Cap 60

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Depois de várias bolas de cabelo irem parar no lixo eu me olho no espelho e vejo o resultado final no espelho. Não ficou ruim. Consegui deixar reto no fim das contas, só não garanto muito atrás. Mas foi uma ideia boa raspar os lados e fazer uma franja.
Tomo um banho e lavo o cabelo e tiro os cabelinhos que ficaram presos no meu corpo.
Depois de me secar e vestir o meu uniforme da Yellow eu me olho de novo no espelho. O cabelo que sobrou estava batendo no meu ombro, e por estar uma noite abafada tenho a ideia de amarrar ele em um rabo de cavalo. 
-Pior que eu gostei.-sorrio pra mim mesmo.
Olho para Kin e respiro fundo.
Abro a porta de casa e começo a caminhar para o trabalho.

O Outono estava acabando, Outubro passou como um sopro e Setembro estava em seu início. Algo em mim começava a borbulhar. Ansiedade talvez? Sou um adolescente de dezoito anos que quer viver de arte e vai sair da sua cidade no próximo ano, então, acho que tenho motivo pra surtar por mais que eu tenha minhas economias extras caso necessário, mas... Tudo isso, me assusta. Mudança. Não é algo ruim, mas ninguém gosta de pular de algo que você está confortável para algo novo do dia pra noite.
Fico refletindo sobre isso enquanto também escuto os carros passando pela estrada. Enquanto as luzes dos postes ascendem, e enquanto tento me focar no presente. Olho para frente e sinto o vento no meu rosto.

"Não é o fim do mundo, e você ainda não está na faculdade, você ainda não tem que pensar como vai sobreviver com sua arte..."

-Ainda... mas e quando eu estiver?-pergunto pra mim mesmo baixinho e só ai eu fico calado.
Mentalmente e verbalmente.
Engraçado como um banho de água fria ajuda e piora sua situação ao mesmo tempo dependendo da situação. Essa é uma delas, e não sei explicar como me sinto ainda sobre tudo isso. Não tive muito tempo para pensar sobre isso com tanto acontecendo ao meu redor.

Minha mente só volta a funcionar quando abro a porta e o sininho da cafeteria toca. 
Quando estou prestes a levantar a cabeça para cumprimentar Ccinno, eu vejo mais uma pessoa lá, o tio dele, ou melhor, meu chefe.
-Bom dia, senhor.-o cumprimento confuso.
-Ink, bom dia, Ccinno e eu estávamos conversando.
Ccinno estava suando. Parecia estar prestes a dizer algo mas eu pergunto primeiro:
-Sobre o quê?-aperto a alça da minha mochila.
-De como você atrasa, ou sobre suas faltas sem aviso prévio, sem contar que você usa o seu trabalho para encontrar com seu ficante.
Sinto minhas bochechas arderem, mas respiro fundo e mantenho minha postura.
-Senhor, o último caso é um exagero, não tenho culpa se um conhecido aparece aqui no café com frequência.
-Não, mas você tem a responsabilidade de chegar no horário e avisar seus colegas qualquer imprevisto.-ele diz rígido-O problema, é esse, a última parte é um detalhe.
Aceno com a cabeça e olho para ele nos olhos, já sei o que está por vir, mas não sei se quero ouvir.
-Você entende o que isso significa?-ele pergunta sério. 
-Sim senhor.-respondo e olho para os meus sapatos. 
-Tio, não precisa!-Ccinno fala e sai de trás do balcão-Falo sério, nem foram tantas vezes que ele chegou atrasado!
-Ccinno, não se preocupa, meu contrato só durava até o fim do ano, tudo bem.-Olho para ele.
Digo isso, mas no fundo não queria ser demitido. Não assim, não agora.
-Ink, infelizmente, hoje é seu último dia na cafeteria.
-Sim, senhor.-minha voz falha.
-Foi bom ter você aqui enquanto durou, mas não posso te manter aqui se não segue nossas normas.
-Eu compreendo.-digo.
Ele se aproxima e me dá um tapinha no ombro como forma de consolo, e por fim, sai da cafeteria.
Quando o sininho para de tocar eu olho para Ccinno que parece estar pronto para chorar e dou um sorriso meio triste, e digo:
-Eu ainda tenho um dia.
-É, você tem...-as lágrimas brotam em seus olhos-Me desculpa, eu não sabia que...
-Sabia.-digo meio seco-Mas tudo bem, ia acontecer uma hora.
-Ink, perdão eu...-ele engasga com as palavras e apenas começa a chorar.
-Ccinno, calma!-coloco minha mochila em uma das mesas.
Eu não consigo entender direito, mas ele parecia dizer algo como "eu não queria estragar isso", independente, parecia um pedido de desculpas. Eu o abraço para tentar demonstrar para ele que está tudo bem.
Depois de uns segundos dele chorando eu respiro fundo e digo:
-Ccinno, se acalma, por favor.
-Você deve me odiar agora, e eu te considero meu amigo! Desculpa, Ink.-ele diz emotivo.
O solto e o seguro pelos ombros:
-Ei,-digo-quem deveria tá assim sou eu, e eu não tô! Então calma.-respiro fundo-Faz assim como eu, respira e expira.-solto o ar.
Ele repete o processo algumas vezes até que consegue se acalmar.
-Desculpa...-ele diz e olha para os seus pés.
-Tudo bem.-o solto-Vamos trabalhar?
-Vamos.-ele me dá um sorriso fraco.
Depois disso eu vou para trás do balcão e olho para frente. 
Quando noto, Felix parece ter mais um companheiro. Um novo relógio de gato apareceu. 
Parecia um gato malhado cinza com olhos escuros. Dei o nome dele de Aaron, por mais que não fosse mais trabalhar ali de novo, não significa que não visitaria a cafeteria.
-Olá Aaron.-murmuro para mim e sorrio para o relógio.

O Lado Complicado de Amar Seu inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora