Você não é invisível

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O chão estava frio. Ao longe, conversas altas e gritos de crianças espalhavam-se por todo lado, como se cercassem o moreno. Seu corpo ainda estava estirado no piso, todo dolorido, enquanto ele tentava, esforçosamente, mover seus olhos (pesados por conta de um cansaço devastador).

Forçando seus membros, o rapaz sentou-se. Em seguida levantou-se, usando a parede como apoio; a tontura o quase fez cair outra vez. Diante de si estava um longo e iluminado corredor, com portas brancas nos dois lados. Ele não reconheceu o lugar.

Repentinamente as luzes apagaram-se. Uma escuridão inundou o redor de Alex. Posteriormente uma pequena janela da porta mais próxima tornou-se clara e o jovem foi até ela. Quando olhou pelo vidro, avistou uma sala de aula com crianças sentadas em suas respectivas carteiras enquanto a professora mostrava algumas sílabas no quadro negro.

E no fundo da classe, uma garotinha de cabelos negros e lisos estava olhando para a janela que ficava bem ao seu lado. Uma sombra quadrúpede, que se encontrava em cima de uma árvore, encarava a pequenina com seus grandes e tortos olhos. Após notarem o que Samantha estava fazendo, as outras crianças começaram a cochichar umas com as outras. No momento que os murmúrios ficaram muito evidentes, a professora tomou uma atitude:

- Agora não é hora de fofocar! Prestem atenção na aula! E você, Samantha, pare de ficar olhando para fora da sala! Por favor, vire-se para cá.

Envergonhada, a menina abaixou um pouco a cabeça e obedeceu a mulher. Seguidamente o monstro mirou sua atenção para o moreno e subitamente, tudo se tornou escuro pela segunda vez. Depois, no final do corredor, outra luz apareceu. O adolescente tratou de começar a caminhar até ela, quando passou a ouvir um choro que ficava mais alto a cada segundo completado.

Ao longe, uma garotinha estava correndo até onde o rapaz se encontrava. No instante que ela passou, Alex tentou segurar seu braço, mas o feito lhe foi impossível (algo não o permitiu se virar); seu coração ficou pesado por ter visto Samantha tão triste daquele jeito.

E mais uma vez, tudo ficou obscuro. Em seguida uma janela maior e mais alta, que se encontrava um pouco afastada, iluminou-se. Suspirando de irritação, o moreno andou até o lugar indicado.

No momento que finalmente ficou de frente para o grande vidro, ele viu um extenso parquinho, com árvores pequenas enfeitando o espaço, e depois percebeu que a mesma menina de cabelos pretos estava sozinha no balanço. Era evidente que as outras crianças tentavam brincar longe dela, deixando-a isolada em um canto.

Porém, ao estreitar os olhos, o jovem viu algo a mais que não tinha notado de primeira. Uma estranha e densa névoa escura envolvia o local, com alguns soturnos escondidos olhando para a pequena de cabelos negros. Incomumente, a cada segundo que passava, a paisagem ficava mais e mais escura, com vozes baixas surgindo de repente.

“Ela...sozinha...”

“Os outros...impedir...”

“Ordens...obedecer...”

“Amigos...ela....nenhum...”

“Destino...dela...”

Confuso o rapaz observou seu entorno e depois voltou seus olhos para a janela. O parquinho tinha ficado ainda mais medonho, com uma ventania varrendo as folhas secas do chão. A única alma viva presente era Samantha, toda cabisbaixa no balanço. As outras crianças tinham simplesmente sumido.

“Ela deve...ficar sozinha...”

“Ordens...a seguir...”

“Ninguém...pode atrapalhar...”

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