𝟑𝟗.

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A garota chorava seus olhos fora. Não só chorava, como gritava também.

Tudo ao redor era escuro e empoleirado. Não era mais a casa em que eu era acostumado a morar e passar os dias com minha família.

Era tudo muito escuro e empoleirado.

A garota de cabelos castanhos encaracolados estava aos pés de Bellatrix. Ela tentava voltar a uma respiração controlada mas falhava mais uma vez ao ter de se recompor da Maldição Cruciatus.

Chorando mais uma vez. Dizendo que não tinha pegado a verdadeira espada de Godric Gryffindor. Sua respiração voltava a ser acelerada quando minha tia apontava a varinha em seu rosto. Ao grunhir mais uma vez por aguentar a dor que erradiava todos os músculos sem piedade.

E aquilo foi minha estúpida culpa.

Era por minha culpa que Hermione chorava da dor agoniante, porque eu não tive a simples capacidade de mentir na frente deles, dos meus pais, dos Comensais.

Não consegui contar que não, aquele não era Harry Potter e seus amigos.

Um simples não saindo de minha boca e os três iriam embora. Não haveria tempo a postergar e nunca reparariam naquela maldita espada estranha.

Eu agarrava desesperadamente a madeira da pequena mesa onde eu estava. Tentando conter o pânico que sobressaia em meus olhos. Até que Bellatrix se aproximou do antebraço de Hermione.

Os soluços de agonia foram interrompidos por gritos, e os olhos da grifana que um dia eu ousei desdenhar se tornaram um borrão de dor.

Mudblood - em seu braço, letras garrafais escritas por rasgadas na pele que agora estava coberta de sangue...

Depois daquele dia eu tive certeza que não aguentaria mais isso.

Não aguentaria mais nada.

Não aguentaria ao menos olhar para o carimbo marcado no meu próprio corpo.

Mas eu aguentei.

Aguentei no dia seguinte quando Voldemort descobriu que Harry Potter esteve lá. Quando ele puniu todos por isso.

Quando ele me chamou para as consequências. E quando ele riu do trabalho feito ao final.

A mão delicada segurou a minha em um gesto simplório. Fazendo meus olhos desviarem da Granger em minha frente. E voltarem-se para Astoria.

Os olhos verdes suavizados me encaravam sem desvio, neles parecia que as palavras Tudo bem? miravam para mim.

Eu acenei de leve para ela e a garota soltou nossas mãos. Apoiando os cotovelos na mesa redonda que todos os monitores compareciam, uma habitual expressão de tédio recaiu em seus olhos esmeraldas.

Agora eu reparava, Miles Bletchley também estava ali, e uma cara de apreensão tomava suas expressões.

- Não vamos tomar muito do tempo, eu sei que as aulas voltaram hoje e temos muitos afazeres ainda - soou Granger ao se aproximar da mesa.

𝐂𝐫𝐚𝐳𝐲 𝐢𝐧 𝐋𝐨𝐯𝐞 ; drastóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora