O Lado Complicado de Amar Seu inimigo

Cap 59

{Error's p.o.v}
Depois de hoje cedo, admito que fiquei mal (sai daquele banheiro tampando o rosto porque estava com medo de chorar em público). Eu só finjo que sou durão, mas quando alguém grita comigo ou eu desconto na porrada ou eu vou pro meu cantinho chorar por não saber o que fiz de errado.

"Talvez seja só estresse, afinal ele não deve ser o maior fã de vomitar né?"

-É, talvez...
E eu não vou simplesmente voltar a estaca de vilão da história dele do nada, né? Isso é meio que impossível a essa altura.

Passei a aula mais focado do que o normal, eu precisava encher minha cabeça com algo e foi o que eu fiz. Mas as vozes da minha cabeça estavam formulando o melhor pedido de desculpa possível para... Seja lá o que eu tivesse feito de errado hoje cedo. Planejava argumentos pra caso a gente brigasse. "Você tá me xingando mas se tá ruim assim você não insistiria", ou "você não pode explicar por que estou sempre comandando sua mente! Você não vê a resposta bem na frente de seus olhos? ", "Obviamente você me ama, então vamos parar com isso sim?". Mas todos eram frios de mais, mas escondiam bem minha ansiedade e preocupação, então eles não estavam 100% descartados.
-Eu sou o rei...-murmurei pra mim mesmo planejando outro argumento.
Ouço o sinal bater e percebo que agora tenho aula vaga.
Talvez não seja um momento ruim, eu posso ir falar com ele ou sei lá.
Me levanto e procuro por Ink que estava saindo da sala.
-Merda!-Bato os punhos contra a mesa.
Suspiro e me sento de novo abaixando a cabeça.

"Vai atrás dele!"

-Fresh já disse que eu sou meio possessivo...-levanto a cabeça ainda falando baixo-Quando ele quiser conversar... ele vai vir, né?
Sinto minha perna tremer involuntariamente.
Merda.
Me levanto e começo a andar.
Não sei pra onde estou indo, mas sei que é melhor do que ficar naquela sala. Parado. Sem nada pra fazer (e sem o Ink lá).
Quando percebo estou dentro da biblioteca em uma sessão de livros qualquer.
Olho as lombadas, não vejo nada de bom, só um deles tem um título mais interessante "Amanhã, amanhã, e ainda outro amanhã". Não peguei para ler a sinopse, mas até gostei da estética do livro.
-Quanto ele deve custar na Amazon?
Pego meu celular, e nesse momento sinto ele vibrando e meu coração quase sai pela boca quando atendo:
-O-oi.-limpo a garganta.
-Onde você tá?-Ink pergunta do outro lado da linha.
-Você tá correndo?
Pergunto notando a voz dele meio ofegante.
-To te procurando há uns dez ou vinte minutos! Então, sim, eu to correndo.
-Oh...-dou uma tosse seca-Hum, eu to na biblioteca.
-Tá, me dá uns minutos pra eu conseguir chegar ai.
-Ok...-ele desliga.
Guardo o celular e começo a andar em círculos.

{Ink's p.o.v}
Quando chego na biblioteca eu começo a procurar ele pelas seções até que o vejo em uma das prateleiras de ficção.
Me aproximo.
-Oi!-o cumprimento pra em seguida eu me apoiar nos joelhos.
-Você tá bem?-ele se agacha e me segura pela cintura.
-Uhum.-me ajoelho para olhar ele nos olhos-E você?
-Eu não corri a escola toda até aqui.-ele dá uma risada.
-Responde, Ruru.
Percebo ele corar e logo desvia o olhar.
-Eu to bem, Ink.
-Meu nome é Kinky pra você.-me levanto e estendo a mão-Vem, vamos achar um lugar mais calmo.
Ele pega minha mão e só ai percebo. Eu não sei o que falar.
Começamos a andar até chegarmos na sessão dos clássicos. Ninguém vai pra essa sessão, nem a própria bibliotecária.
-O que tem pra me falar?-ele pergunta e solta minha mão se encostando na parede.
-Hum...-começo a pensar-Primeiro de tudo, me desculpa, hoje cedo eu tava com tanta vergonha de vomitar na sua frente, e não veio na minha cabeça que você não ia ter nojo ou sei lá, você não faz mais piadinhas desse jeito mas...-respiro fundo porque eu não respirei durante a frase ou fiz sequer uma pausa-Mas, você mudou, e eu sei disso, então... Desculpa, eu gritei com você.
Ele sorri de canto parecendo aliviado.
-Tudo bem, eu não devia ter ido embora também.-ele se aproxima.
-Eu te mandei embora, não se desculpa...-dou um passo para trás quando ele se aproxima.
-Eu sei, mas eu não devia ter te deixado sozinho.-mais um passo.
-Não se preocupa.-encosto na prateleira e ouço algo.-O que foi isso?-olho pra trás.
Error coloca uma mão na minha cintura e o outro braço está acima de mim. Ele não é tão alto quanto eu, então só de eu ter virado meu rosto pra frente percebo que ele está perto. Bem perto.
-Um livro deve ter caído.-ele aproxima mais o rosto do meu.
-Epa epa.-o empurro de leve-Eu não acabei.
-Não?-ele parece confuso.
-Não.-afirmo-Eu quero falar mais uma coisa.
Ele se afasta e se encosta de novo na parede.
-Ok, o que mais?
Respiro fundo.
-Olha... Eu sou assexual.-solto mas não paro de falar- Sabe, essas quedinhas, sempre me fizeram sentir como se eu não tivesse nada a oferecer, porque tudo é resumido a isso, pegação.-começo a gesticular com as mãos-Outros por quem me envolvi, no caso só a Dream, ela também queria ir além e... Eu só não conseguia, e eu não sei se consigo com você também.-olho para ele que não esboça nenhuma reação o que me deixa mais nervoso- As pessoas sempre flertando, pegando todos os números, e você pode se divertia também querendo isso, não era nada sério e você podia fazer isso porque não estávamos juntos, o que me incomoda é que...
-Você acha,-ele começa-que eu esperei seis anos pra conseguir só sexo?
Sinto meu rosto esquentar.
-Não, é que... Eu não sei, é só que...-procuro as palavras-Eu não quero que pense que vai ser assim fácil, ou que vai acontecer assim rápido ou que sequer possa acontecer.-olho nos olhos dele-Se quer namorar comigo, quero que esteja ciente dessas coisas, porque, eu amo mesmo de você Error, e não de maneira superficial.
Ele está sorrindo, feliz como se tivesse dado pra ele uma barra de chocolate.
-Ama?
Coro e desvio o olhar.
-Não tava óbvio?
Ele se aproxima e me encara.
-Eu também amo você.-ele passa a mão na nuca-E bem, eu sempre torcia pra você falar isso... Eu queria que você me escolhesse pra falar isso.-ele dá uma risada fraca-Eu queria ser o único a fazer você se sentir bem, o único pelo qual você se apaixonasse de verdade, ou pelo menos o primeiro.-ele ri mais um pouco e percebo que ele está nervoso-Sabe, eu queria ser o rei, mas você antes não me via como possibilidade.
-Antes...-ressalto sentindo meu coração bater mais forte.
-Antes.-ele diz depois de mim-E eu estou feliz por ter conseguido sua atenção no fim de tudo.
Sorrimos um pro outro.
-Alguma pergunta?-ele pergunta pra mim.
Penso um pouco.
-Certeza que não me vê como segunda opção? Você já ficou com tanta gente.
-Meu Deus.-ele ri-Não, não, eles eram segunda opção.
-Então você tinha vinte e uma segundas opções?-cruzo os braços.
-Um foi quase sério, o resto, casual.-ele dá de ombros.
-Você fala isso numa tranquilidade...-reviro os olhos.
-Olha, eu não sentia nada, e deixava isso claro.
Olho para ele.
-Eu era o único na sua mente no fim da noite?
Passo uma mão de leve pelo seu braço.
-Sim-sinto ele forçar a voz a ficar firme.
-Você está sempre falando comigo como se estivesse totalmente incomodado...-quando chego em seu ombro seguro o rosto dele o forçando a me encarar-Então, por que você sempre me chamava ou tentava conversar comigo?
-Ink...-ele vacila e não completa a frase.
Sinto o rosto dele esquentar.
-Não mente, e eu quero respostas, poxa.-dou de ombros.
Nota mental: Provocar é legal.
Ele respira fundo.
-Porque eu amava você, você já sabe disso.-ele tenta virar para o lado, mas eu não permito.
-Você não tem uma garota que pode fazer você se sentir bem? Isso é um sinal péssimo pra você, Crayon.
Faço carinho na orelha dele e o corpo dele cai sobre o meu.
A cabeça dele está apoiado no meu ombro e sinto sua respiração contra a pele do meu pescoço.
-Ruru?
-Eu tenho uma pergunta, na verdade.
Engulo seco.
-Qual?
-Outros meninos e meninas nunca fizeram você se sentir bem, certo?-ele sussurra no meu ouvido com a voz rouca e eu arrepio.
-E daí?
-E você não conseguia explicar por que estou sempre comandando sua mente?-ele pergunta ainda sussurrando no meu ouvido e logo dá um riso que me faz derreter por dentro-Ink, a resposta está na sua frente.
-E qual seria?-pergunto com uma mão pronta para atacar o ponto fraco dele qualquer coisa.
-Você me ama,-ele beija meu pescoço-obviamente.
-Convencido.-acabo desistindo de revidar.
-Me escolhe, Ink, me dê o trono do seu coração.-ele pede olhando em meus olhos separando um pouco nossos corpos.
-Isso é um pedido de namoro?-pergunto cínico.
-Se você quiser que seja.-ele dá de ombros-A intenção é essa.-ele pega minha mão-Quero que você seja meu, até quando você desejar e me permitir.
Sinto meu rosto esquentar um pouco e limpo a garganta.
-Eu não esperava por essa.-dou uma risada meio nervoso.
-Oh! Então, esquece, não tem que responder.-ele desvia os olhos.
-Eu quero.-aperto um pouco a mão dele-Digo, eu aceito, eu admito.-Você é o rei, o trono é seu.
Ele olha pra mim mais vermelho do que eu já o vi ficar, e isso me faz ficar meio feliz. Error não deixa as pessoas verem essa parte dele. Estranha, sensível, chorona e delicada, mas eu vi. Várias vezes, e eu me orgulho e me sinto honrado de o ver assim.
-O que? Achou que teria outra resposta?
-Talvez?-ele ri e aproxima seu rosto do meu-Você é um mistério pra algumas coisas, Kinky.
-Espero parar de ser um.
-Eu gosto de mistérios.
-E eu gosto de noites estreladas.-seguro seu rosto e olho para seus olhos ao dizer isso.
-Eu gosto de você.-ele diz baixo enquanto nossos lábios se aproximam automaticamente.
-Eu também gosto de você.-respondo e o beijo.
É algo calmo e quente. Uma dança lenta entre amantes que sabem que essa é a hora, é o momento. Sentimos que é certo, sentimos que tudo vai dar certo se estivermos juntos e felizes. Talvez não vamos conseguir tudo do dia pra noite, mas a garantia de que ele vai estar lá, a garantia que sempre que eu precisar ele virá até mim. Isso é o bastante. Ele é o bastante. Nós somos o bastante.
Quando nos separamos eu o abraço pelo pescoço e solto:
-A gente pode andar de mãos dadas, ou aparecer juntos.
Error solta uma risada e me aperta.
-Mesmo?
-Mesmo, falei hoje com a Dream, minha mãe já sabe.-saio do abraço e olho para ele-Por mim não tem problema.
-Nem pra mim.-ele diz sorrindo.