sei que está! Todos vocês falam isso pra conseguir o que querem, eu não acredito em vocês!

Sussurros e gemidos começaram a vir de todos os lados. Sombras e seres com aparência deformada e podre passaram a vir na minha direção, repetindo meu nome várias vezes.

- Sa...man...tha
- Não, por favor! Não quero mais isso!
- Saman...tha

As criaturas horrendas se aproximavam cada vez mais...

- Samantha

Assustada, cubri os olhos com as mãos, achando que era meu fim.

***

- Mas onde está o maldito do meu celular?!

Assustada, acordei rapidamente após ouvir o súbito grito de meu pai. Meu rosto estava coberto pelo suor e minhas mãos ainda tremiam sem parar. Era outro dentre muitos pesadelos que eu vivia tendo, mas que sempre me causavam as mesmas reações toda santa madrugada.

No momento que ouvi os passos de meu pai ecoando da escada, eu saí da cama e fui direto para o banheiro, escovei os dentes e tomei um banho rápido, colocando uma roupa simples e indo direto para a cozinha. Lá, encontrei minha mãe começando a fazer o almoço, enquanto carregava meu irmãozinho no colo.

- Bom dia, filha!
- Bom dia...
- Dormiu bem esta noite?
- Não. - meu desânimo matinal nunca mudava.
- Oh céus, novamente? Aqui, pegue seu irmão um pouco, apenas para eu fazer o arroz - ela falou, passando Simon para meu colo.
- Sim, eu não sei mais o que fazer...
- Talvez você esteja pensando demais em alguma coisa. Tente não ficar focando nos problemas antes de dormir.
- É...pode ser. Vou tentar - respondi, indo em direção à sala - Mãe, vou ficar na sala com o Simon, se precisar de alguma coisa me chama.
- Está bem.

A sala da nossa casa poderia ser apenas igual às outras: decorada, com móveis bonitos, um vaso de flores em cima da mesinha, uma televisão, um lugar com um ar convidativo. Porém, o que aquele local menos se parecia era com um local agradável de ficar. Não pelo fato dos meus pais terem suas constantes brigas por lá, mas sim porque um dos monstros que eu mais temia e odiava habitava aquele lugar. E apenas eu podia vê-lo.

Você deve estar se perguntado: "Nossa, mas então por que você está indo para aí? Já que tem um monstro na sala?".

Eu estou indo para lá porque aquela criatura se alimenta de ódio e medo, então se eu ficar me afastando dela vai ficar claro o quanto a temo e odeio. E ficar dando "comida de graça" não vai resolver nada.

Ao pôr meu irmão no sofá e pegar uma caixa de brinquedos que estava embaixo da mesinha, eu reparei que o monstro me observava com atenção. Seus fundos olhos brancos não paravam de analisar minhas ações. E isso me deu um pouco de apreensão. Porém decidi ignorá-lo, para que eu continuasse a cuidar de Simon e também esquecesse um pouco dessa história de "monstros".

Após um breve tempo, minha mãe foi até a sala e falou que eu estava livre para aproveitar o dia, pois dali em diante ela cuidaria do meu irmão. Com um pouco de animação, corri para meu quarto e peguei meu precioso caderno: onde eu faço muitos desenhos relacionados ao que vejo. Pode parecer meio bizarro desenhar apenas monstros, sombras, espíritos e seres, mas, de alguma forma, é reconfortante o fato de eu conseguir pelo menos desenhar o que vejo, porque, pra mim, é como se isso provasse que o que eu vejo é real.

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