Cap 43

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{Ink's p.o.v}
Um beijo. Para muitos, o que aconteceu comigo seria resolvido assim, porque ele jogou fora seu orgulho e fez o que queria. E talvez, isso deveria ser o bastante, mas não foi. Aquilo, esse beijo, não foi o bastante para responder a única pergunta que eu tenho para ele.
Depois de empurrar ele para longe, eu sinto meu rosto esfriar com as gotas de chuva que caem no meu rosto.
-Que porra é essa, Error?
-Ink, eu posso explicar.-ele diz vermelho com um olhar desesperado. Parecia estar se afogando no mar violento e azul de seus olhos-Isso foi um mal entendido.
-Tudo é um mal entendido? Você sempre é vítima das circunstâncias?-pergunto irritado-Primeiro o acidente, agora a Heather!-percebo minha respiração ofegante-O que vem depois?
Pergunto, e como pensei não tive resposta. Ele apenas olha para mim e suspira, ele parece cansado. Um sentimento que eu conheço bem. Infelizmente. E conheço melhor do que gostaria de conhecer.
-Vai pra casa, Error.-digo começando a andar para longe-Não quero aguentar isso hoje.
Quando comecei a caminhar, desejei que ele se resfriasse ou algo do tipo. Mas quando cheguei em casa, gostaria de ter o levado para  sua casa em segurança.

Depois de uma terça-feira de merda, nada melhor do que ir trabalhar na Yellow e ver a mesma pessoa que me irritou hoje cedo: Heather.
Ela pode não ser a mais popular, pode não ser a rainha da escola, mas isso que a deixa mais interessante. A família dela é composta por uma mãe dona de casa e um pai que vende alianças de casamento, nada mais do que o puro luxo e elegância ao olhar das garotas, que tem as opiniões mais importantes nesse caso já que os rapazes a resumem a uma bunda bonita e uma das meninas que eles pegariam com certeza. Heather usa roupas de marca e joias de ouro, a típica garota mimada rica, ou "burguesinha" se acharem melhor. Mas isso é o pouco que eu sei. De novo: Ela não é popular, mas é uma pessoa que atiça a curiosidade alheia.
Quando ela entra, faço o padrão como se ela fosse qualquer cliente, e não alguém que ajudou a destruir meu humor hoje de manhã.
-Boa noite,-forço um sorriso- e seja bem-vinda à Yellow Café o que deseja?
Ela sorriu de volta.
-Boa noite, eu quero um café americano com caramelo, não gosto de nada muito forte.-ela dá uma risada fraca.

"Será que ele gostaria de caramelo no americano? Por que eu to pensando nisso? Óbvio que ele não gostaria. Chega, Ink!"


Começo a anotar o pedido.
-Algo mais?-pergunto ainda forçando um sorriso.
-Não precisa.-ela diz e ajeita o cachecol.
Tinha esfriado naquela noite, bom que eu me precavi e levei um casaco mais grosso.
-Certo, deu vinte.
Ela me entrega o dinheiro e eu me viro para as máquinas para preparar o café.

"O Ccinno tinha que faltar justo hoje?"

-Então,-ela começa- eu vi você e o Error.
Eu travo por um segundo e limpo a garganta, continuando meu trabalho como se nada tivesse acontecido.
-O que isso tem a ver com o seu café?-pergunto não me esforçando tanto para não soar grosso.
-Não tem relação, mas eu queria te perguntar uma coisa.-me viro para ela que parece sem graça-Vocês namoram?
A ânsia de vômito chega, começo a tremer e minha cabeça está a mil.
-Hum... Não? Sim?-eu falo e depois volto a ter o controle- É meio complicado, mas não. Não namoramos.
A expressão "a verdade dói", nunca foi tão real.

"Mas ele me beijou... e parece que sente algo por mim. Mas depois daquilo... depois de ele ter mentido."

-Então por que ele te beijou?
-Eu estou tão confuso quanto você.
Termino o café dela e entrego o copo.
-Olha, talvez não seja da minha conta, mas,-ela me olha- foi por isso que você terminou com a Dream?
Se eu não parecia assustado ou incomodado antes, agora eu pareço. E muito.
-Tenha um bom resto de dia, Heather.-digo apertando minhas unhas contra a palma da mão.
-Ah, desculpa.-ela diz antes de sair.
Assim que a porta se fecha, eu corro para o banheiro e paro de segurar o vômito.

Depois de sair do trabalho, que adivinha? Também foi estressante pra caralho. Eu começo a caminhar, com uma tentativa de calar meus pensamentos, além de precisar ir pra casa e não ter carro. Mas ainda assim, as palavras de Heather não saem da minha cabeça. Ainda estou pensando naquilo, pensando nas perguntas que ela me fez, e em tudo que eu já passei com ele. Ela me ajudou a aumentar minha lista de perguntas.

"Vocês namoram?"

"Por isso você terminou com a Dream?"

-Eu não sei.-meus olhos ficam marejados .
Eu não faço a mínima ideia do que eu sou, eu não sei se eu queria ter minar com a Dream por isso. Eu não sei de porra nenhuma agora, tudo por culpa dele.
Eu olho ao redor, e identifico onde vim parar.
-Por que eu vim pra cá?-murmuro e entro de verdade no local-Ele não tá aqui.
Pior lado da cidade. Uma das poucas coisas que compartilhamos.
Me sento na pedra, e olho para o céu.
Error Crayon. Talvez a única pessoa da família que saiu dos trilhos, bom pelo menos totalmente, o garoto mais encrenqueiro de Alternative Town. Para dizer o mínimo. Famoso por ser amigo de Nightmare e parte da gangue dele: Os bad guys. Filho de Queenie Crayon, mais conhecida como Queen Crayon, uma CEO dona de uma empresa de comunicação e tecnologia, que além de Error, tem mais dois filhos: GEno e Fresh Crayon. É isso que as pessoas tem de informação pelo menos, ninguém sabe do que tem por debaixo dos panos, dos segredos da família, mas é eu sei.
Eu respiro fundo, e fecho os olhos.
-Te odiar era mais fácil, mas agora...-flashes passam na minha cabeça, e o gosto de seus lábios também-Eu não consigo, por mais que eu queira.

"Por que eu estou fingindo falar com ele?"

-Você mentiu para mim por seis anos, por quê?-Eu suspiro e abaixo a cabeça-Eu signifiquei algo pra você em algum momento?-pergunto baixinho.
Alguns segundos se passam, silenciosos e deliciosos segundos. Até que um som de piano sai do meu celular. Alguém estava me ligando.
Depois de ver quem era eu suspiro, e atendo.
-Oi Fresh.-digo ao atender.
Fresh Crayon, irmão mais novo de Error e a pessoa mais desleixada dos Crayon. Um amante de música sem futuro, mas rico. Ficou em uma clínica de reabilitação no verão, e nunca mais mexeu com "coisas erradas". Com um estilo mais anos 90 e sempre usa um óculos escuros por estilo. É o que as pessoas pensam.
-Ei Ink bro, como você tá?
Fresh é o mais próximo que posso chamar de amigo, e talvez a única pessoa que confiei por mais tempo, mas ele também é um mentiroso. Ele saiba, mas não me contou nada.
-Indo, e você?
Ele não usa óculos escuros por estilo, mas por vergonha de ser diferente. Vergonha de ser o que ele é. Mas eu não posso o julgar agora, eu também me escondo de mim mesmo.
-Seguindo o fluxo.-ele ri-Hum, amanhã você tá livre depois da aula?
-Não sei, talvez alguém fique de detenção, mas se não tiver ninguém to livre sim.
-Certo, então a gente se fala depois?
-Sobre o quê?
-Surpresa!-ele desliga.
-Jogando ele contra mim é?-murmuro e guardo o celular.
Ao respirar fundo novamente eu sinto um cheiro podre, o cheiro do esgoto. O que é normal daqui, mas agora é diferente de algum jeito. Não tem ninguém com quem reclamar disso, e não tem nenhuma reflexão sobre o cheiro. É só esgoto. Olho para o meu celular e abro os meus contatos.
-Vou mesmo fazer isso?
E com um frio na barriga, eu tento fazer isso como se fosse de costume. Clico no contato, e ligo para Error.

{Error's p.o.v.}

Andar na chuva é uma merda, beijar é pior ainda. Moral da história? Não confiem NUNCA em ficção no geral. 
Quando Ink foi embora eu só queria gritar, implorar para ele ficar. Mas ele não iria me escutar nem atender ao meu pedido, e ele estaria certo. Talvez por isso eu esteja irritado. Odeio quando ele está certo.
Chegando em casa eu pego um dos meus chocolates na geladeira e começo a devorar o mesmo.
-Dia difícil?-ouço minha mãe perguntar atrás de mim.
Me viro para ela meio assustado.
-Como você aparece do nada?
-Poder de mãe, dia difícil?
-É...-continuo comendo o chocolate-E você?
-Acho que foi melhor que o seu.-ela diz e pega sua caneca com chá no micro-ondas.
Faz um bom tempo que ela tem trabalhado de casa, isso me incomoda um pouco, já que aqui tinha que ser um local para ela descansar de verdade, e dar atenção aos filhos dela certo?
-Ótimo consolo, mãe.
-Você contou mesmo né?-ela bebe um pouco do chá.
Eu me calo.
-Levou um pé na bunda?
-Por que quer saber?
-Quero saber quanto de chocolate vou estocar pra sua TPM.-ela diz sorrindo.
Eu aperto a barra que está nas minhas mãos.
-Ele me rejeitou. Pronto. Fim da história.
-Ele te rejeitou? Ou você que fez merda?
-Os dois?-digo me lembrando de hoje e comendo o chocolate- É complicado.
-Então me explica, sou sua mãe afinal.-ela se senta no sofá e em seguida me chama-Vem!
Minha mãe nunca foi de conversar assim, mas tem uma primeira vez para tudo, talvez até para se abrir para alguém.

Depois de contar toda a minha patética história de amor para ela, a sua reação meus amigos é a mais memorável do mundo:
-Wow...
-Wow?
-Olha, eu só sabia da parte em que você mentia, não que você ficou de briguinha com ele. E honestamente, achei que você seria menos cu doce.
Ignoro essa última parte, e a respondo:
-Não é briguinha.-me encolho no meu lado do sofá enquanto olho para a outra direção.
-Então é o que?-ela pergunta e coloca a sua caneca na mesa- Error, sou sua mãe, então eu tenho que te falar quando você faz merda-ela me encara- E você fez, muita merda!
-Eu sei...
Falo envergonhado, e bravo também. Às vezes minha mãe infelizmente está certa, por mais que fique no computador o dia inteiro, ela tem bons conselhos.
-Então, preste atenção.-olho para ela-Você ama mesmo ele? Isso é pra valer?
Eu penso um pouco.
Parece uma pergunta óbvia, mas eu sei o sentido que ela diz, "você casaria com ele?", "você ficaria para sempre ao lado dele?". E honestamente, eu nunca tinha pensado por esse ângulo. Eu nunca me imaginei casado, mas eu vejo essa possibilidade com ele. 
Engulo seco e sinto meu rosto esquentar
-Sim...
-Então dê um tempo para ele. O Ink vai falar com você quando estiver pronto, depois de você jogar isso tudo, ele também tem que pensar.
-Fresh falou isso também.
-Se até ele falou, melhor escutar né?
-É...
Ela me abraça e se levanta segundos depois.
Eu me sinto mais leve depois de conversar, por mais clichê que isso possa soar. Tirou um bom peso das minhas costas.
-Vamos pedir comida?
Meu celular vibra e vejo uma mensagem do Nightmare.

{Mensagens o.n}

Kraken
Festa na casa do Dust, leva a mercadoria. 

{Mensagens of.f.}


-É melhor...-suspiro-Pizza?-sugiro tentando parecer animado.

A festa é como qualquer outra, uma merda, resumindo. Mas infelizmente, é o meu trabalho. MEu jeitinho de arrumar dinheiro.

"Eu deveria arranjar um emprego de verdade."

Olho ao redor. A casa é espaçosa, mas tão cheia assim parece pequena e apertada.
Pessoas desconhecidas; bebida; drogas. Isso tudo junto, o que poderia dar errado? Bem, tudo eu acho.
Quando eu olho ao redor, vejo Nightmare conversando com o Dust. 
Nightmare, ou Kraken para os íntimos que o odeiam. Filho de um policial, irmão da princesinha da escol, Dream. Ele é a ovelha negra da família, e algo que poucos sabem: Ele vende drogas e forçou todos os seus amigos a fazerem o mesmo, e eu to no meio da confusão assim como o Dust.
Dust, não tem muito o que se comentar sobre ele. Filho único, a mãe morreu por câncer e o pai dele é um advogado. Bom em dedução, mas não é um Sherlock da vida. Dust é um cara fechado e introvertido, mas simples, não é muito complexo ou difícil de entender.
Provavelmente, o assunto era sobre as vendas daquela noite.
Do outro lado da sala estava Killer, observando Nightmare enquanto o mesmo conversava com o colega, e Horror parecia estar tagarelando do seu lado. 
Killer é o guarda-costas (ou pet) do Nightmare e tesoureiro da gangue. O pai é um babaca, e a mãe morreu no parto dele. Killer é fascinado com facas já que o pai o influenciou sobre isso, sendo assim agora ele também gosta de produzir esse tipo de arma. Ele acha que esconde, mas todos sabem que ele é caidinho pelo Nightmare.
Horror é... bem, ele é mais misterioso. O orfanato local encontrou ele na floresta, isso saiu no jornal. Foi adotado por uma família mais simples de açougueiros. Seu pai faleceu alguns meses após Horror ser adotado. Desde os 12 ele trabalha no açougue da família e seu corpo vive machucado e cheio de ataduras.
O mais normal entre nós é o Cross. Esse, é o guarda costas da irmã do chefe. Cross é o filho de um cientista e tem dois irmãos: Frisk e Chara. Que, para a sorte dele, Cross não está aqui hoje.
Suspiro e encosto na parede. Só quero ir para a casa, minha cama é o meu único desejo agora. E conversar com ele.
-Ele deve tá trabalhando agora.-vejo as horas-É saindo da Yellow.
Meu celular vibra e não acredito em meus olhos, mas Ink estava me ligando.
-Error!-ouço Nightmare me chamar.
Nisso, eu procuro o primeiro quarto para entrar e me tranco lá dentro.
Respiro fundo e atendo.
-Oi!
-Oi...
-Hum,-eu estou nervoso, talvez pela conversa com a minha mãe. Mas não importa.-por curiosidade, por que está me ligando?
-Eu to aqui...
-Huh?
-Pior lado da cidade.
-Ah...-eu me sento no chão encostado na porta-É para isso que você me ligou?
-Talvez.
O silêncio permanece por alguns instantes, até que ele pergunta:
-Já percebeu que aqui cheira a esgoto?
-Já. O que isso tem a ver?
-Não tem uma reflexão bonitinha, é só esgoto.
-E?-pergunto sorrindo cínico como se ele conseguisse me ver.
Eu imagino ele escorado em uma pedra, olhando para o céu, como se estivesse pensando em algo super interessante.
-Se eu fosse você, aproveitaria que estou te ligando, sabia?
-Então vai direto ao ponto, tintinha.-meu sorriso aumenta por imaginar o que aconteceria se eu estivesse lá-O que você quer de mim?
Ouço um resmungo, e sei que ele ficou sem graça agora.
-Talvez alguma reflexão besta sobre isso.
-Sobre o cheiro de esgoto?
-É, Error.
-Hum...-começo a pensar um pouco.


O Lado Complicado de Amar Seu inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora