10 - Embarcação e Rochas

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  - São eles mesmo?! - Indaguei sentindo as bochechas ficarem úmidas de novo e Tae passou o braço bom ao meu redor. Me aninhando perto dele.
  - São a nossa carona finalmente, que bom que estamos inteiros. - Jong Up alargou um sorriso vitorioso lançando um punho vencedor no ar com perspicácia quase divina. Quando voltei a olhar para as rochas ao longe, vi alguma coisa se levantar sobre Jung Kook, era grande robusto, estava batendo asas e grasnava como se estivesse furioso. Logo em seguida Jimin libertou a criatura de uma corda comprida e então foi possível enxergar suas asas negras batendo com precisão na nossa direção, o corpo robusto e ágil se aproximando depressa, Huoyan estava ainda maior. Por quanto tempo dormimos afinal?
  Quase esquecidos eles não paravam de acenar, parecia até que estavam apontando pra alguma coisa. Que estava atrás de nós...
  - Abaixa!

- Alícia on-

  Mark, que até então eu tinha me esquecido que estava junto de nós de tão quieto que passou nos últimos minutos berrou alguma coisa e então eu me virei para trás, pelo tempo suficiente de enxergar com nitidez um par gigantesco de garras vindo de encontro ao meu rosto. Meu coração se contorceu no peito, e em seguida um grito irrompeu da minha garganta a plenos pulmões.
  Tentei lançar a mão até a arma e fui recebida com um encontrão. Antes que a coisa grotesca dos duendes me envenena-se com seus dedos afiados eu tinha sido empurrada por Levi. Caímos ambos de cara na areia, as pernas se enrroscaram e eu me virei depressa tentando enxergar onde estava a arma e a coisa. Então Jong Up que até então tinha percebido o que acontecia sacou duas facas. Lançando-as com mira na cabeça do inimigo. Quando visualizei onde se encontrava minha arma, ela estava a menos de um metro dali. Comecei a engatinhar depressa na direção da arma e assim que encostei a ponta dos dedos no gatilho Levi me agarrou de novo. Sem querer com o impacto minha arma disparou atirando pro mar. O dragão que até então não tinha se manifestado grasnou outra vez e mais duas facas foram lançadas por Jong Up de encontro ao peito da criatura. Errando por pouco nas quatro últimas tentativas.
  Rolamos na areia escapando da fúria incontida da besta outra vez, esquivando a tempo suficiente de se safar de mais um ataque das garras venenosas. O bicho uivou alto esmurrando a areia onde antes estavam nossos corpos e se voltou pra Mallya e Tae. As fileiras de dentes estavam cheias de sangue e sua língua passou pelos caninos de forma macabra.
  - Fire! - Bradou Mallya encarando de frente seu opressor e a criatura que nem tinha dado um passo na direção deles teve que retroceder com os metros de chamas recém saídas da garganta de Huoyan. O fogo foi suficiente para incendiar a coisa por inteiro, os pelos chamuscado e levantando quentura, mas mesmo assim ele não parou e se voltou para nós que estávamos mais perto. Parecia impossível despista-lo, era como se ele soubesse que iria morrer, que íamos mata-lo mais cedo ou mais tarde, porém mesmo assim ainda teimava em levar um de nós consigo. Parecia até que tinha sido enviado pra isso e não aparecido por acaso no nosso caminho.
  Levi me arranjou pelos braços me fazendo levantar depressa. Seus dedos cheios de areia me agarraram com firmeza e de relance seus olhos vermelhos se cruzaram com os meus e então ele já estava entrando na minha frente com as mãos levantadas indo de encontro a coisa.
  Mais uma vez tentei lembrar de onde estava a arma, mas o medo me assolou por completo. Não medo da criatura machucar a Levi, mas do próprio Levi. Ainda não tinha me acostumado com a ideia dele ser... Tão parecido com...
  Engoli em seco segurando para não vomitar.
  Com uma mão livre Levi usou uma das facas de Jong Up que estava cravada no ombro da coisa para agarrar o cabo e puxar tudo pra baixo, rasgando a pele do braço esquerdo da criatura até a pata dianteira.
  Em seguida, com a outra mão que já estava transformada ele usou as garras para enfiar na jugular da coisa, rasgando a garganta do outro lobisomem/duende de cima abaixo. Até a metade da barriga. E então a coisa caiu de joelhos tombando pra frente logo em seguida. E sangue respingou na areia, nos meus pés e no rosto monstruoso de Levi.
  Deixei os braços amolecerem e cai sentada. Depois de costas na areia, trêmula o bastante para não sentir todos os meus nervos. Observando o corpo da coisa se encher de sangue formando uma poça vermelha na areia ao seu redor.
  Levi passou as costas da mão no rosto tentando inutilmente limpar o sangue de seu rosto, o que só serviu para espalhar mais. E então seus olhos voltaram para aquele dourado habitual, mas era inegável a fera que habitava lá.
  - Eu sabia que você era um daqueles coisas Elfo dos Infernos!! - Mallya gritou apontando o dedo acusatória para Levi e eu me sentei abruptamente, me virando para vomitar o café da manhã. A bile roçou a minha garganta e eu cuspi até a última sobra do jantar de ontem. Com o desconforto pude sentir que os cortes do pescoço que a Mallya tinha feito que estavam quase cicatrizando se romperam e começaram a arder. Eu estava sangrando outra vez.
  Meu coração começou a disparar. Será que aquela coisa tinha passado as garras em mim?
  Se o veneno pegou em mim eu estarei morta em menos de algumas horas. Assim que senti que não tinha mais nada no estômago para botar pra fora comecei a tatear os braços e o pescoço em busca de hematomas, cortes, qualquer coisa que tenha sido feita pela criatura.
  - Alícia? - Levi se agachou na minha frente, - Tá tudo bem Alícia... - Ele pegou meu queixo com a mão limpa que não tinha sangue e me mostrou seu ombro levemente dilacerado - Não pegou em você, está tudo bem.
  Meus ossos se dissolveram em água e o alívio refrescou a minha circulação.
  Minha caixa torácica nunca tinha parecido tão pequena para tanto medo de uma só vez. Talvez daquela vez que eu e a Mallya demos de cara com a teke teke, aquela vez sim deu medo igual agora.
  - Vamos ter que cuidar disso daí rapaz. - Eu queria ter abraçado ele, mas ao invés disso cocei os olhos num impulso nervoso e ele deu risada.
  Estávamos bem, todos bem. Levi era imune ao veneno dos duendes, finalmente não tinha perigo tão perto, mas lá no fundo uma vozinha na minha mente me incriminou por ter ficado aliviada pela criatura ter acertado ele e não eu, mesmo que ele fosse imune. Era aquela parte chata que eu tentava esconder, aquela que Tae tanto acusava. Que seria capaz de colocar a cabeça de outro a prêmio apenas para salvar a minha.
  Mark também era assim, mas Mark era um monstro sem coração. E eu não quero ser um monstro igual a ele...

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