37 - Limbo

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- Mallya on-

  - Levi o que você está fazendo?!! - Indaguei com as mãos na cabeça enquanto aquele maluco, ainda com as mãos na cabeça metia as duas mãos dentro do corpo da Alicia novamente e movimentava alguns de seus órgãos.
  - Mallya você vai ter que trocar de lugar com o Tae, a Alícia não quer me ouvir, estou tentando entrar na cabeça dela, mas ela está me bloqueando, tem alguma coisa mais forte do que eu na cabeça dela. Pode ser traumas de infância, algum medo que eu desconheço, mas é muito forte, tanto que ela se enfiou em um labirinto de pesadelos mais grudentos do que uma teia de areia, é como se ela estivesse no limbo, e eu chamo e chamo e ela não sai de lá.
  - Tae se afastou, e eu ocupei seu lugar sem questionar muito, estava na cara que Tae estava se cansando, estávamos a pelo menos vinte minutos naquilo, Levi bombeando e Tae fazendo ela respirar, e mesmo assim ela estava cada vez mais pálido, os lábios fuçando azuis, e nada de voltar.
  - Mas o quê você quer que eu faça? - Indaguei entre uma respirada e outra, e arfei dentro da boca da Alicia, forçando ar dentro dela enquanto apertava seu nariz, e soprava ainda mais forte por sua boca. O gosto do seu sangue tocou na minha boca e eu tive que me conter com todas as forças para não pensar nas presas, era um péssimo momento para se transformar agora. Eu precisava conter essa maldita fome.
  Olhei para as mãos de Levi, dentro do peito aberto da Alícia e a náusea tomou conta do meu estômago com força de vontade o bastante para me fazer perder o apetite.
  Fiquei quase aliviada quando Levi me respondeu.
  - Você vai me ajudar a entrar na cabeça dela, você sabe fazer isso, está mais solta do que a Alícia, você só precisa... - E o raio que caiu a poucos metros dali, fritando galhos e partindo uma árvore no meio fez com que meu coração congelasse de susto, sem conseguir entender o final da frase do rapaz.
  - Levi eu não entendi! - Gritei de volta tentando falar mais alto que o barulho e tudo que não queriamos começou a acontecer, tinha começado a chover.
  - Droga! - Levi olhou para o céu irritado e se pois sobre o peito exposto da Alícia, tentando ao máximo cobrir seu peito na tentativa de proteger seus órgãos da água suja das folhas e galhos do alto.
  - Você precisa beber o sangue. Não muito, apenas umas gotas, só o bastante para entrar na corrente sanguínea dela. Ninfas de dragão sempre ficam mais fortes com habilidade o bastante para entrar na cabeça de outra pessoa com algo dela dentro de si.
  - Você está falando sério?! Ela perdeu sangue demais! Se eu sugar qualquer coisa ela vai terminar de morr... - Parei assim que Levi me fitou com raiva. Os cabelos loiros estava ensopados pingando repetidas vezes, e seu rosto pareceu sombrio de verdade pela primeira vez desde que nos conhecemos.
  - Ela não está morta ainda! Ainda dá pra salva-la! - Bradou ele com o pescoço e as bochechas pegando fogo de raiva e vi sua outra face surgindo, o lobo estava perdendo o controle e querendo sair pra fora. Essa não...!
  Quanto autocontrole Levi ainda tinha naquele momento?

- Alícia on-

  - Eu não fiz, eu juro que não fiz nada...! - Chorei alto, implorando que alguém me ouvisse, mas o policial do outro lado pareceu não acreditar em mim, ninguém acreditava, não fui eu quem matei eles, eu jamais mataria qualquer um deles...
  Me levantei, o chão gelado nos pés descalços me fez arrepiar até a nuca, e então no espelho manchado da cela, poucos metros a minha frente uma silhueta surgiu, aquela fisionomia de criança de terceira série sumiu e tudo que consegui ver refletido no espelho era uma mulher adulta, os cabelos estavam mais compridos, e ao invés de haver roupas de combate ou do dia a dia, ou então até mesmo o uniforme da prisão, eu estava usando um belo vestido preto que tinha um caimento tão bonito como se fosse de princesa.
  Me olhei mais de perto e então ameacei tocar o espelho com a ponta dos dedos, mas outra mão passou por ele, uma mão masculina que não tinha nada haver com a minha, e estava cheia de sangue.
  - Alicia me deixe entrar!
  De repente saiu outra mão do espelho, e quando eu pensei em me afastar, as duas grudaram nos meus ombros como se fossem garras de um predador e me puxaram com todo força para dentro dele. Assim que esperei bater a cabeça e o espelho se quebrar quando nos esbarrassemos, tudo que eu não esperava aconteceu. Eu o atravessei.
  Engoli em seco, procurando algo em que tocar para sentir que tinha aterrissando em algo, que estava no chão novamente, e vi ele, o sorriso de mocinho e cada parte daquele corpo na minha frente me fazendo sentir segura pela primeira vez depois de muito tempo.
  - Vem Alícia, me deixa entrar? Eu vou mostrar pra você o caminho se me deixar entrar!
  Ele dizia, e então eu dei a mão para Levi, ainda tentando entender do que ele estava falando, entrar? Entrar para onde?
  - Para onde vamos? - Perguntei no meio de uma risada nervosa, ele estava segurando a minha mão com tanta firmeza, parecia até que eu ia fugir se ele afrouxasse o aperto.
  - Para a vida, e para a luz.
  - A luz? Mas ir pra luz não vai me matar? - Perguntei me pondo em sua frente para que ele parasse de andar de um lado para o outro e me desse atenção e seus olhos famintos atravessaram os meus. Quase como um tiro certeiro, deu pra sentir cada parte do meu estômago se contorcer de frio. O que era frio na barriga perto daquela nevasca.
  - Não vai, eu vim te proteger gatinha. - Ele sorriu, um sorriso tão lindo que derreteu meu coração e então eu apertei sua mão mais forte, como ele estava fazendo com a minha, e deixei que ele me guiasse. Pelo menos até chegarmos a ponte, onde do outro lado se eu chegasse a atravessar havia uma porta, e nela tinha tanta luz que chegava a doer as retinas. Estava vazando claridade da fechadura e das frestas embaixo e em cima da porta.
  - É lá Levi? - Eu perguntei e ele sorriu ainda mais, alargando aquele dourado bonito em seu rosto enquanto se inclinava para me dar um beijo molhado na bochecha. Parecia até um sonho se realizando.
  - Vamos Alícia, atravessa comigo aquela porta, me deixa te amar mais um pouco. Você sabe que está cedo para ir. Está todo mundo te esperando lá fora, a sua mãe e o seu pai, até o Bambam. A Mallya está preocupada com você gatinha. - Ele me fitou cheio de ternura e eu enalteci seu sorriso, gratificada por ele estar ali. Não me sentia mais em perigo. E aquela sensação era tão boa, estava ficando quentinho outra vez, e eu podia sentir os toque do seus dedos no meu coração... No meu coração.

  Arquejando, entre um soluço entrecortado e outro eu empurrei quem estava em cima de mim sem me deixar respirar, e escutei um grito da Mallya que caiu pro lado assustada, e depois um sorriso inundou o rosto de quem estava diante dos meus olhos. Era ele outra vez, Levi. E ele estava sorrindo pra mim enquanto quebrava uma costela e tentava empurrar alguma coisa para dentro. Com as mãos dentro do meu peito. Eu tinha entendido o que estava acontecendo, que ele estava voltando meus órgãos pro lugar certo. As lembrança do lobo me mordendo e da Mallya em perigo inundaram minha cabeça me trazendo de volta lentamente. Como eu podia estar viva com ele segurando meu coração batendo daquela maneira?

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