Cap 47

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-Ink...-ele me chama e eu vacilo por um segundo, permitindo os meus joelhos  de tremerem-A gente pode...?
-Nosso cliente,-Ccino o interrompe-já estava indo embora.
Error franze o cenho e se vira para Ccino.
-Não, eu não estava!-os dois se encaram.
Minha cabeça já estava a mil. Já estava pensando sobre coisas no caminho, e ainda tenho que separar uma briga boba dessas?
Respiro fundo e seguro até eu ter colocado minha bolsa nos fundos, e solto quando chego no balcão.
-Ccino, me dá cinco minutos?
-Ink!-ele me encara e depois olha para Error-Tem certeza? 
-Uhum, não se preocupa.
Ccino olha para mim, e antes de sair encara o Error. Depois ele vai para a sala dos funcionários.
Quando ficamos sozinhos, Error me observa e eu desvio o olhar.
-O que você quer?-pergunto meio irritado.
-É a última conversa que eu quero ter com você sobre aquilo, mas eu quero que você escute.
-Error, tudo que eu faço é te escutar!-bato a mão no balcão-Quando é a minha vez de falar? Quando você vai ouvir?
Ele respira fundo.
-O seu ouvir é gritar quando eu tento falar algo?
-O seu escutar é se fazer de vítima?-ele fica calado e olha pro lado-O seu discurso é o mesmo. Um medroso com uma fobia estranha que achou melhor esconder algo impossível de se esconder.-cruzo os braços e ele inclina a cabeça pro lado-Se realmente sente alguma coisa por mim Error, me respeitaria o bastante para não mentir para mim.
Ele pressiona os lábios um contra os outros e  faz que sim com a cabeça.
Quem conhece o Error, sabe que ele faz isso quando tem uma boa resposta para dar. Quando ele não quer dizer o que pensa, um dos motivos é por não ser o melhor momento. Ele fazia isso quando criança para não responder os adultos, eu lembro disso. 
-O que foi?
-Nada...-ele dá de ombros.
-Error, fala logo.-peço impaciente.
-Você pede respeito da minha parte, mas não posso dar isso a alguém que não se respeita.
Eu fico calado, e aperto o meu braço.

"Ele não tá errado, mas puta que pariu, vai se fuder, Error!"

-Uau...-é o máximo que sai da minha boca.
-Desculpa!-ele pede desesperado, deve ter percebido que eu estava em fúria-Eu...
-Não.-eu o interrompo-Você quer falar? Eu te escuto!-olho para ele que parece nervoso e sinto minhas mãos tremendo-Pior lado da cidade, depois do meu turno.
-Ink.
-Não me chama de Ink, você sempre usou a merda daquele apelido! Tenha coragem de continuar fazendo isso!-O encaro e ele se encolhe.
-Você não manda em mim, Ink!-ele arruma sua postura e eu encaro ele.
-Sai daqui, Error.
E ele faz o que eu mando, mas antes de sair ele olha uma última vez nos meus olhos. Não o impeço de sair. 
Quando ele me encarou, eu imagino seus olhos são um mar novamente, agitado como sempre mas dessa vez é agitado por uma tempestade. Com trovões e tudo que uma bela tempestade tem direito. Mas não é possível identificar a fonte dessa tempestade.
Quando ele dá as costas e sai da cafeteria, Ccino sai dos fundos e pergunta:
-Você tá bem?
-Vou lavar meu rosto.
No caminho para o banheiro eu levanto a cabeça para cima e suspiro. 
-O que eu faço com isso?-murmuro e entro no banheiro.

{Error's p.o.v.}
Merda. Eu sou muito imbecil.
Eu chego no pior lado da cidade e chuto uma pedrinha que estava no chão.
-Seu idiota! É assim que quer ganhar alguma chance com ele?
Tiro meu casaco e jogo ele pro canto, e algo cai dele. Um livro. Para ser mais específico "Orgulho e Preconceito", o livro para o trabalho de literatura.
-Por que tenho que defender essa mimada?-reviro os olhos e pego o livro do chão-Darcy claramente tinha sentimentos por ela, sinto muito se você não entende os atos dele, Elizabeth!
Reviro os olhos e me sento no chão colocando o livro ao meu lado.
-Você não tá bravo por causa  do júri.-olho para o  meu celular-É porquê você fez merda.
Suspiro e me deito na grama.

"Algo mudou nele... Ele não me olha do jeito que costumava. Ele antes tinha raiva, mas não... não assim."


-Talvez esse seja o limite dele, não vale a pena também eu continuar com esse teatrinho adianta?-olho para o céu-Vai dar tudo certo, eu só tenho que escutar, falar a verdade e ser eu mesmo.
Relaxo meu corpo e continuo olhando para o céu. E para me acalmar de verdade, eu me lembro do primeiro Natal que passei fora daqui. Ficamos em uma cabana, daquelas grandes e antigas, tinha até uma lareira.  Um dia, nevou muito e eu fiquei preso na cabana. Os adultos e meus irmãos tinham saído para fazer compras para a noite de Natal, e como eu estava dormindo não me levaram. Mas antes de me desesperar liguei para os adultos, que avisaram que tudo ficaria bem. Aproveitei que estava sozinho e fui para a cozinha preparar um chocolate quente. Estava tudo bem, até que ouvi alguém descendo. Foi ai que eu descobri que eu não estava sozinho, Ink estava lá também. Só nossas mães e meus irmãos tinham ido. Aquela foi a primeira vez que ficamos sozinhos. Dividimos uma caneca de chocolate quente e aí eu pensei: "Ele é bom demais pra esse meu mundinho, mas eu não conseguiria nunca me afastar dele.". Mas quando pensei que poderia ser recíproco, eu o afastei. Naquele dia na casa da árvore, não foi só a fobia. Ela pincipalmente, não pensem que eu o empurrei de propósito, eu não sou um imbecil assim. Eu não queria que ele se aproximasse, não permitiria nunca que eu chegasse a machucar ele. E ele não foi o único que eu machuquei, não foi o único que eu afastei. Faço isso com todas as pessoas que eu amo ou admiro; é minha sina. Foi assim com Geno, foi assim com a minha mãe, foi assim com o Fresh, e está sendo assim com o Ink. Eu não posso machucar essas pessoas, eu amo elas, não posso machuca-las. 
-Enfim, salud aos traumas. Um brinde a eles, quem seríamos sem eles mesmo?
Ainda falando do Ink. Deixa eu esclarecer sobre o que eu sentia quando ele ficou com o raiozinho de sol, a princesinha da escola, Dream.
Admito, não gosto dela. Mas não é por ela ter ficado com ele, pouco me importa onde ela enfia a língua dela, ou com quem o Ink namora, mas o que me incomoda é que eles mal se conheciam quando eles ficaram juntos, e ela parecia se aproveitar da popularidade do Ink. Ela sempre se apresentava como "namorada do Inky", e só sabia falar de como ele era incrível em tudo o que fazia. E eu odiei como eu descobri essa merda.
Começou como fofoca, e eu não confio em fofocas. Mas quando Blue me contou, eu esperava muito que não fosse verdade, mas se Blue disse, era verdade. As fontes dele não mentem, e nesse caso a fonte dele era o casal em pessoa. Eu nem a conhecia antes, eu só a via ás vezes quando Nightmare chegava na escola com ela. Blue me contou que eles faziam ligações até tarde e que era até fofo eles juntos e toda aquela melosidade de "ai meus melhores amigos namoram, eles não são lindos?". Todo casal tem um fã, isso são fatos. E Blue era o número 1 do casal Drink, como ele chamava. Drink era o que eu precisava quando descobri que era verdade, meio que gostaria de não saber. Meus olhos ficaram lacrimejando na hora, tive que dizer que eu estava com sono de tanta baboseira para não admitir que era ciúme. Era lutar ou fugir, e eu não sei o que exatamente eu escolhi. Lutei contra meus sentimentos, mas fugi da realidade.
-O chão tá gostoso é?-ouço uma voz perguntar e olho para o lado.
-Seu turno já acabou?-pergunto para Ink que está em pé na entrada e me levanto nervoso.
-Acabou.-ele está de braços cruzados e muito puto.

{Ink's p.o.v.}
Bem, lutar ou fugir do Error. Eu nunca fugi dele antes, nem mesmo quando ele fazia aquele bullying ridículo comigo. Não vou fugir agora. Por mais que as minhas pernas estejam com força para isso. 
-Hum, ok, eu fiquei de te escutar né?-ele coça a nuca.
-Você ao menos me leva a sério se não me respeita?
-Eu te levo a sério.
-Então não aja como se isso fosse um favor, Crayon.-eu o encaro.
-Crayon?-ele pergunta parecendo desconfortável.
Algo em mim dói, mas eu ignoro. Essa sensação e a pergunta dele.
-É minha vez de falar como essa merda toda tá me afetando.
-Pode falar, mas eu posso me sentar?-ele aponta pro chão.
-Não seguro suas pernas.-respondo e me sento na frente dele.
-Ok, manda ver.-ele me encara e eu encaro ele.
Respiro fundo e percebo que não planejei o que falar.
-Você foi um merda.
-Você deixou isso bem claro.
-Ressaltar que essa mentira idiota não te ajuda em porra nenhuma, e que...-eu procuro palavras-Olha eu...
-Ink, você tem mesmo algo pra me dizer além do que eu já sei?-ele pergunta e eu fico nervoso.
Eu prefiro mentir do que falar pra ele a verdade.
A verdade: Eu estou apaixonado por ele. Não de agora, isso não é recente pelo visto. Quando ele me contou da casa da árvore, eu pensei sobre o passado, procurei fotos, anotações qualquer merda que me ajudasse a dar algum sentido a tudo aquilo. Eu só achava coisas que me apontavam a dois fatos. Fato um, eu sou gay. Nunca me apaixonei ou senti uma atração de verdade por garotas. Dream é um exemplo, namorei ela não por gostar dela no sentido romântico, mas por ela ser minha melhor amiga, e confundi o amor e carinho amigo com amor romântico. Confundi Eros com Philia. Fato dois; eu sempre tive alguma coisa além de ódio com o Error. Quando ainda não tínhamos essa rivalidade, eu o admirava, não como pessoa, ou pelo menos não só nisso. Eu admirava seus olhos, admirava seus cabelos, seu jeito de ser, como ele ajudava e percebia as coisas que muitos não percebiam. Gostava de como ele era atento a detalhes, e ainda admiro isso nele. Mas só agora eu consegui dar um nome a isso.
-Ink, tá ai ainda?-ele se aproxima de mim e eu olho nos olhos dele de novo.
Ele tem cheiro de perfume de revista. Uma daquelas amostras boas, e que você tem certeza que vai dar pra aquela pessoa, por combinar com ela.
-Tô...-o empurro de leve.
-Desculpa.-ele pede e olha pra mim de novo-Eu to esperando você dizer o que tem pra dizer.
-Error, eu só quero que você me dê um bom motivo além de "eu te amo e não queria que você me odiasse". -olho para ele cínico.
-Honestamente, era lutar ou fugir, e eu preferi mentir pra você. Preferi fugir, eu não ia conseguir lutar com isso.-ele coloca uma de suas mãos sobre a grama-Eu era uma criança, até onde eu sabia podia ter te matado.
-Ok, mas e quando você tomou consciência de que precisava me contar alguma hora?
Ele dá de ombros e começa a brincar com a grama.
-Eu continuei preferindo mentir, era mais fácil. Sabia que não era certo, mas pareceu mais fácil deixar você em paz e feliz.
-Em paz? Error, acho que você cortou todo o bullying que você fez e faz comigo.-digo indignado e ele me olha.
-Não é o que parece.-ele diz mas literalmente toda essa situação parece aquelas cenas horrendas de crime-Esse é o meu jeito de ainda ter um pouco de você na minha vida.
-Não mete essa.-reviro os olhos.
-O que?-ele pergunta e cruza os braços.
-Tadinho do Error, ele machucou alguém e agora ao invés de contar a verdade ele prefere mentir e ao invés de tentar fazer amizade com quem você supostamente ama você humilha essa pessoa sempre que pode. Realmente, deve ser muito difícil fazer essa decisão,  muita lógica pro gênio da matemática.-digo sem esconder minha grosseria.
-Eu amo você sim, você não entende. E eu nunca te humilhei!-ele parece magoado, mas rua raiva vence.
-Realmente, eu não entendo!-bato minhas mãos no chão-Por que você não podia ser uma pessoa normal e tentar fazer uma amizade comigo? Pra que fazer essa merda toda? Eu posso até entender a mentira, mas não entendo isso!
Ele olha pra cima e respira fundo.
-Sabe o que eu não entendo, Ink?
-O que?-bufo irritado.
-Por que um gay fica incubado tanto tempo, e ainda tem que usar alguém pra esconder a fantasia de pessoa hétero perfeitinha?
Meu coração aperta. 
-Como você sabe?
-Você pode usar essa máscara com qualquer um, mas acha mesmo que eu não entendi?-ele me encara e vejo um brilho estranho no olhar dele.

"Ele está com os olhos lacrimejando?"

Error não gosta de chorar, ele prefere morre a isso, e ver ele com olhos assim me faz sentir...pena.
-Ninguém entendeu, por que você entenderia?
-Porque por mais que eu sentisse ciúme, eu sabia que você não gostava de meninas.-ele ajeita sua postura-Quando você era criança você não entrava nessas conversas comigo e com o Fresh, nem mostrava o mínimo interesse no assunto. 
Agora quem segura o choro sou eu. 
Isso é algo que temos em comum, eu prefiro morrer do que chorar na frente de alguém. Do que chorar na frente dele. Entre lutar ou fugir agora, eu prefiro mentir.
-E quem disse que por isso eu sou gay?
-Ink, para, não mente pra você. Não mente pra mim, sabemos da verdade, e não significa que eu vou te tirar do armário.
Me sinto desconfortável. Minha respiração está rápida, e é minha  vez de novo. Lutar ou fugir?
Engulo seco.
-Isso é pessoal.
-Eu sei, seus problemas, e não estamos falando disso, desculpa puxar esse assunto.
Respiro fundo controlando minha respiração.
-Como eu vou ter certeza que você me ama?
-Isso é uma pergunta meio idiota.
-Responde
Ele parece pensar, e eu odeio esperar sobre uma pergunta desse tipo.
-Não tem como.-ele dá de ombros-Amor, relacionamento, tudo isso, é confiar. Você confia que eu te amo?
-Depois de mentir pra mim e de tudo o que você fez?
-Sim, depois de tudo isso. Você confia que eu amo você?
-Não posso confiar em alguém que eu não entendo.
Error me olha nos olhos, e eu olho de volta.
-Não julgo você.
-Não me entenda mal...

"Não é como se eu não quisesse você"

O Lado Complicado de Amar Seu inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora