CHAPTER THREE, FOLIE

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      O Folieci é amanhã, e o prazo da aposta entre Eden, Macaire e Pluvia acaba quando a lua ceder seu lugar no céu para o sol

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      O Folieci é amanhã, e o prazo da aposta entre Eden, Macaire e Pluvia acaba quando a lua ceder seu lugar no céu para o sol.
      A idéia de comemorar o Folieci não me faz querer pular de alegria, mas acende uma chama de distração na minha alma. Um dia e uma noite recheados de música e dança não vão me machucar, muito pelo contrário, podem me ajudar a esquecer meu papel de coveira no cemitério aos pés da macieira, e vai ser bom ter um momento feliz entre tantos tropeços. Afinal, quando meu crânio estiver em uma pilha de ossos chamuscados, não vou poder fazer muita coisa além de queimar no inferno.
      — Ela não vai saber de nada — sussurra macaire, discreto como o bater enfurecido de uma porta.
      — Pluvia não é burra — comento. — E os dois sabem o que vai acontecer se ela descobrir.
      O plano para o qual eles praticamente me arrastaram tem tantas chances de funcionar quanto um gato tem de voar. Me prometeram uma semana longe dos afazeres domésticos e, embora eu não me importe em me distrair limpando as janelas, coopero à risca com os passos mirabolantes que só podem funcionar na cabeça de Eden.
      — Se der certo, você também sai ganhando, Ophelia. — O apelido me faz lembrar de uma vida perdida.
      — Se der errado, nós três perdemos.
      — Nós quatro — lembra Macaire.
      Apza é a chave para o sucesso do plano. Para ser sincera, ela é o plano. Como uma aprendiz de feiticeira e amiga próxima, seu nome foi a primeira coisa que saiu da boca de Eden quando decidiu me envolver na trama. 
      A garota abre a porta do quarto com um único estalar de dedos, e o clique surdo precede o rangido estridente que ela logo dá um jeito de silenciar, se esgueirando pela escuridão do quarto de Pluvia. As asas das mariposas em seus olhos parecem farfalhar enquanto ela desaparece nas sombras.
      Ao meu lado, Eden e Macaire se preparam para tomar todo o crédito da armadilha, enquanto me seguro para não abrir a boca e acabar com a brincadeira.
      Sequer preciso estar aqui, considerando que minha parte no plano fora algo tão mínimo – uma semana de folga, por um simples medo de Pluvia –, mas eu não perderia a chance de assistir tudo em primeira mão. É claro que uma única semana livre não vale o terror dela, mas esse é outro motivo pelo qual estou aqui, para colocar uma barreira entre eles quando as coisas saírem do controle – ou ao menos para garantir que ela consiga uma vingança instantânea sem maiores danos. Minha torcida não está em nenhum dos lados dessa aposta, mas será divertido assistir.
      Apza estica as mãos na escuridão, e consigo ver as sombras que brotam de seus braços, criando formas sólidas, vivas, enquanto abro a janela do quarto para quando o espetáculo tiver fim.
      O farfalhar de asas ecoa pelo cômodo, e a noite de Pluvia está prestes a ser oficialmente arruinada. Assim que os vultos começam a dançar na escuridão, Apza desliza como um gato para o corredor, passando pelos garotos com uma risada tênue antes de desaparecer na curva entre os quartos. Ela não fica para ver o escândalo, e certamente comprometeria a trapaça se o fizesse, mas tenho certeza de que desce pela árvore com vagareza, esperando pelos gritos.
      No momento em que eles começam, a culpa desce pela minha garganta com um gosto ácido, mas não consigo controlar uma risada. Pluvia bate na própria cabeça, tentando se desvencilhar dos morcegos que rodopiam sobre os ombros magros. Em menos de dez segundos, as luzes da casa se acendem como faróis, anunciando a entrada desesperada de Fierce, que passa por Eden e Macaire com uma confusão genuína nos movimentos apressados. Contudo, Pluvia o derruba com um empurrão conforme corre para fora do quarto ainda em pânico, despistando os morcegos que saem pela janela aberta atrás de mim, seguindo um rastro invisível de magia que devem sentir pulsando no ar gélido da noite.
      Outro grito esganiçado ecoa pela casa, fazendo os pelos de meu corpo se arrepiarem com o som cortante. Quando termino de trancar a janela e finalmente me viro, encontro Fierce encarando a cena com os olhos esbugalhados, enquanto parece divido entre se levantar e permanecer no chão.
      — Ela... O que... — As palavras se embaralham em sua língua, despencando garganta abaixo quando ele desiste de tentar se comunicar.
      Apenas cruzo os braços, me permitindo um riso malicioso ao encarar a porta aberta e as três figuras além dela.
      — Hoje, meu amigo, cabeças irão rolar.
      Algo em seu olhar muda quando fecho a boca.
      Amigo. Mesmo depois do que houve mais cedo. Me repreendo por não vigiar minha língua com mais cuidado, mas não retiro o que disse. Há certas coisas que simplesmente não posso fazer.
      Pluvia não está mais gritando. Na verdade, os únicos gritos que ouço são os de Eden e Macaire, ambos sendo estapeados pelas mãos ferozes da garota.
      — Como eles conseguiram morcegos para fazer isso? — pergunta Fierce.
      Em resposta, apenas levanto as mãos, desempenhando meu papel de desentendida.
      — Eu. Vou. Matar. Vocês — rosna Pluvia, as mãos já vermelhas e provavelmente doloridas.
      — Espero que você esteja preparada para seguir minhas ordens durante uma semana — arqueja Eden, com as mãos sobre o rosto em uma tentativa inútil de se proteger.
      — Ah, eu vou fazer de suas vidas um inferno! — ela grita em resposta.
      — Você deu sua palavra! — retruca Macaire.
      — O que está acontecendo aqui? — A voz de Edmond sobrepõe o escarcéu, os passos pesados ecoando pelo corredor.
      — Não é dá sua conta, Emrel — rosna Pluvia. — Está tudo sobre controle — ela diz, desferindo outro golpe contra Macaire.
      Não ouço sua resposta, mas imagino que esteja assistindo com um sorriso no rosto enquanto o trio se desfaz em um coro de gritos furiosos e risadas doloridas.
      — Já deu — Fierce interrompe o espetáculo com uma expressão séria. — Não tem como honrar a aposta se eles estiverem mortos.
      Ela se levanta com relutância, o fôlego escapando dos pulmões conforme respira com dificuldade, desferindo um último soco no estômago de Eden, que aperta os lábios em uma linha fina com a dor.
      — Essa é a intenção.
      Olho para os dois no chão. Macaire sofreu menos danos que o amigo. Eden está encolhido como uma criança, entre o riso e o orgulho ferido. Acho que apanhar da garota pela qual ele claramente nutre sentimentos não estava em seus planos para a noite. Mas ele sabia que isso ia acabar assim, de um jeito ou de outro. Pluvia não cairia do penhasco sem arrastar os dois junto com ela. Uma humilhação por outra.
      — Pode enterrá-los lá fora — sugere ela, bufando enquanto anda na direção da cama e se enfia sob os lençóis novamente. — Não me importo.
      Os cabelos negros estão embaraçados e a pele pálida adotou um tom avermelhado. A franja está uma bagunça, e os olhos cinzentos parecem prestes a incinerar o primeiro que disser uma palavra sobre o ocorrido. Então me limito a sair pelo corredor, pulando entre os corpos cheios de hematomas que ainda se recompõem no chão gelado.
      Eden tenta se levantar entre os gemidos. Fierce, porém, não facilita, forçando seu ombro para baixo novamente ao passar por ele. Um pequeno gesto de vingança pelo sono roubado.
      Não sei dizer se eles ganharam a aposta, ou a perderam. Mas me lembrarei de reivindicar meu prêmio durante a semana que me aguarda pela frente.

Crimson Hauntings and Oath Shadows - CHAOS (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora