CHAPTER TWENTY TWO, VERLÉIEREN

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      — Não sei o que esperar — digo, encarando o céu e as árvores acobreadas que se erguem ao nosso redor

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      — Não sei o que esperar — digo, encarando o céu e as árvores acobreadas que se erguem ao nosso redor. — Achei que o fantasma de Daphna já estava enterrado.
      Fierce suspira, colocando a mão entre os raios de sol e o rosto confuso. Até mesmo seus movimentos são lentos, moldados por leves espasmos.
      — Não tenho muitos palpites, mas os que possuo não são exatamente agradáveis.
      — Como o quê, por exemplo?
      Ele deixa a mão cair sobre o peito, incapaz de mantê-la erguida por muito tempo.
      — Não quero criar esperanças. Mas ao mesmo tempo é inevitável.
      — Eu estava lá. — Pisco com a claridade que invade meus olhos. — Vi quando aconteceu. Se as flechas não a mataram, o machado o fez. Ela não vai voltar.
      — Eu sei, eu sei. Mas existe uma parte dentro de mim, uma faísca minúscula que não me deixa perder a esperança. É cansativo tentar apagá-la.
      — É difícil, não é?
      — O quê? — Sua voz sai rouca, entre uma tosse e outra.
      — Permanecer inteiro. Não deixar o caos assumir o controle.
      Ouço a risada tossida, mas quando olho para o rosto onde luz e sombra dançam com o movimento das folhas nas árvores, Fierce parece longe demais. Aqui, e ao mesmo tempo em algum outro lugar para o qual não fui convidada.
      — Ironicamente, a confusão sempre me acalma mais que a calmaria. É mais fácil para mim.
      Enterro os dedos nas camadas de folhas úmidas sob mim. O som da água correndo metros abaixo de nós é tudo o que ouço por alguns instantes.
      — Não deveria ser assim. Para nenhum de nós. — Suspiro, e minha respiração se condensa diante de meus olhos. — Você precisa ser muito ferrado para encontrar paz em algo tão caótico.
      — Se fôssemos buquês de flores, não estaríamos aqui, para início de conversa. Caos acalma caos. É instantâneo. — Fierce pega uma folha vermelha, a girando entre o polegar e o indicador. — Jogue um coelho fofinho em uma fogueira e ele morrerá. Jogue um pedaço de brasa pegando fogo, e quase nada vai mudar. É mais fácil entender o caos quando você faz parte dele.
      Caos acalma caos.
      Não foi exatamente o que aconteceu comigo na arena, muito menos no vilarejo, ou na floresta com aquelas pessoas armadas até os dentes. Mas irei me lembrar disso.
      — E se eu jogar um balde com água na fogueira?
      — Então você apagaria o fogo, consequentemente resolvendo o problema. Mas não entenderia o que o causou. — Fierce dá de ombros, fazendo um biquinho ridículo.
      Ele solta a folha carmesim, que é carregada por uma brisa até meu pé. Eu a chuto, mas a natureza-morta gruda na sola de minha bota, e desisto de tentar me desprender do singelo pedaço da floresta acobreada.
      — Você gosta mesmo desse tipo de conversa, não? Com metáforas confusas e essas coisas. — A única resposta que recebo é um riso desconcertado de um Fierce quase adormecido. — Minha mãe provavelmente adoraria te conhecer.
      — Nos apresente, então.
      A frase faz minhas pálpebras tremerem por alguns instantes, mas não o culpo. Está bêbado demais para se lembrar, ou ao menos perceber o que saiu da própria boca.
      Não sei o que havia dentro daquela garrafa na cidade, mas se Fierce ficou assim com apenas alguns goles, me pergunto o que teria acontecido comigo se eu tivesse bebido da taça de cristal.
      — Vamos — digo, me levantando com cuidado. — Antes que Icca descubra que você andou gastando o dinheiro dela.
      Fierce solta um grunhido conforme o puxo para cima pelo braço mole, praticamente o arrastando para fora da rocha escorregadia.
      — Fiz isso nos últimos dias — sussurra ele. — Como acha que sobrevivi por aqui? Viemos para cá sem nada. Icca é praticamente nossa mãe enquanto estivermos longe de Rosetrum.
      — Faz sentido. — É tudo o que consigo responder.

Crimson Hauntings and Oath Shadows - CHAOS (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora