Cap 55

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A escola estava normal. Não existe muitas formas de descrever algo rotineiro, mas ao mesmo tempo caótico e imprevisível. Nada fora, nem dentro da normalidade para Alternative High. É engraçado; quando você se sente leve e completo, o exterior parece apenas um detalhe. Como se você fosse um herói em uma batalha, estivesse dando tudo de si o tempo todo. Mas quando a guerra cessa ao anoitecer e você retorna a sua tenda, lá está o seu porto seguro. Intacto. Não importa o que houve no exterior, ali dentro, entre vocês tudo está certo (ou pelo menos parece certo), e é isso que importa.
São essas coisas que eu pensava enquanto andava naqueles corredores barulhentos e caóticos. Eu seguia o caminho comum até meu armário até que sinto uma mão no meu ombro e me viro para trás assustado.
-Oi, Ink.-PJ me cumprimenta parecendo nervoso.
-Oi... Quanto tempo.-dou um sorriso fraco e sem jeito.
-Eu queria falar com você uma coisa...
O analiso e inclino a cabeça pro lado.
-Agora?
-Não, mas... no intervalo você tá livre? Eu realmente preciso de ajuda.-ele olha pro lado e vejo suas bochechas avermelharem.
-Hum, ok.
-Ok, te vejo no intervalo.-ele fala apressado e vai pra sua sala.

"Estranho..."

-Ok...-falo e volto a caminhar até meu armário.
Quando chego, admito que me surpreendo ao ver Error me esperando.
-Oi,-sorrio de forma convencida-o que faz aqui, bug?
-Só me preparando pra te fazer vomitar igual no primeiro dia.-ele me dá um chute d eleve na perna.
-Sem graça.-reviro os olhos e abro meu armário.
Sinto ele me observar mas tento ignorar seu olhar.
-Falta pouco tempo pra esse julgamento né?
-Uhum.-ele diz de forma distraída, que admito que é bem atraente-Pronto pra perder?
-Nos seus sonhos.-dou risada e fecho a porta com força e me dou de cara com seu rosto.
-Neles você faz outras coisas.-ele sorri e se aproxima mais de mim sussurrando-Coisas que caso se tornarem realidade vão ser melhores do que você perder pra mim.
Ele sorri. Daquele jeito irritante e convencido que só ele tem.
Sinto meu rosto esquentar e empurro o rosto dele pra longe com uma das mãos.
-Um, estamos na escola, e dois!-ele segura meu pulso-Você sabe que eu não to pronto pra...-olho ao redor-isso...-eu falo baixinho.
-Não vou te expor, tintinha, porque acha que eu falei baixo?-ele solta minha mão-Respira.
-Eu tô respirando.
-Ok ok, vamos pra sala?-ele aponta para o caminho com a cabeça e percebo como seu cabelo está bagunçado.
-Uhum.-aceno com a cabeça.
Caminhamos até a sala e não consigo não me concentrar nos cochichos ao redor.
"Uau eles se dando bem?", "Cacete o mundo  vai acabar", "Hoje chove canivete", "Estranho eles andando juntos...", "Error vai acabar corrompendo o Ink", "Cacete o Ink virou gay agora? Meu Deus isso já ta virando modinha", etc etc.
Cada comentário alimentava mais o meu medo de contar sobre mim pras pessoas. Se descobrir é bom, é incrível, mas acho que todo mundo enfrenta a mesma pergunta depois disso: EU devo contar? Se sim, pra quem? E se não me aceitarem? Por mais que NINGUÉM precise aceitar ninguém. Você quando faz isso, você não procura aceitação, você procura avisar e quando você ganha algo com isso você se sente completo, porque pessoas importantes pra você não vão ter nenhum preconceito sobre isso. Mas quando essas pessoas tem sim algum preconceito, aquilo se torna frustrante e chega a irritar os comentários imbecis. Essas pessoas podem ou não ser especiais também, porque é mais assustador mais de cem pessoas comentarem sobre você do que só umas quatro pessoas dentro de casa. Por mais que seja mais doloroso essa última opção.
Minha respiração ainda está um pouco irregular quando me sento na minha carteira. Error está ajoelhado na minha frente me encarando.
-Você tá bem?
-Hum?-olho pra ele.
-Você parece esquisito...
-Desculpa.-começo a brincar com as minhas unhas.
-Tudo bem, olha se você não quer flertar em público e tal eu paro, ok?-ele fala baixinho.
-Não é isso, não é nada com você, Ruru...-respondo no mesmo tom.
-Não é o que parece...-ele admite hesitante e se levanta-Enfim, eu vou pro fundo, te vejo depois.
O observo ir para seu lugar. Ele pega o celular e fica com sua postura indiferente. Algo no meu estômago se revira. 

O Lado Complicado de Amar Seu inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora