Cap 67

138 19 8
                                    

Fomos até a delegacia mais próxima.
Uns 10 minutos a pé, mas insisti em dirigir até lá para minha mãe. Em parte eu estava assustado pra caralho sim, mas ela também não estava bem para ficar exposta assim. Além de que, demoramos metade do tempo de carro.
Estava esperando minha mãe acabar de fazer o procedimento da vez, ela tinha feito a denúncia acho que estava fazendo o corpo de delito, quando decidi ligar para o Error. Ele demorou mas me atendeu logo.
-Oi, bom dia.
-O dia tá bom pra quem?-pergunto encarando meus pés.
Estava do lado de fora da delegacia. Aquela manhã estava mais agitada do que eu queria para um domingo. Queria só um café da manhã normal e um dia tranquilo, quem sabe ver o Blue e a Dream mais tarde, mas não. Eu ganho ao invés disso meu progenitor chegando na casa da minha mãe querendo conversar comigo sobre a faculdade.
-O que houve?-ele pergunta preocupado.
-Meu pai aconteceu.
Ele não me pede para explicar, o que é um alivio, apenas diz:
-Onde você tá?
-Na delegacia, esperando minha mãe sair.
-Droga.-ele murmura-Eu to de castigo, não posso ir ai.
-Por que o castigo?-me limito a perguntar isso.
E se ele está de castigo não poderia nem ir na minha casa de qualquer forma.
-Minha mãe descobriu do Nightmare, e que eu ajudava ele.
-Ah..-penso um pouco antes de falar-Não sei o que dizer.
-Um "eu te avisei"?
-Você não precisa disso agora acho, precisa?
-Não
-Então não tenho nada a declarar.
Ele solta uma risada fraca e eu faço o mesmo.
Olho pro chão por alguns segundos até que a voz de Error volta.
-O que seu pai fez?
-Hum...-olho pros lados me sentindo observado-Ele só quebrou uns pratos e apertou o pulso da minha mãe, e gritou comigo.-digo como se fosse algo do cotidiano-Mas minha mãe tem uma ordem de restrição contra ele, então...-dou de ombros como se ele pudesse ver minha ação.
Ficamos em um silêncio estranho por uns três segundos mais ou menos, não lembro só comecei a contar quando chegou a um nível desconfortável de silêncio.
-Você tá bem?-ele pergunta simplesmente.
É estranho como uma pergunta no momento errado te quebra.
Ninguém até então tinha me perguntado sobre mim e a situação com meu pai. Nem mesmo minha mãe. Ela sabe que ele é agressivo, e ela me acolhe do jeito dela, me dando conselhos e mudando meu foco. Foi assim que comecei a tocar piano, mas ai isso passou a ser mais uma coisa que eles me cobravam perfeição, mais meu pai do que minha mãe, mas era chato do mesmo jeito.
Mas eu também nunca mencionava muito disso com ninguém, nem com PJ. Error é a primeira pessoa que sabe um pouco mais, e é estranho me abrir assim, eu não sei se fico feliz por se importarem ou triste por terem que me fazer essa pergunta.
Eu respiro fundo e sinto minhas pernas tremerem um pouco.
-Uhum.-digo segurando o choro-Eu to bem.
-Se quiser pode vir aqui depois, a gente vê algum filme abraçadinho ou sei lá.-ele fala isso meio envergonhado, o que me faz rir entre as lágrimas que caem.
-Obrigado, Error, mas não precisa.-digo escondendo meus olhos com uma das mãos.
-Não me agradece, só vem pra cá depois ok?-ele faz uma pausa-Quero te ver.
-Tá bem.-tiro a mão do rosto e seco as lágrimas.
Olho para a delegacia e vejo minha mãe na porta da delegacia mexendo no celular. Provavelmente mandando mensagem para a advogada dela.
-Eu tenho que ir agora.
-Ok, se cuida tá?
-Você também.
Eu desligo e vou até minha mãe.

Chegando em casa ela vai para seu quarto enquanto liga para a advogada dela e eu subo para o meu quarto.
Agora são umas 11 horas mais ou menos, ficamos lá bastante tempo. Minha criança interior ficou surpresa que existe um lugar menos assustador do que o hospital. Ele pode ser frio, com cheiro de álcool e totalmente sem cor, mas eu nunca vi um lugar tão cheio de regras e centrado quanto uma delegacia. Pelo menos no hospital a ala das crianças era um pouco mais animada e passava desenho.
Me deito na cama e Kin sobe em cima de mim e eu suspiro:
-Por favor não me fala que eu esqueci de mexer nas suas coisas antes de sair.
Como esperado ela não me responde, Kin é um gato, e na vida real eles não falam.
Tiro ela de cima de mim e vou limpar sua caixinha de areia.
No mesmo momento em que saio de perto das coisas dela ela começa a fazer uso do seu banheiro e eu jogo o que eu tirei de lá no lixo. Aproveito que passei na sala e me jogo no sofá.
Olho para o teto e sinto lágrimas caírem. Nem sei mais o motivo do choro, mas deixo ele vir. Me lembro do acontecimento de horas atrás e abraço um travesseiro. Talvez, em partes meu pai estava certo em seus julgamentos sobre mim. Eu não sou corajoso, eu nem mesmo consegui bater de frente com ele ou simplesmente o responder. Apenas deixei tudo isso acontecer.
-Que droga.-me sento no sofá enquanto murmuro.
Olho para o travesseiro e penso em ir no quarto da minha mãe, mas não faço isso. Apenas respiro e tento focar no que eu posso fazer agora. De que adianta eu ficar mal por algo que não está mais no meu controle? O que eu posso fazer agora? Apoiar minha mãe, cuidar de mim depois daquilo, e me preparar para o que ele pode fazer em seguida.

O Lado Complicado de Amar Seu inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora