Como marionetes

108 18 3
                                    

- Perdoe-me.

Sua voz estava rouca e baixa, ao contrário de suas mãos que apresentavam firmeza enquanto seguravam as facas. Eu estava estática como uma estátua e surpresa demais com o ato inusitado. Ao longe, pude ouvir a rápida respiração de Furor, como se ele estivesse ficando sem ar.

O sangue respingava aos montes no chão. Um pouco dele também manchava minhas botas.

- Nós acreditamos em você!

Espantada, permaneci parada ainda processando o que eu tinha acabado de ouvir. Aquele grito saiu com a voz da besta misturada com a do moreno.

Como se houvesse notado a mesma coisa, o tio de Alex finalmente levantou a cabeça.

- Eu vou precisar da sua ajuda, Samantha. Não tem como eu retirar o Furor sozinho. - senhor Joseph sussurrou.

- Mas...suas mãos...não tem problema?

Em cada uma das palmas do homem havia um corte profundo que ainda expelia muito sangue. Ele havia trocado o cabo das facas pela lâmina, objetivando fazer uma armadilha para o soturno. Dessa forma, ele não me machucaria de verdade e ainda conseguiria fingir que cravou as partes afiadas em meu pescoço.

- Não se preocupe. Apenas peço para que me avise quando ele avançar em cima de mim.

Quieta, assenti discretamente. Contudo nem sequer tive tempo para pensar sobre como o avisaria. Logo em seguida, o lobo negro apareceu repentinamente, saltando para cima do homem, com os dentes à mostra e o olhar transbordando de ódio.

Quando notou a direção que os meus olhos indicavam, o tio do moreno entendeu imediatamente o que estava ocorrendo e reagiu, virando-se e acertando o cabo de uma das facas na barriga da criatura e jogando-a fortemente contra o chão. Assustada, afastei-me rapidamente dos dois.

- Alex! Você precisa me ouvir! Não deixe isso tomar o controle! - Joseph gritou, em meio aos rosnados do lobo.

Contorcendo-se raivosamente, o ser começou a sair de sua forma animal para assumir o corpo bestializado. No entanto, e curiosamente, ele não conseguia sair do lugar. Seus membros mexiam-se energicamente, mas era somente isso.

- Samantha, eu preciso que você segure a cabeça dele.

Como se tivesse sido desperta de uma breve transe, eu rapidamente me aproximei.

- Segure por trás das orelhas, usando as duas mãos. Assim ele não vai poder te morder.

Tentando afastar o nervosismo e o medo da minha mente, fiz conforme o tio do moreno falou. Talvez por algum milagre ou sorte, consegui segurar a cabeça da fera firmemente.

- A próxima parte é muito importante...não deixe ele olhar para nenhum outro lugar. Obrigue-o a olhar somente para você. - o homem disse, seriamente. - Aconteça o que acontecer, não deixe ele desviar os olhos.

Após assentir, voltei minha atenção para o rosto do soturno. Seus olhos intensamente avermelhados ficavam dançando de um lado para o outro, como se procurasse por algo que pudesse ajudá-lo.

- Está com medo, Furor? - perguntei, com uma convicção inusitada.

No mesmo instante, o monstro virou-se para mim. Aquele questionamento tinha claramente o irritado.

- Quem você acredita que é para fazer essa pergunta?

- Do que você tem medo? - continuei, ignorando as palavras da besta. - Não poder usar o corpo de Alex é tão prejudicial assim pra ti?

O soturno nada respondeu, seu olhar permaneceu sobre meu rosto durante um curto tempo. Até que subitamente ele fez uma careta de dor. Ignorando a curiosidade de saber o que tinha feito ele reagir daquela forma, e acabar fazendo seus olhos desviarem na hora errada, continuei a encará-lo enquanto segurava sua cabeça com mais força. Eu não sabia o que estava ocorrendo, mas tinha certeza que eu não poderia, de modo algum, parar de fazer o que eu estava fazendo.

Conexão SombriaOnde histórias criam vida. Descubra agora