"Presente de grego"

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- É a sua vez, Danielle! - disse uma garotinha de cabelos curtos e castanhos. - Está com você!

Em seguida uma menina com o rosto cheio de sardas correu na direção contrária, fugindo de sua amiga que tentava alcançá-la esforçadamente.

O local o qual eu me encontrava era um parquinho de uma escola, com alguns poucos brinquedos presentes e um espaço livre meio extenso, que apresentava um gramado baixo e bem cuidado.

- Isso não vale! Era a minha vez! - um garotinho loiro exclama, em meio aos outros colegas, durante um jogo de tabuleiro.

Após olhar na direção do menino, percebi que, atrás dele (não muito distante), havia um outro que estava sentado, sozinho, encostado na grade deformada que cercava a área escolar.

Ele tinha um cabelo bagunçado, todo preto, que destacavam seus estreitos olhos da cor do mel.

Meu coração acelerou no mesmo instante que reconheci aqueles traços tão familiares.

Sem hesitar, caminhei até onde ele estava, com a ansiedade, incomumente, provocando tremedeiras em minhas mãos.

Contudo algo me parou. Um forte par de mãos seguraram meus pulsos sobre minhas costas, imobilizando-me totalmente há poucos metros de Alex.

Depois um grupo de meninos logo se aproximou do pequeno. Uma névoa negra rodeava o que aparentava ser o líder do trio.

- Sai daí. Você está sentado no meu lugar. - ordenou o ruivo, mostrando nojo em sua expressão.
- Não, eu cheguei aqui primeiro. - respondeu o moreno, indiferente.

Seguidamente o garoto pontapeou seu rosto agressivamente. Um fio de sangue formou-se no canto da boca do meu amigo.

- Se não sair, vou chutar você até que me obedeça. - ameaçou, apresentando uma convicção incomum para uma criança ainda muito nova.

Em uma fração de segundos, o pequeno solitário saltou para cima do provocador que o acertou, dando-lhe socos, um atrás do outro, sem fazer nenhuma pausa.

Na tentativa de chamar sua atenção, eu tomei a decisão de gritar. No entanto nenhum som foi emitido da minha boca.

Eu não conseguia falar e muito menos agir.

Apenas me era permitido assistir o moreno golpear o seu alvo impiedosamente, deixando seu rosto vermelho e inchado, com o nariz expulsando sangue das feridas internas, enquanto algumas crianças choravam e outras gritavam pelas professoras, afastando-se da briga.

A ira em seu semblante me deu calafrios que passaram por todo o meu corpo.

- Desculpa! Desculpa! Desculpa! - o ruivo berrava, tentando em vão se defender.

Não era uma criança que fazia aquilo. Não poderia ser.

Alguém estava causando tudo aquilo para que ele virasse o culpado.

- Céus! O que você está fazendo, Alex?! - esbravejou uma mulher de cabelos presos que se aproximou rapidamente. - Pare agora!

Enquanto a senhora retirava o menino de cima do outro, uma segunda pedagoga acudia este, que já se encontrava desmaiado e ferido.

- Por que você fez isso?! - questionou a loira, após prender o garoto nos braços e acalmá-lo prontamente.

Felizmente os olhos do moreno não emanavam mais toda aquela raiva. Mas por outro lado, a culpa e o cansaço preenchiam sua fronte.

Ele sabia o que tinha acontecido, então nem adiantaria tentar se explicar.

- Ele fez isso porque é louco! - vociferou um dos amigos do ruivo, irritado, mas evidentemente assustado também. - Ele queria matar o David!
- Não fale coisas desse tipo, Robert! - interpelou a professora.
- Mas é a verdade! - insistiu o menino.

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