Capítulo Dois

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Depois de uma noite mal dormida e muita reflexão da minha parte, decido esperar até chegar no colégio pra poder falar com a Nina. Assim ela me ajuda a entender o que aconteceu. Ou surta junto comigo, o que é mais provável. Afinal, estou tão aérea que quase atropelei um poste no caminho. E ela, que é mais paranoica que eu, como será que vai reagir?

Prendo a bicicleta na lateral do prédio, quando vejo minha amiga chegando. Ela sorri pra mim ao descer da própria bicicleta, então se aproxima.

- Oi. O que aconteceu ontem a noite? Te mandei mensagem mas você não respondeu. - Ela troca a mochila de ombro. - Tava lendo?

- Não. Quer dizer... - Seguro no braço dela e olho pro lado. Vai que escutam e chamam alguém do manicômio. - Aconteceu uma coisa muito estranha.

- Como assim?

Conto pra ela tudo o que aconteceu depois do meu desequilíbrio na escada. Nina não diz nada, apenas me escuta e assente de vez em quando. Quando termino, procuro algum sinal no seu rosto. Se ela já começou a me achar louca.

- Tem certeza que não foi um sonho?

- Não. Mas se foi, como eu não me machuquei da queda na escada e como apareceu essa marca de picada no meu ombro?

- Não sei. Eu penso e penso em alguma coisa lógica, mas não consigo encontrar nada que justifique.

- Nem eu. O que só nos deixa uma opção. Apelar pra ficção.

- Quer dizer que você realmente viajou no tempo, é isso? Que aquela garotinha era a Daphne e o homem com quem você esbarrou era o pai dela?

- É. - Sorrio. O que ela disse me deu uma ideia ótima. - É isso! Nina, é isso! - Seguro os braços dela.

- Isso o que?

- Edmund faleceu quando Daphne tinha dez anos, certo? - Ela assente. - Eu acho que quando eu voltei foi justamente no dia em que ele morreu. Vamos procurar na internet e ver se alguém da família registrou algo sobre esse dia. Assim sabemos se aconteceu ou não.

- Claro. Você não deveria estar lá, então deve ter mudado algo, mesmo sem fazer nada proposital.

- Exatamente. E acho que ver uma moça de calça jeans não era comum naquela época. Então deve ter alguma coisa.

Abro o navegador e digito : Edmund Bridgerton. Várias páginas aparecem, todas contando sua história. Clico na primeira, o blog de uma historiadora muito conhecida. Leio apenas o início da matéria e fico chocada com o que leio.

- Que cara é essa? Não teve nenhuma mudança? Era só paranoia sua?

- Veja por você mesma.

Entrego o celular pra ela, que demora tempo demais pra ler. Quando termina, me entrega o aparelho em silêncio. Tão perplexa quanto eu. Então, de repente, abre um sorriso enorme e me abraça.

- Amiga! Você... Você sabe o quanto isso é demais? Meu Deus. Você salvou o pai deles. Aquela abelha...

- Seria a morte dele. Eu não acredito. Ele não morreu naquele dia.

- Graças a você, Cat. - Seus olhos se enchem de lágrimas. - Por sua causa ele pôde criar os filhos, conhecer a Hyacinth. Viver com o amor da sua vida. Isso é incrível. - Ela limpa um lágrima. - Como fez isso?

- Eu não sei. - Falo, ainda em choque com o que li.

- Seus pais vão estar em casa essa tarde?

- Não.

- Então nós vamos descobrir o como. Pra fazer você voltar no tempo de novo.

*

No fim das aulas, saímos correndo pra chegarmos logo em casa. Ainda acho uma loucura, mas tentar não custa nada.

- Espera! Temos que estar preparadas caso dê certo. - Nina para de andar.- Vamos fazer compras.

- O que quer dizer com se preparar? Porque eu só tenho 30 libras.

- Não se preocupe. Você vai ver.

Ela começa a pedalar na minha frente então a sigo, logo após dar um longo suspiro. E eu ainda tenho coragem de me reclamar por só ter ela como amiga. Mais uma dessa e eu já estaria internada.

Vamos ao centro, compramos babosa, alguns remédios, um vestido simples e seguimos pra casa dela. Eu fico na sala conversando com a senhora Carlyle enquanto Nina sobe até o quarto. Ela não demora e, quando estamos de saída, diz a mãe que volta antes das seis.

- Aqui, coloca na bolsa. - Ela me dá uma seringa.

- O que é isso?

- Pro caso do senhor Bridgerton encontrar outra abelha. Mas acho que se você não mudar nada relevante isso não vai acontecer.

- E como vou saber o que é relevante? Parei no segundo livro. E muita coisa mudou depois do que eu fiz.

- Tem razão. Vamos pensar nisso depois.

Depois, certo. Mas não é como se fosse acontecer de novo.

Andamos em silêncio até a minha casa. Então comemos algo e depois vamos até o sofá, onde tudo começou. Pelo menos é o que Nina acha.

- Me mostra exatamente o que você fez antes de tudo acontecer.

Refaço meus passos até parar no meio da escada.

- Aqui eu me desequilibrei e caí. Tecnicamente, claro. Quando abri os olhos já estava lá.

- Talvez se você cair de novo...

- Nem termine essa frase. Eu não vou me jogar da escada só pra provar uma teoria.

- Eu posso te jogar. - Faço uma careta pra ela. - Brincadeira. - Nina se joga no sofá. - Fiquei sem ideias.

- É, parece que o que aconteceu foi um evento único.

- Parece. - Ela olha no relógio da parede. - E parece que eu tô atrasada. Tenho que ir. Amanhã tentamos de novo.

- Você ainda quer continuar com isso?

- Você não? - Ela segura meu braço, sorrindo. - É a coisa mais incrível que já nos aconteceu. - O sorriso dela diminui. - Te aconteceu.

- Há controvérsias.

- Até eu ter essa experiência única, não tem, não. - Nos abraçamos. - Até amanhã.

- Até. Manda mensagem quando chegar em casa.

- Mando, sim. Tchau.

Aceno pra ela enquanto atravessa a rua. Quando desaparece na esquina, fecho a porta e recolho a bolsa com tudo o que compramos, então subo para o meu quarto. Tiro o vestido, que é de um lilás lindo, e realmente parece com algo usado na época da regência, mas não idêntico. O coloco na frente do corpo.

- Ah. Porque não?

Tiro as roupas que estou usando e o visto. Me sinto como se fosse tomar um chá com as amigas, encontrar um pretendente, ou apenas passear no parque. Como eu queria que isso acontecesse. Pego um dos livros da minha coleção. Sorrindo.

- Parece tudo tão fácil pra vocês. Gostaria de ter o mesmo. Ter alguém pra chamar de meu.

Deito na cama e fecho os olhos. Estou com tanto sono. Não devia ter ficado a noite inteira acordada por causa de uma bobagem. Mas estaria mentindo se dissesse que não gostaria que acontecesse de novo. É a última coisa que penso antes de dormir.

Obrigada por ler até aqui. Continue acompanhando porque as aventuras da Cat só estão começando. Também não se esqueça de votar e comentar pra que eu possa saber se está gostando. Beijão! Até o próximo capítulo.

Era uma Vez... Os BridgertonOnde histórias criam vida. Descubra agora