Cap 62

187 28 12
                                    

O debate começou quase que instantaneamente após organizarmos a sala de aula. Não era o melhor júri, mas fizemos o impossível conseguindo espaço naquela sala. Tínhamos os personagens e tínhamos os advogados, e honestamente os ternos (uma ideia de última hora) ficaram ótimos. Darcy estava sentada ao meu lado, Elizabeth estava sentado ao lado de Error, e no lugar do juiz, estava Fresh. E não ele não era o juiz principal, mas o juiz de verdade passou mal de última hora.
Fresh se levanta e fazemos o mesmo, por mais que ele tente manter a pose séria enquanto fala, nem seus óculos ou seu sorriso ajudam.
-Estamos reunidos nesse tribunal hoje, para julgarmos o réu, senhor Darcy,-ele aponta para o rapaz, fantasiado com roupas de época-acusado por Elizabeth de ser muito orgulhoso e desrespeitoso com sua família e ente queridos.-agora ele aponta para a garota ao lado de Error que está atuando muito bem ao olhar para o rapaz a sua frente que  retribui o mesmo.
-A acusação pode começar.-Fresh finalizou sua fala.
Error se levanta, o que é o bastante para que as pessoas do fundo da sala que estavam cochichando se calassem.
-Começamos acusando o réu de ter escrito aquela carta de forma grosseira propositalmente para deixar minha cliente sem graça, não foi uma demonstração de amor, mas sim uma demonstração de como ele a odiava. Uma forma de afetar o orgulho da mesma.-ele pega um papel de sua pasta e entrega para Fresh-Poderia ler o trecho destacado, excelência? 
Fresh encara a carta, lendo uma vez para si e na outra para o público:
-"As minhas objeções contra tal casamento não foram apenas aquelas que ontem à noite lhe expus e que, no meu caso, exigiram toda a força da paixão para serem vencidas; a desigualdade social não representaria um mal tão grande para o meu amigo como para mim."
-Isso demonstra como ele criticava minha cliente por conta da sua condição financeira, ele julga o casamento de seu colega apenas porque pensava ser um casamento por interesses, sem nem mesmo conhecer a família Bennet.
-Protesto.-digo do meu assento e encaro Fresh.
-Concedido.
Me levanto bruscamente e me ajeito enquanto caminho para o meio da sala.
-Meu cliente disse, logo no início da carta e eu repito: "Escrevo-lhe sem qualquer intenção de a aborrecer, ou de me humilhar"-digo em alto e bom tom.
Aquela carta era um bom argumento contra Darcy, porém, se aquela era a chave principal, existem várias lacunas nesta acusação.
-Como se uma desculpa adiantada fosse impedir minha cliente de sentir algo, e percebemos que ele também se coloca no posto de oprimido. 
-Ele é um membro da alta sociedade inglesa, escrever uma carta se redimindo com alguém que nem mesmo possui um interesse por ele é algo humilhante, mas feito por amor à Elizabeth.
Ouvimos o martelo bater e  Fresh ri e diz:
-Sempre quis fazer isso.-ele percebe nossos olhares para ele-Ordem no tribunal, protesto recusado, Elizabeth não poderia compreender que isso era um ato de amor, nem mesmo Darcy poderia impedir ela de se sentir de tal forma.
Olho para Error irritado mas volto para o meu assento.
-Próxima prova.-Fresh diz.
-O primeiro baile dos dois juntos.-Error diz e ajeita sem necessidade sua gravata. 
-Sério?-murmuro para mim mesmo.
-Minha cliente o convida para dançar e ele a responde de forma bruta e desrespeitosa, até mesmo para um lorde. E vale ressaltar que ele também fala de uma forma desrespeitosa sobre minha cliente, e ela o escuta.-ele pega um papel e lê em voz alta- "Ela é tolerável, mas não suficientemente bonita para me tentar".
-Protesto.-me levanto-Meu cliente pode até mesmo ter falado algo de Elizabeth, mas sobre o convite a dança, ele apenas disse que evitaria se necessário, já que é algo que ele detesta fazer.
-Ele poderia ter sido mais delicado, não acha?
-Sua cliente poderia ter mais senso de humor, não acha?
O martelo bate novamente, mas de forma mais brusca.
-Ordem! Protesto aceito, mas peço mais respeito de ambos os lados.-Fresh olha para mim e depois para Error.
-Sim, excelência.-dissemos juntos e nos sentamos.
-A acusação tem mais alguma prova contra o réu?
-Por enquanto, não.
-A defesa pode começar a inquirição.
Me levanto, e começo:
-Muito se fala sobre o mau comportamento do meu cliente sobre Elizabeth, e já que mencionamos as festas, posso afirmar que meu cliente já estava em um ambiente desconfortável desde o primeiro momento em que se conheceram.-olho ao redor e continuo-Já notaram como a família dos Fitzwilliam nunca deram uma festa? Darcy detesta ambientes com muitas pessoas diferentes, o que atualmente ele poderia ser considerado um antisocial ou até mesmo ter uma ansiedade social elevada. Meu cliente nunca nem mesmo gostaria de sair de seu conforto.
-Protesto.-Error diz e se levanta.
-Não terminei.-olho para ele irritado e ele se senta novamente com um sorriso convencido no rosto-Isso demonstra que ele foi influenciado pelo ambiente desconfortável a falar coisas que não condizem com seus reais pensamentos.
-Continuando,-Error se levanta de novo-apenas por sair de sua confortável mansão isso faz dele alguém que diz coisas horríveis sobre como alguém é apenas tolerável?
-Sim, já testou sair de um lugar confortável a força apenas para manter as aparências?
-Isso não o faz menos orgulhoso.
-Eu tenho algo para rebater isso também.
-Não estou vendo uma prova concreta, apenas suposições.
Batidas de martelo de novo.
-Protesto negado, sente-se.-ele apontou para Error-E eu quero uma boa prova da defesa sobre isso.
Engulo seco e preparo minha fala:
-Excelência, você por acaso teve acesso a algum ponto de vista de Darcy sobre toda a situação? Por acaso algum de vocês sabe como meu cliente se sentia verdadeiramente sobre os acontecimentos?-as pessoas murmuram e Fresh olha para mim interessado-Meu cliente nunca teve a possibilidade de se retratar, então acho injusto da parte da defesa querer algo concreto, apartir do momento que apenas Elizabeth era retratada com tal clareza. O que trarei neste tribunal são apenas comprovações singelas de que Darcy possuí suas justificativas para ter o ego e o orgulho que tem.
-Certo, continue.-Fresh me permite.
-Meu cliente escreveu aquela carta com o mesmo sentimento que sempre teve por Elizabeth, carinho e proteção, seu único desejo era esse, demonstrar que se importava se retratar com ela, para que ainda houvesse possibilidade de seus caminhos se cruzarem com ou sem desprezo por parte dela.-olho para Error e Elizabeth que parecem um pouco impressionados e me aproximo-E sobre o baile, ele nem mesmo quis a responder de tal maneira, e como ele mesmo disse uma vez,"Em vão tenho lutado... Precisa me permitir dizer o quão ardentemente admiro e amo você", meu cliente possui mesmo orgulho? Uma declaração dessas com risco de mais pessoas ouvirem? Penso que não, mas eu vou provar isso.-Error olha em meus olhos e eu sustento essa troca de olhares por alguns segundos demais, mas não me importo.
Volto ao meu lugar em seguida e digo:
-Por enquanto é só.
Fresh bate o martelo algumas vezes e diz:
-Daremos uma pausa e voltaremos, agora com testemunhas.
Me levanto e vou para onde meu grupo estava reunido e repassamos nosso plano, poderíamos vencer, era apenas fazermos as perguntas certas e continuássemos com a mesma linha de raciocínio. 
Olho para o lado e vejo Error conversar com seu grupo e rever algumas provas. Ele parece sentir que estou o observando já que ele se vira para mim e sorri, daquele jeito que eu odeio. Aquele sorriso me quebra de muitas formas diferentes, mas naquele momento eu tinha que manter minha postura, então eu desvio o olhar. Nisso eu percebo que o rapaz fantasiado está olhando para a Elizabeth de um jeito apaixonado e fofo.
-Ei,-me aproximo-é sua namorada?
-Que? Não, não.-ele diz sem jeito-Somos amigos, só isso.
-Amigos, sei.-sorrio-A quanto tempo gosta dela?
Pergunto baixinho e percebo que ele volta a admira-la.
-Desde sempre, mas ela não gosta de mim, não assim pelo menos.
-Como tem certeza? Tentou perguntar?
-Não! Seria estranho.
-Como sabe que seria?
-Eu só sei, ela já gostou de tantas pessoas, e eu não sou o tipo dela.
Olho para ele.
Eu não me lembrava bem dele na sala, muito menos da garota em questão, mas sei bem ler as pessoas. Honestamente falando, eles só parecem um casal que não entendeu que tem sim uma química acontecendo.
Olho para a garota que também está olhando na nossa direção e acena para o rapaz. Ela está um pouco corada e ajeita o vestido tímida, mas logo volta a discussão do grupo.
-Viu? Só amigos.-ele diz.
-Vocês trocam bilhetes durante a aula?-pergunto me lembrando de que já a vi colocar bilhetes em uma carteira mais a frente.
-Não, por que?
-Tem algum admirador secreto?
-Como sabe disso?-ele pergunta sem graça e meio preocupado.
-Questiona ela sobre isso, só um palpite.-dou de ombros.
-DEZ MINUTOS PESSOAL!-Fresh grita indo atender o telefone.
-Vamos voltar a discussão do plano , melhor.-digo voltando pro nosso grupo.
Voltamos pro grupo e desvio o olhar para ver a garota, e sim, ela estava olhando para o rapaz.

O Lado Complicado de Amar Seu inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora