Cap 48

247 31 18
                                    

{Ink's p.o.v}
Depois de ontem, talvez faltar fosse a melhor opção. Mas cá estou eu. O cabelo bagunçado, minha cara amassada de alguém que claramente não queria acordar, e com aquela discussão da noite anterior ecoando na minha cabeça.
Enquanto estou sentado na minha carteira encarando a vista pela janela, escuto alguém me chamando:
-Ink?-me viro e vejo Blue-Você está bem?
-Sim, Blue.-minto  e me ajeito na carteira-Vai pra sala, sim?
Quando vou abaixar a cabeça, vejo Error aparecendo na porta e mantenho meu olhar onde está. Ele está mais desleixado do que o normal, mas isso não faz com que ele pareça acabado. 
-Oi, frutinha.-ele cumprimenta o Blue, e depois volta seu olhar para mim-Tintinha...
-Oi, bug.-desvio o olhar.
Eu sinto um pouco de vergonha agora da minha aparência, podia ter feito um esforço maior hoje de manhã. Ou simplesmente não ter vindo como eu planejei.
Blue nos observa, então faz seu sutil comentário:
-Que climão em, aconteceu algo entre vocês?-ele pergunta como se soubesse de cada detalhe da nossa situação.
Antes de eu conseguir responder com uma desculpa idiota, Error responde:
-Ele só tá tenso pelo júri.
Nesse momento eu me lembro do júri.

"Porra..."

-Já é daqui uns dia né?-me pergunto enquanto vejo a feição de Error mudar.
-E esqueceu?
Fico sem graça e me viro para minha mochila e pego as anotações que tinha feito para o trabalho. Não, não tinha esquecido, pelo menos não totalmente.
-Bem,-diz Blue parecendo sem graça-eu vou indo, até depois?
-Sim, temos reunião hoje.-falo sem tirar os olhos do caderno.
-Tchau para vocês!-ele se despede alegre como sempre.
Depois que Blue sai, Error vai para o fundo da sala largando sua mochila no chão. Nesse momento sinto que ele está me observando, sinto milhares de olhos me observando, mas só penso na conversa de ontem, e o quanto minha ansiedade é desnecessária em momentos como esse. 
Mentiras, sentimentos, coisa demais pra digerir pra ser bem honesto. E eu não imaginava que uma casa da árvore poderia fazer tanto estrago.  
Me sinto mal. Culpado. Será que o julguei mal? Eu não carrego parte dessa culpa? Conheço Error bem o bastante pra saber que; ele nem ninguém sabiam o que eu realmente era. Nem eu sabia. Ás vezes ele pode ter pensado nisso recentemente, ele não perderia a chance de falar o que pensa. Ou melhor; não perderia a chance de falar para mim sua opinião. Então, talvez, só talvez, ele na época não soubesse. E não posso culpar uma criança pelo que ele fez. Eu posso perdoar esse incidente. 
Mas não perdoo as brincadeiras imbecis e os apelidos idiotas, isso é outra história.
E pensando por um outro ângulo, eu errei em algumas coisas com ele também. Tá na hora de uma trégua, certo?

Suspiro e me levanto para fechar a porta. O lado positivo número um de ser o presidente do grêmio: Você tem acesso a TODAS as chaves da escola, já que é responsável por supervisionar alunos que ficam de detenção ou até mais tarde para estudar. Então não é difícil se trancar com seja lá quem você queira ficar sozinho por um tempo. No meu caso, eu queria um tempo sozinho com Error Crayon.
Me viro para ele que, para a surpresa de zero pessoas, estava me observando. Ele me olha como se perguntasse com seus olhos "o que está fazendo?". E honestamente, eu me perguntei a mesma coisa enquanto dizia:
-Sobre  ontem,  eu não deveria ter gritado com você.-digo saindo de perto da porta andando lentamente em direção a ele- Você tem seus motivos para ter escondido, e eu tenho os meus pra ficar puto com você.
-Eu sei disso.-ele diz se levantando e coloca as mãos no bolso do casaco, ele parece nervoso.-Mas eu também sei que estou errado, e eu vou fazer diferente daqui pra frente.-ele me olha no fundo dos olhos, e sinto que é genuíno.
-Como?-a pergunta apenas sai. 
Leve mas também pesada. Como se naquele instante eu estivesse entregando meu próprio coração. 
Corações são leves, mas um grande fardo e um grande desafio. 
O silêncio parece eterno. Mas fora da minha cabeça e fora dos sentimentos, usando apenas a razão dura cinco segundos.
Penso em me afastar quando percebo nossa proximidade excessiva, mas ele segura minha mão. Não me prendendo, poderia sair de perto se quisesse, mas queria sentir seu calor de novo. Faz temos que meu corpo sente apenas o frio, não seria mal me esquentar.
-Eu vou te contar a verdade.-ainda estamos nos encarando, e ainda estou nadando em seus olhos azuis.
-Eu já sei a verdade.-digo soando distraído.
-Não essa verdade.-ele coloca sua outra mão no meu rosto e desvia rapidamente seu olhar.
-Qual verdade então?-pergunto colocando minha mão livre em seu braço.
Ele fica vermelho, e sei que também estou. Error aproxima seu rosto do meu, estamos a pouco centímetros de distância quando ele responde:
-Eu amo você, Ink.-ele observa meus lábios tremendo enquanto eu ainda encaro seus olhos-Essa é a verdade.
Quando abro a boca para responder, já é tarde. 
Ele me beija, e eu retribuo. Dessa vez nada nos impede. Não é como na piscina, não tem nenhum segredo. Não existe nenhum empecilho. Apenas o eu medo de não estar fazendo nada certo, e minha ansiedade do que isso significa.
O beijo é lento, mas quente. Precisávamos disso, ambos sabemos. Mas queremos aproveitar esse momento. Porque é nosso, e ninguém pode nos tirar isso.
Mas quando o sinal toca, eu tenho que interromper nos dois.
-Tenho que destrancar a porta...-digo e percebo que estou ofegante.
-Agora?-ele pergunta e dá um leve beijo no meu pescoço o que me faz sentir um frio na barriga.
-Agora.-dou uma risada fraca e o empurro.
-Tá bem...-ele me encara e eu engulo seco-Não tem que responder isso agora, você sabe né?
Eu sei ao que ele se refere. 

"Eu te amo, Ink"


-Sei...-aperto a mão dele-Eu tenho muita coisa pra pensar ainda.
-Eu sei.-ele dá um sorriso de canto.
-Eu não tenho certeza do que fazer, nem posso dizer com certeza em que intensidade eu gosto de você, e...
-Você vai descobrir.-ele me interrompe e acaricia minha bochecha.
-Eu só...-olho para a mão dele que está em meu rosto.
Antes de tira-la de lá eu a beijo.
-Eu só não quero que nada entre nós mude, mas eu vou te dar uma resposta.-digo para ele que ainda me admira com o olhar.
Dessa vez, ele que aperta minha mão.
-Não vou deixar de te irritar tão cedo.
-Muito menos eu.
Sorrio quando ele dá uma risada.
Depois disso, eu vou em direção a porta e destranco a mesma.

Quando é intervalo, ao invés de ficar nos corredores eu fui para a sala de artes. Precisava organizar ela, e me distrair sobre aquilo. 
Eu fiquei as três primeiras aulas distraído. Pensando no gosto de chocolate e menta que tinha em seus lábios, e como eu queria sentir aquilo de novo.
Quando entro na sala, percebo a bagunça que ela está. Chega a ser crime deixar uma sala incrível dessas bagunçada ou sem visitantes frequentes. 
Na mesa central estão caixas de papelão cheias com partituras, desenhos e textos. Escrito na caixa com letras feias e garranchadas "Lixo". Me encho de ódio naquele momento. Arte não é lixo. E essa não é a única caixa assim.
Entro na sala e começo a pegar as caixas e ver o conteúdo de cada folha. E ao invés de lixo, escrevo nas caixas: "Guardar", "Apresentar" e "Mural para o clube". Nenhum desses papéis vai para o lixo.

"Depois de organizar a sala tenho que mandar um recado para os membros e planejar a apresentação. Podia refazer todo o mural do clube ao invés de só adicionar novas obras."


-Quanto tempo eu tenho?-me pergunto quase acabando com a organização das caixas e olho para o relógio de parede da sala. Uma coruja branca com olhos amarelos.-Dez minutos, ok. Dá pra começar algo.
Para quem se interessar, chamei a coruja de Athena.
Depois das caixas eu passo para um canto cheio de decorações antigas espalhadas.

"Seriam boas para o baile!"

Enquanto separo as decorações, eu não consigo parar de pensar naquele beijo. Okay, talvez organizar as coisas não me distraia o bastante. Mas é que, foi tão... Satisfatório. Sabe quando você e seu inconsciente torcem tanto para algo acontecer e quando acontece você sente aquele finalmente? Foi exatamente isso.
Não percebo que estou parado encarando a decoração de Natal até que ouço alguém me chamar:
-Ink?-uma voz feminina.
Me viro e a vejo.
-Oi, Lust!-fico meio nervoso-Como você está? Posso ajudar?
Pergunto guardando a decoração de natal na sua caixa específica.
-O que você tá fazendo aqui?-ela pergunta na defensiva.
-Arrumando, eu sou responsável pelo clube, então...-dou de ombros.
-Vão voltar a usar a sala?-ela pergunta com uma mistura de felicidade e melancolia.
-Não com professores, só o pessoal do clube.-digo e guardo as últimas caixas de decoração no armário-Os integrantes são anônimos á público, mas não aqui dentro. E depois vamos organizar a apresentação dos trabalhos.
-Meio irônico, mas deu pra entender.-ela me encara de braços cruzados.
Eu também cruzo os braços. E me sinto mal, por isso digo:
-Lust, podemos conversar?
-Sobre?-ela pergunta cínica.
-É uma coisa delicada.
-O que eu tenho a ver com sua vida, Ink?
Respiro fundo.
-Eu quero te pedir desculpas, pelo meu comportamento com você. Acho que você já aguenta merda demais todo santo dia, e o que eu fiz foi desnecessário. E eu me arrependo, muito.-olho para ela que parece surpresa-Eu estava sendo bem idiota, mas agora, eu realmente preciso de ajuda, e acho que você consegue me orientar melhor do que ninguém agora.
Lust me observa. Depois olha para o corredor e encosta a porta.
-Minha próxima aula é livre.-ela diz.
-A minha também.
Sorrimos um pro outro, então eu começo a contar.

Quando percebo, estamos sentados no chão e ela agora sabe de tudo. Talvez até coisa demais, mas eu percebi que não ligo se isso se espalhar, não mais.
-Agora entendi seu desespero.
-Eu não tenho certeza de mais nada, tipo, eu... eu jurava que ao menos sentia uma mínima atração por Dream eu sentia... Eu beijei ela várias vezes.-olho pro lado e sinto meu rosto esquentar de vergonha.
Lust parece filtrar as informações.
-Você já trepou com ela?
-LUST!-olho para ela nervoso.
-Vocês namoraram por 5 anos, Ink.-ela dá de ombros- Não é uma pergunta absurda!
-E daí?-ela entende que isso é um não.
-Nem uma mão boba?
-Não fizemos nada assim, ok?
-Por quê? A Dream obviamente queria algo.
-Mas eu não, eu não queria nada disso.
-Por não gostar da ideia de sexo? Ou não gostar da ideia de fazer isso com uma garota?
Me sinto desconfortável com a pergunta.
Eu culpei Error por mentir para mim, mas eu mentia pra mim mesmo todos os dias sobre... Sobre mim mesmo. Menti para mim e para Dream sobre o que eu sentia por ela, sobre o que eu sentia na verdade por qualquer garota.
-Eu não queria fazer isso, não com ela.
-Com quem então?
-De preferência, com ninguém, não vejo a ideia do sexo como algo atraente nem nada, mas se eu fosse fazer isso, ou se eu fosse namorar e casar com alguém...-as palavras travam na garganta.
-Com quem seria, Ink?
Respiro fundo.
Eu tenho que admitir isso uma hora, mas como?
Como dizer isso? É estranho deixar  essa sensação de lado, mais estranho que isso é sentir ela.
Eu escolhi esconder isso porque eu fui influenciado a pensar que isso era um defeito. Fui influenciado de forma indireta, mas de uma forma que machuca. Antes mesmo de conhecer Blue e Dream, eu andava com um pessoal bem intolerante, falavam mal da comunidade LGBTQIAP+ como se fosse uma doença. Falavam dos negros como se fossem pessoas inferiores, achavam que minha richa com o Error era por causa disso, e não pelo bullying que eu sofria. Me chamavam de viadinho por não revidar, inclusive. Depois de um tempo, larguei esse grupo. Não me agregavam nada e eram interesseiros. Sem contar que meu pai é igual a esses merdas. Então admitir isso, admitir quem eu sou, é como tirar uma faca do coração. Doi, mas se eu estancar o sangue, eu consigo sobreviver, certo?
-Com homens, com garotos...-sinto meus olhos marejados-Eu não sinto atração por meninas, Lust.
-Bem vindo a comunidade, Ink.-ela me abraça-Você saiu do armário pra alguém, já é alguma coisa.
A abraço de volta e dou uma risada no meio das lágrimas.
-Eu queria só dar um nome pra isso, sabe?
-Acho que você pode ser considerado gay e assexual, pesquisa direitinho em casa.-ela me solta e vejo que ela também está sorrindo-Era disso que precisava?
-Sim... 
-Quer meu número? Pode me ligar pra desabafar mais vezes.-ela acaricia meu ombro e depois para-Mas eu também vou desabafar ok?-ela diz se ajeitando no canto da sala.
-Sem problemas.-dou um sorriso.
-Bem, eu tenho que ir, já já é a próxima aula.
-Eu também vou.
Nos levantamos e seguimos nosso caminho. Mas não sem antes ela adicionar seu contato no meu celular.






















































































































































































































































































































































Bem meus amores é isso, espero que tenham gostado do cap! É isso meus amores beijos e.....
βyё♥βyё

βyё♥βyё

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
O Lado Complicado de Amar Seu inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora