Cap 50

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Me permitam descrever a cena: 
Eu tinha acabado de sair da casa do Dust, onde aconteceu a festa de Halloween. Estava com a chave do Rover da minha mãe na mão. Mas eu não fui embora. Porque a chance de existir um "nós dois" me mantém acordado a noite toda. Deixei uma mensagem antes de vir para ele mas ele não leu a noite toda.

"Isso pode ser um desastre! Tem tantos fatores! Eu já fodi com um capítulo crítico! Aquele que ele diz 'eu te amo', mas eu não falei nada!"

Eu não sei o que fazer, porque a porra dessa noite realmente mudou tudo, mas também trouxe uma confusão entre nós dois. De novo. E ele prometeu. Error disse que não mentiria, naquela hora eu dei abertura pra ele me contar seja lá o que ele quisesse. Mas de novo, ele mentiu. Ele escondeu que naquele dia. Na porra daquele dia ele não estava bêbado!
Irritado e confuso eu entro no carro e dirijo até em casa. Pelo retrovisor, vejo a maquiagem ao redor dos meus olhos um desastre por causa do choro, e vejo a silhueta de Error se distanciando enquanto o carro ganhava velocidade.
-Filho da puta.-murmuro e me concentro em dirigir.

Antes de continuar a narrativa, acho que entender como cheguei nesse ponto é importante. 
Desastres não acontecem do nada, nem mesmo os desastres naturais acontecem do nada. Para um tsunami acontecer é necessário deslocamento de uma falha no assoalho oceânico, uma erupção vulcânica ou a queda de um meteoro, a qual transfere as ondas de choque para a água fazendo com que grandes ondas sejam formadas. Um tsunami, na verdade, são ondas múltiplas que se propagam pela água, e essas ondas, causam desastres e mortes. Acabam com toda a vida ao redor. 

Naquela quinta-feira, eu acordei com duas perguntas. Uma delas era: Qual fantasia eu vou usar? E a segunda foi: Onde é a festa?
Chegando na escola, notei muitas pessoas animadas, muitas pareciam conversar sobre fantasias e alguns estavam com o celular aberto no tik tok vendo inspirações de maquiagem. É estranho, eu nunca tive essa animação pra festas. Também, eu nunca tinha sido convidado pra uma.
Entrando na sala do grêmio eu vi Dream e Blue conversando, também olhando algo no celular.
-Bom dia, stars.-chamei eles batendo na porta.
-Ink!-Blue me cumprimenta animado.
Dream dá um sorriso tímido.
-Bom dia, Ink.
-Você vai na festa de Halloween?-Blue pergunta e recebe uma cotovelada de Dream.
-Você sabe que Ink é ocupado demais pra isso. E ele não gosta de festas.
-Na verdade,-coloco minha mochila no chão timidamente e me sento na minha cadeira-eu vou sim.
Sorrio e olho pros dois esperando alguma reação.
Blue sorri animado enquanto Dream parece me analisar.
-Sério?-Blue pergunta quase pulando da cadeira para me abraçar.
-Uhum.-falo e sinto minhas bochechas esquentarem um pouco.
-Alguém te chamou?-Dream pergunta.
E nesse momento eu fico em um dilema.
Eu não posso dizer que sim, porque dai eu teria que falar quem me chamou e os dois iam começar a especular, e eu não estou pronto pra sair do armário agora. Eu nem tenho certeza em qual aspecto assexual eu me identifico, só sei que eu sou gay, e eu não posso falar assim do nada. Principalmente pra Dream. Eu usei ela por muito tempo, se eu sair do armário, eu quero conversar com ela antes disso porque eu sei como isso deve afetar ela, e eu quero ter certeza que ela não vai ficar magoada. Porque querendo ou não, Dream é sim minha melhor amiga, e eu não quero que ela pague pelo preço das minhas ações.
Mas eu também não quero e nem posso mentir pra eles. E para a minha sorte, Blue muda o assunto pra mim.
-Quem se importa? Porra, o Ink, O INK, vai numa festa!
-Isso é tão incrível assim?
-Pior que sim, é incrível assim.-Dream diz soltando uma leve risada.
Eu reviro os olhos.
-A gente super tem que ir com uma fantasia de grupo.-Blue diz e pega o celular.
-Fantasias de grupo?-pergunto e inclino a cabeça para o lado.
-Eu já vou combinando com o Cross.-Dream sorri-A gente vai como Romeu e Julieta, do filme com o Leonardo di Caprio.
-Vai ficar legal!-comento em tom de aprovação.
-Então só eu e você, Ink?-Blue me pergunta e eu dou risada.
-Pode ser, o que me oferece de fantasia?
-Anjo e demônio, o que acha?-ele pergunta me mostrando um exemplo em seu celular.
Não é uma fantasia difícil, só precisaria de uma roupa com tons claros e um par de asas, que nessa época você encontrava em qualquer loja.
-Parece legal.
-Não é uma fantasia mais pra casal?-Dream pergunta.
Blue coloca a mão sobre meu ombro e fala:
-Estamos aqui para quebrar os estereótipos, certo Ink?-Blue olha pra mim.
Dou risada e coloco uma de minhas mãos no ombro dele.
-Certo, Blue.
Dream dá risada de nós dois.
E fica decidido que vou fantasiado de anjo para a festa de Halloween

Durante a aula de literatura daquele dia, eu fico revisando alguns argumentos para o júri da próxima semana, até que sinto alguém se sentar do meu lado.
-Bom dia, tintinha.-sinto o cheiro doce dele e na hora suspiro alegre-Se preparando pra derrota na próxima semana?
-Você que deveria se preparar pra derrota, meus argumentos estão ótimos.-digo enquanto escondo meus papéis-E acho que deveria estar com a sua equipe, não?
-Eles não me querem lá.-ele diz apontando para o grupo do fundão que parecia estar numa discussão mortal-E aqui parece mais seguro.
-Bug bro, dá licença não?-Fresh aparece do meu lado e eu olho para ele-Estamos organizando nossa estratégia, né Ink bro?
-Concordo com o Fresh.-olho para Error meio cínico, me divertindo ao ver ele irritado.
 -É mesmo?-ele se aproxima mais um pouco de mim.
-Uhum, e você deveria já ter ido não acha?-pergunto.
Depois de um segundo bem rápido encarando meus lábios ele se levanta e vai para o seu grupo.
Fresh se senta ao meu lado e pergunta:
-Se resolveram?
-É, acho que sim.-digo enquanto ainda o observo de longe.
Suas costas estão eretas e seu cabelo está penteado hoje, o que faz com que eu fique com mais vontade de puxar ele e bagunçar esse cabelo. Os olhos sérios, e a boca fechada. Ele só encara o grupo uma vez, e todos se calam. Quando ele começa a discutir alguma ideia com um dos garotos de lá ele ainda está com um ar de liderança, mas também calmo. Não indefeso, calmo. Mas também parece que pode te atacar a qualquer momento, ou te lançar um olhar provocante como fez quando percebeu que eu o encarava. 
Uma das qualidades que Error tem, que querendo ou não, muitos gostam, ele é imprevisível. Ele pode te impressionar, te entristecer, e te deixar feliz a qualquer momento. Mas naquela hora, ele só queria me deixar com desejo dos lábios dele nos meus.
-Acho que sim.-Fresh me imita-Você tá quase babando olhando pra ele.-ele dá risada e eu coro.
Volto a atenção para os argumentos quando mando ele calar a boca.
Ainda olhava para Error as vezes, e ele também olhava para mim. Sabíamos onde isso ia dar se estivéssemos sozinhos, e fico feliz que não estávamos, mas também irritado por isso.

Depois de organizar a sala de artes, eu tranco a porta da mesma e pego a minha mochila que estava no chão. Andando pelo corredor verifico se não tem mais ninguém no prédio. 
Olho nas salas de aula, cantina, pátio, e concluo que está tudo liberado. Então começo a andar até a saída até que ouço alguém me chamar:
-Ficando até tarde na escola?
Reconheço a voz e olho pro lado de onde ela surgiu.
-Eu que te pergunto, Error.-sou um sorriso de canto e ele se aproxima.
-Você fico me encarando na aula, queria falar alguma coisa?-ele pergunta encostando a sua mão na minha.
Na mesma hora solto minha mochila.
Meu corpo fica rígido, eu não sei como reagir ao toque dele 
-Hum, não sei se falar é o termo certo.-fico envergonhado e me afasto enquanto ele tenta se aproximar do meu pescoço.
Quando chego na parede eu sei que não consigo mais escapar. Ele beija meu pescoço e e eu solto um suspiro.
-Se não queria me falar nada, o que você queria?-e recebo mais um beijo enquanto suas mãos seguram minha cintura.
Minhas mãos vão automaticamente para as costas dele a procura de apoio e acabo amassando a jaqueta dele com as mãos.
-É vergonhoso falar isso em voz alta, Error.-dou uma risada e ele levanta o rosto para me encarar.
-Então faz, não tem que pedir pra fazer as coisas aqui.-ele beija minha bochecha.
-Agora?
-Não precisa ser agora.-ele se afasta mais um pouco-Quer parar aqui?
Minhas mãos descem para a cintura dele e olho para os olhos dele.
Aquele mar está calmo e o vento está a favor dos barcos que quiserem navegar.
Eu sei o que eu quero, e pra ser honesto: Foda-se onde a gente tá.
Eu me aproximo e beijo ele. Com a intensidade que eu quero, com a necessidade que meu corpo anseia o dele colado no meu.
Jogo ele contra os armários e continuamos no beijo. Minhas mãos sobem para o pescoço dele e eu acaricio a orelha dele quando ele me empurra levemente.
-Calma, calma.-ele pede e respira meio ofegante.
-O quê?-pergunto também ofegante.
Enquanto ele recupera o fôlego eu observo sua expressão. Ele parece surpreso, mas também envergonhado. E ninguém nunca surpreende ele. 
-Pra que mexer com a minha orelha?
-Não gosto?-pergunto um pouco preocupado.
-Não é isso, é que...-ele fica vermelho e olha para o lado-Me da coiso.
Seguro a risada. Ele fica muito fofo vulnerável.
Me aproximo da orelha dele e pergunto baixinho:
-Quer que eu pare?
-Você para se eu pedir?
-Não.-digo e dou um beijo atrás da orelha dele e sinto o cheiro do cabelo dele.
Tem cheiro de shampoo, mas não aquele de alguém que lavou recentemente, parece algo mais natural. E também um cheiro de menta, mas bem leve.
Ele solta um suspiro e aperta minha cintura.
-Então não para.-ele diz e beija meu pescoço.
Afasto meu rosto dele e fico meio irritado.
-Assim não vale.
Ele dá uma risada e nossos olhares se encontram.
Novamente nos beijamos e dessa vez é lento, mas pode ter certeza não tem nada de delicado nas nossas ações.
Error muda nossas posições me colocando contra os armários enquanto suas mãos passeiam por minha cintura e costas. As minhas mãos ainda próximas do ponto fraco dele, mas estou mais interessado em outra coisa.
Quando ele desce para meu pescoço, aproveito minha oportunidade e puxo de leve o cabelo dele com uma de minhas mãos, a outra aproveita e acaricia o ponto fraco dele.
Error solta outro suspiro e me sinto satisfeito por mais que também tenha cedido um ponto fraco meu para ele beijar. 
Quando dou risada de sua reação recebo uma mordida no local onde ele beijava meu pescoço. 
-Error!-puxo o cabelo dele e o encaro enquanto ele ri-Não vale morder!
-Quem disse?-ele me encara sorrindo-Isso que ganha se rir de mim.
Olho para ele ainda irritado e ele me dá um selinho.
-Te odeio.
-Também te amo.-ele beija o local que continha a mordida-Anda, temos que ir.
-Você que começou.-digo e vou pegar minha mochila.
-Você me provocou, Kinky, só por isso continuei.
-Nhe nhe nhe.-pego minha mochila e olho para ele-Quando vai tomar responsabilidade por seus atos?
-Quando vai dizer "eu te amo"?-ele percebe minha expressão mudar e se arrepende-Desculpa, foi pesado demais.
-Foi.-afirmo e ajeito a alça da mochila.
-Desculpa.
Olho para ele e suspiro.
-Não vamos falar desse assunto agora ok?-passo a minha mão livre na nuca.
-Sim, desculpa, eu não queria...
-Tá tudo bem, Ruru.-o interrompo.
-Ruru?-ele pergunta um pouco vermelho.
Na hora eu também fico vermelho e engulo seco.
-Desculpa, é que, você me chama de Kinky e eu também queria te dar um apelido, e...-percebo ele rindo-Desculpa, é ridículo, eu sei.
-Não é não.-ele me dá dois selinhos antes de dizer-É fofo, eu gostei.
Sorrio e começamos a andar até a saída.

No meio da ida para minha casa ele pergunta:
-Vai fantasiado de que?
-Anjo, e Blue vai de demônio.
-Legal, vão combinando é?
-Essa é a ideia.-dou de ombros-Vai de quê?
-Pirata talvez, ou vampiro.-ele diz distraído.
-Tá mais pra vampiro, mordendo o pescoço dos outros.-me aproximo dele.
Ele ri e se encosta mais em mim.
-Onde é a festa?-pergunto por fim.
-Ah! Mais tarde te mando o endereço, não se preocupa.-ele diz e sinto sua mão perto da minha.
Não rejeito o toque dele, mas ainda não estou pronto para segurar a mão dele.
-Enfim... Nada de fazermos aquilo na escola de novo.-digo quando vejo minha casa se aproximando conforme andamos.
-Por que não?-ele pergunta com tom de provocação.
Espero até chegar na minha porta para eu responder a pergunta dele.
-Porque...
Puxo ele para perto quando percebo que a rua está vazia e o beijo. Suas mãos voltam para a minha cintura e as minhas voltam para o pescoço dele.
Quando nos soltamos um do outro eu sussurro no ouvido dele o resto da resposta:
-Porque eu não gosto de público, e porque se formos fazer isso que seja em uma cama não acha?
Quando percebo ele vermelho demais eu me corrijo:
-Não to falando de sexo tá? 
-Eu não pensei nisso.-ele claramente mente na minha cara.
-Sei.-sorrio e dou um selinho nele-Te vejo amanhã?
-Com certeza.
Trocamos olhares até que eu finalmente entro em casa.
Com os olhos fechados eu me encosto de costas para a porta e dou uma risada. 
Tudo isso parece um sonho.
-Aquele que você estava beijando lá fora era Error Crayon?-ouço uma voz perguntar.
-Mãe?!-abro os olhos e sinto meu rosto inteiro esquentar.

O Lado Complicado de Amar Seu inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora