Cap 35

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Na saída, eu espero Error no portão. Enquanto olho para a multidão, consigo ver seu rosto na pouca luz de sol que chega em seu rosto. Nesse momento, consigo observar todos os detalhes. As folhas estão caindo enquanto o tempo passa, ele sorri de forma simpática para sair de perto de algumas meninas, deve ter dado alguma desculpa esfarrapada. Naquele momento ele se vira para mim e sorri, um sorriso verdadeiro. E percebo que ele estava meio corado. Eu poderia ter morrido direito ali. Aquilo tinha sido o suficiente.
-Hey, tintinha.
-Vamos?-pergunto dando de ombros.
-Vamos.-ele diz andando em minha frente.
Andamos em silêncio, e no meio do caminho eu olho para ele de relance. Error está meio hesitante, mas eu não ia recuar agora. Ele disse que me ajudaria, então é isso que ele vai fazer.
Chegando na casa da árvore, eu começo a subir, assim que chego deixo minha mochila de um lado.
-Voltando a casa da árvore.
Error diz enquanto eu corro até as escadas.
-Okay,-me viro para a escada e vejo ele subindo-por onde começamos?
Ele joga a mochila para o outro lado e suspira dando de ombros.
-Hum... Não tenho muita certeza.-ele olha ao redor-Faz tempo que não gosto de relembrar daquilo...-ele olha para mim de novo-Acho que posso começar com uma pergunta...
-Huh?-inclino minha cabeça de leve.
-Tem medo de altura?
Me viro para trás e vejo a janela.
-Hum... Eu...
-Vo-Você t-têm I-Ink?
Me viro para ele, que literalmente parece estar bugando.
-E-Error?
Dou um passo para trás recuando e começo a cair. Grito desesperado. Até que percebo que minhas roupas mudaram. Fico mais assustado e minhas lágrimas caem.
-O QUÊ EU FIZ PRA MERECER ISSO?
Viro meu corpo para o chão, seja lá o que for me matar, quero ver isso de frente. Era uma pedra cheia de neve. Fico de olhos arregalados e mais confuso.
-O quê...?
Assim que caio sinto ela acertar meu coração, e ao invés de vomitar sangue, eu vomito tinta. Não consigo me mexer, apenas ouço alguém chamar meu nome.
-INK! INK! SR.COMYET!

Assim que levanto minha cabeça eu começo a ficar ofegante.

"Foi só um sonho?"

Coloco a mão no meu coração e o sinto bater. Suspiro aliviado.
-Estou bem...
-Não, não está!-olho a professora que está bastante zangada e engulo seco-Está bastante encrencado, você deveria ser um exemplo, Sr.Comyet!
-Sinto muito...-coço a nuca.
-Dá próxima vez levará uma advertência.
-Compreendido.
-Agora leia o primeiro parágrafo do texto.
-Sim, senhora.
Faço o que ela pede.
Estamos na última aula, eu devo ter dormido por ter passado a noite acordado tentando terminar um desenho, dormi bem, mas não o bastante. Ainda mais depois dos eventos do intervalo.

No fim da aula, estou arrumando minhas coisas, e sinto alguém colocar a mão no meu ombro e me assusto.
-Relaxa, tintinha.
Suspiro.
-Desculpa...-olho para o chão e volto a arrumar minha mochila-Ainda vai me ajudar?
-Cumpro minhas promessas.
-Certo...-falo hesitante me lembrando do meu pesadelo.
Não apenas meu medo de altura tinha aido recordado nele, mas também meu medo de lugares vazios. Sem ninguém pra ajudar, sem nada pra olhar. A própria escuridão, mesmo se o lugar for claro, ele ainda é aterrorizante.
-Algo aconteceu? Você não dorme na aula.
-Eu tô bem.-coloco minha mochila nas costas-Só vamos logo, tenho trabalho mais tarde.
-Claro.
Vamos até a saída em silêncio, e assim continuamos até a casa da árvore. Ambos ficamos parados nas escadas.E eu vejo isso chegando, o momento em que terei que subir as escadas e ver a casa por dentro. Não é tão convidativo. Quando chegamos, o céu azul parece estar me chamando, eu estou com tanto medo de cair.
-De volta a casa da árvore...
Ele diz.
-De volta a casa da árvore.
Digo meio hesitante.
-Não vai subir?
-Vai você primeiro, as damas têm esse privilégio.-digo tentando parecer com que estou mexendo com ele.
Ele dá risada.
-Então eu sou uma rainha.-ele sobe as escadas.
Engulo seco, mas vou atrás dele.
Quando entro, percebo coisas que não vi antes. Em uma das paredes, colamos fotos e desenhos nossas, a maioria dos desenhos são meus. E as fotos foram tiradas por Geno, ele gostava de fotografia na época.
-Wow... Quanto tempo não via isso.
Ele diz apontando para uma foto de nós três na praia. Fresh sorria quando via eu e Error trocando olhares competitivos. Na época era mais uma brincadeira do que uma competição real.
-Verdade...-me aproximo-Você era menos cuzão comigo.
Ele dá uma risada.
-Nossos planos foram deixados nesse dia...-ele diz parecendo meio melancólico-Foi quando a gangue se desfez...
-Foi quando começou, a se desfazer.-dou ênfase no começou.
A gangue foi desfeita quando eu saí do hospital com a perna quebrada. Minha mãe disse que eu caí da casa da árvore desenhando na janela, mas não me lembro disso. E não quero questiona-la sobre isso. Acho que não vale a pena.
Só sei que antes disso, vivíamos em bicicletas, sem nos importar se caímos ou se deixavam os nossos sapatos com a sola gasta. Nós fixamos nossos olhos naqueles pisca pisca de Natal, até cairmos no sono e não conseguíamos ver o Papai Noel. Nós não achamos que sairíamos vivos de várias brigas, ou te todas aquelas montanhas-russas que nos traziam aquela adrenalina constante. Fomos crianças até o momento que pudemos.
-É... Nós nos reorganizamos, mudamos junto das estações.
Coloco minha mochila no chão.
-Foi como se...-procuro uma metáfora na minha cabeça-Como se a gente pulasse a praia e fosse direto pra casa.
-Um verão sem praia não faz sentido.-ele diz olhando para mim dando uma risada.
-Exato.-dou de ombros com um sorriso.
Error suspira e deixa a mochila no chão.
-Bem, vamos começar a busca?
-Hum...-olho para uma prateleira ao meu lado-Acho que não olhei ali.
-Pode olhar, mas não vai achar nada além de revistas velhas.
Olho para ele e cruzo os braços.
-Vai me ajudar?
-Posso cantar pra você enquanto procura.-ele diz se sentando no chão.
-Ha...-olho para o teto e fecho os olhos-Você disse que me ajudaria!
-Te dar entretenimento é minha ajuda.
-ERROR!-olho pra ele irritado.
-O que esperava? Roubou minha pulseira!
-E você me sabotou!
-Como se isso importasse.
-Importa, sim! Isso têm a ver com minha vida também, caralho!-bato o pé.
-Own, o neném vai fazer birra.
Respiro fundo.
-Tudo bem, vossa alteza, não precisa me ajudar.
Vou até a prateleira e procuro alguma coisa entre as revistas. E acabo achando um papel.
-Ha! Toma essa!-digo mostrando o papel para ele que dá de ombros.
Abro o papel que estava dobrado e eu fico paralisado. Era um mapa. O mapa da cápsula do tempo.
-Então, o que é sua pista?
Ele pergunta e eu dobro o papel novamente e coloco no bolso.
-Não ajudou não vai ver o que é.
-Tanto faz.
Error continua olhando para o celular, talvez procurando uma música para cantar para mim.
Continuo procurando algo, mas que seja útil.
No final eu estou deitado olhando para o teto, cansado, e desapontado.
-Mas que merda...
-Não foi o que você esperava?
-Nem um pouco.-me sento e abraço meus joelhos.
O silêncio fica por alguns segundos, e percebo que ele estava tentando tomar coragem. Já que ouço ele tomar fôlego.
-Por que não tenta olhar perto da janela?
Me viro para ele confuso. Mas assim que ele percebe meu olhar, desvia o dele para o celular.

O Lado Complicado de Amar Seu inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora