Capítulo Nove

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A primeira coisa que faço ao chegar a casa dos Bridgerton é ir ao meu quarto com a desculpa de estar muito cansada. Não encontro ninguém pelo caminho, o que é bom, pois não saberia como explicar a expressão preocupada no meu rosto sem entregar o que está acontecendo. Ai! Como queria que Nina estivesse aqui pra me aconselhar. Mas ela não está, o que quer dizer que tenho que me virar sozinha.

Vou até o armário, onde poucos vestidos, todos antigos das Bridgerton, estão pendurados. Os afasto e pego minha bolsa. Jogo o conteúdo sobre a cama e olho tudo o que minha amiga colocou nela. Remédios pra alergia, gripe, duas seringas de adrenalina, que espero não usar, absorventes, que não vão durar pra sempre embora eu quisesse muito que durassem, remédio pra cólicas e... M&M's! Meus preferidos. Não vi ela comprando eles, mas são bem vindos agora.

Me jogo na cama. Vamos rever os fatos. Conheci um homem lindo no baile, um que fez meu coração acelerar e meu estômago dar voltas. Não sabia quem ele era, agora eu sei. Por puro azar, ele é o futuro marido de outra mulher, mas ainda não a conheceu. 

Suspiro e coloco mais alguns doces na boca.

E ainda tem o jantar. Ele podia ter convidado somente a mim. Mas não! Todos os Bridgertons serão convidados também. Não posso impedir que ele e Francesca se vejam.  E nem faria isso. Apesar de tudo, ninguém manda no coração. Mas...

Uma ideia me surge.

- É isso!

Eu não posso fazê-lo se apaixonar por mim, mas posso ajudá-lo com Francesca. Talvez assim seja mais fácil superar, afinal, quero que eles sejam felizes. Eles merecem.

*

No dia seguinte, meu humor não consegue se decidir entre o triste e o feliz depois da minha decisão. Mas não tenho tempo pra isso. O mensageiro chega e entrega o convite pra mim, que é estendido a família. Sorrio feito boba quando vejo isso. Pensei que seria ao contrário, afinal, não sou ninguém. Eles são os Bridgerton. 

Quando percebo minha reação exagerada, tento me controlar, lembrando da realidade.

O visconde aceita, claro, pois decide que será bom um jantar mais íntimo, onde os olhos curiosos não ficam espreitando, não que ele tenha dito com essas palavras. Mas foi o que interpretei.

- Vou ao escritório responder ao convite, pode fazer o mesmo se quiser, senhorita Ballard. E, se possível, gostaria de conversar com a senhorita.

- Claro, senhor. - Sorrio, um pouco envergonhada, pra ele, que assente e logo vai. Quando olho pra frente, Eloise está me olhando com as sobrancelhas erguidas. - O que?

- O Conde de Kilmatin? Quando isso aconteceu?

- Não lhe contei? Ele é o homem do baile. Nos encontramos no Hyde Park ontem e ele foi muito gentil.

- Ouvi dizer que é um bom homem. - A viscondessa fala. - Será um ótimo marido um dia. Não o deixe escapar, querida.

- Mas, senhora. - Entrelaço as mão na frente do corpo. - Ele é um Conde.

- Eu sei. É um ótimo partido.

- Mas eu não sou. Ele não poderia se casar comigo.

- Porque não? Meu filho, Benedict, acaba de se casar com uma moça muito gentil que, assim como a senhorita, pode ser considerada um péssimo partido, mas ninguém aqui se importa com isso. Tenho certeza que o conde também não se importa, ou não a convidaria.

- Verdade, Cat. - Eloise toca meu braço. - Ele deve estar interessado.

- Talvez. - Sorrio pra minha amiga.

Talvez seja verdade. Mas ele não se lembrará de mim depois que conhecer Francesca, por isso farei de tudo pra que isso não me afete.

. Olho pra Francesca, comendo tranquilamente ao lado da irmã, e penso se ela conversaria comigo sobre esse assunto. Mas deixo pra depois, tenho tempo de pensar numa forma delicada de abordar o tema. 

*

Bato na porta do escritório e espero uma resposta. Quando escuto um "entre" meio abafado, a abro lentamente e coloco metade do corpo pra dentro.

- Pode sentar, senhorita. - O visconde não olha pra mim, está concentrado em alguns papéis. - E encoste a porta, por favor.

- Com licença.

Faço oque ele pede e sento de frente pra ele, com a mesa entre nós. Enquanto termina, me permito olhá-lo com mais atenção. Edmund Bridgerton é um homem muito bonito, seu rosto quase não mostra os sinais da idade. Desvio o olhar quando ele deixa os papéis de lado.

- Então a senhorita conheceu o conde de Kilmartin. - Assinto - E está interessada nele?

- Senhor Bridgerton... Eu... - Eu estou morrendo de vergonha. - Eu sei que sou apenas uma desconhecida, que não tem família ou recursos. Mas não se preocupe, não vou fazer nada que possa prejudicar sua família.

- Está bem. Calma, senhorita. - Ele sorri. - Apenas quero saber se o interesse de Kilmartin é correspondido.

- Bom... - Sinto minhas bochechas quentes. - Talvez ele não esteja interessado. Talvez seja apenas uma gentileza, porque contei que são as únicas pessoas que tenho. Ele deve estar com pena.

- Não acho que é isso. Pena não faz um cavalheiro te chamar para um jantar. Provavelmente quer saber se a mãe e a tia dele a aprovam.

- Mas...

- E faremos de tudo para que aprovem. - Termina, me surpreendendo. - A senhorita está sob minha responsabilidade e é muito preciosa para minhas filhas, principalmente Eloise. Não a deixaria desamparada.

- Suas filhas?

- Sim. Hyacinth é jovem e impetuosa, ela gosta de sua forma de ser, de sua personalidade. E Francesca, apesar de não demonstrar muito, a admira muito. Disse que sua sabedoria a surpreende.

- Eu também a admiro muito. - Por isso não ousaria roubar o marido dela, mesmo que ele ainda não seja oficialmente. - Obrigada por tudo. Vocês são todos muito especiais para mim.

- Pedirei para que a acompanhem até a modista, assim terá algo novo para vestir. - Abro a boca pra recusar, mas ele não deixa. - Não se incomode com nada. É um presente. Ficarei ofendido se não aceitar.

- Então eu aceito. Obrigada, de verdade, senhor.

- Não precisa agradecer agora. Quando estiver ao lado do seu conde, pode fazer isso.

- Então tudo isso é uma tentativa de me mandar embora da sua casa? Agora, sim, estou entendendo. - Tento brincar.

- Como a senhorita descobriu? - Ele faz a melhor cara de surpreso. - Deveria saber que descobriria. É muito inteligente.

- Obrigada. - Sorrio. - Se o senhor não tiver mais nada a dizer, gostaria de me retirar.

- Claro. Falarei a Violet para que se encarregue de te levar a modista.

- Está bem. Com licença.

Saio com um sorriso no rosto. John pode até não estar destinado a ser meu, mas com o jantar posso me aproximar e te certeza de que ele encontre sua felicidade. Que é Francesca. Vou continuar repetindo isso até meu coração bobo aceitar o que meu cérebro já sabe.

Era uma Vez... Os BridgertonOnde histórias criam vida. Descubra agora