CHAPTER SEVEN, TENEBRARIUS

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      As abelhas não me mantém distraída o suficiente, e preciso de tinta para começar a pintar o quarto de Edmond

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      As abelhas não me mantém distraída o suficiente, e preciso de tinta para começar a pintar o quarto de Edmond. Ele ainda tem sumido durante a tarde, mas pelo menos parece estar terminando o que quer que seja seu projeto secreto.
      As abelhas se acumulam em meus braços, roçando a pele nua e se aventurando entre os fios soltos, vagando ao meu redor como se eu fosse uma colméia. Elas não podem me ferir, graças ao chapéu branco que mais parece uma margarida gigante em minha cabeça, cortesia de Mavka. O chapéu é encantado para me proteger enquanto trabalho, e as abelhas apenas circulam pelo meu corpo se eu fosse o tronco de uma árvore.
      É irônico não levar uma ferroada sequer, depois de tanto tempo acordando com uma dor aguda na casa do vilarejo, mas aprendi a contemplar o zumbido incessante das asas ágeis e dos corpos listrados de preto e amarelo no dia em que percebi que isso me aproxima de casa.
      Fecho o último pote, o colocando junto aos outros. O tilintar do vidro ecoa por alguns instantes ao se chocar com tantos outros na cesta cheia de flores, e algumas abelhas circulam as tampas fechadas, bisbilhotando o próprio trabalho.
      Em Rosetrum, o trabalho é dispensável, mas isso não impede a praça de existir. Temos tudo do que precisamos para viver sem maiores esforços, porém as geleias e o mel puro me deixam feliz, são coisas que fazem com que eu me sinta útil, de alguma forma.
      Com Edmond, é diferente. Ele trabalha de verdade, as pessoas precisam dele de verdade na enfermaria, onde os curandeiros cuidam dos recém-chegados, ajudando com as feridas expostas e as internas, que ficam cravadas na mente. Porque a magia não é a resposta para tudo e, mesmo que fosse, usá-la com tanta frequência traria consequências pesadas demais.
      Estalo a língua no céu da boca, e as abelhas desgrudam de meu corpo, sacudindo as asas para longe. De canto de olho, posso ver a única outra pessoa idiota o suficiente para escolher cuidar de colméias ao invés de ficar lendo um livro o dia todo, apenas aproveitando a paz que a terra dos refugiados nos oferece.
      — Já vai? — Kaife ergue uma sobrancelha.
      Ele também fornece para Ammar, mas na maioria das vezes só vem aqui para se perder no meio dos zumbidos incessantes e das plantas. E eu estaria mentindo se dissesse que não faço a mesma coisa.
      Não sei muito sobre o rapaz cujas veias escuras e exageradamente marcadas ainda me causam uma repulsa que luto para controlar, porém posso imaginar algumas coisas. Afinal, ele parece ter afinidade com as construtoras amarelas, sempre me ensinando algo novo em relação à rainha da colméia ou simplesmente distribuindo curiosidades sobre as abelhas.
      — Preciso de tintas novas — declaro, enganchando o braço na alça da cesta com um sorriso gentil. — E não vou encontrar os materiais necessários aqui.
      Kaife também usa um chapéu encantado, apesar de o seu parecer uma begônia esticada acima dos fios pretos. Em seu pescoço, um amontoado de asas vibrantes se estende pela pele fina, quase como se as abelhas tentassem entrar em uma colméia.
      — Que tipo de coisas? — Ele desvia o olhar, organizando os potes na própria cesta.
      — Areia, açafrão... coisas — respondo, dando os primeiros passos para longe.
      Kaife apenas torce o nariz diante de minha resposta vaga. Mas o garoto está um tanto amigável hoje, utilizando de uma simpatia que ele normalmente mantém para si.
      — Você não apareceu mais nos jogos. — Sinto a desconfiança em sua voz. Outra corda bamba para me equilibrar. — Não gosta mais de nós? — Para a minha surpresa, ele ri sem qualquer ironia.
       Os jogos semanais. Não participei de nenhum desde que cheguei em Rosetrum. As competições mudam conforme as semanas, mas meu humor tem permanecido podre durante todo o mês que passou voando diante de meus olhos.
      — Vocês são entediantes demais para mim. — Torço o nariz, fazendo uma careta que arranca outra risada de sua boca.
      — Presumo que não estará lá hoje, então.
      — Não sei — admito, me sentindo um pouco culpada por não fazer o mínimo esforço.
      Kaife não é o primeiro a notar minha ausência, e provavelmente não será o último. É esperado que os recém-chegados tentem se enturmar, não que escapem na primeira oportunidade e se isolem como animais ariscos. Eu deveria ir. Deveria aproveitar o tempo que me resta.
      Eu deveria fazer muitas coisas.

Crimson Hauntings and Oath Shadows - CHAOS (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora