- LEVI! - Tentei gritar, mas a voz falhou e um sussurro espremido desatou das minhas cordas vocais. Eu não estava só com medo, estava morrendo de medo!
O céu irrompeu num trovão alto e fez estremecer meu corpo inteiro. Era como se a chuva aumentasse ficando mais intensa ao ponto de ser pior do que uma tempestade, como se os eventos no carro não fossem um evento isolado e alguém de lá de cima aumentasse a chuva e a força da natureza, junto com a tensão daquele lugar. Ou talvez alguém mais próximo, a Mallya talvez? Quem era capaz de controlar o tempo meus Deus!
- Alícia o que você está fazendo comigo?!! - Ele bradou, a voz grossa tamborilando e sua mão veio direto no meu pescoço, me desencaixando do banco e sufocando o meu ar. Quase colada na janela, senti a cabeça bater no vidro, podia sentir os dedos ossudos apertando a jugular, e então pude perceber o frio e o ar molhado da janela do passageiro, tinham cacos ali, e eu senti uma dor desgraçada subir do meio do meu peito até a minha garganta, junto com uma intensa injeção de ardência que repercutiu da minha orelha, como se eu pudesse sentir o que Levi estava sentindo, me trazendo uma vontade gigantesca de chorar de dor quando senti a barriga inchada. Os pontos! Eu tinha esquecido dos pontos.
- Levi! - Foi a Mallya quem gritou, mais para uma repreensão do que um chamado, e então uma das facas dela já estava em sua mão e sendo posta imediatamente na garganta do rapaz - VOCÊ VAI LARGAR ELA AGORA, OU EU VOU MATAR VOCÊ TÃO RÁPIDO QUE NÃO VAI TER TEMPO NEM DE CONTAR OS SEGUNDOS! - A Mallya alertou e Levi me apertou ainda mais forte, me fazendo espernear e chutar o carpete. Eu podia ver nos olhos dele um ódio amargo pela Mallya, ressentido e guardado por muito tempo quando o olhar dele cruzou o da Mallya. O volante rolou e Levi buzinou sem querer com a outra mão. Eu estava ficando sem ar, estava faltando muito ar, as pernas estavam ficando moles àquela altura. Será que eu seria capaz de ter outro ataque cardíaco se faltasse oxigênio demais para o meu cérebro?
Foi como se tivesse despertado de um transe. Ou simplesmente lembrado de alguma coisa. De repente as veias no pescoço dele pararam de saltar, e então os olhos voltaram a cor normal. Aquele dourado quase felino estavam me encarando com cautela novamente enquanto ele me largava, mas estava diferente. A mão gelada foi afrouxando os nós dos dedos. Como se tivesse recobrando a consciência. Ou fingindo estar.
Assim que me livrei das garras dele pude respirar novamente e cai para trás escorada no banco, ainda com medo, ainda encolhida. Mesmo assim a Mallya ainda estava com a faca na garganta dele e o carro estava em movimento, ainda mais rápido do que antes.
- Alicia assume o volante. - Foi tudo que ele disse, e então brecou bruscamente. Fazendo a Mallya ser lançada para frente do banco de trás, a faca caiu no banco da frente sem machucar ninguém, e então o carro parou com impacto e Levi saiu. Indo para o meu lado. Pensei seriamente em trancar as portas e largar ele para fora, mas eu não sabia todo o caminho até o acampamento. Não podia entender porquê, mas Levi achava mais seguro que apenas duas pessoas conhecessem o caminho certo, para no caso de uma emboscada ninguém dar com a língua nos dentes. E essas pessoas eram ele e mais outra pessoa, que minha mente estava gritando agora que estava do meu lado, e era um cretino desprezível que eu devia ter enchido de balas quando tive a chance no dia que descobri que ele era o Gap Dong. Eu só precisava ter certeza disso.
- Mas o quê foi que houve?! - Tae Indagou estupefato e eu senti meu coração ser esmagado no peito com mais medo ainda.
- Vai pro lado Alícia, assume o volante agora! - O suposto Levi bradou e eu me levantei e fui pro banco ao lado. Tremendo, as minhas mãos estavam tremendo quando coloquei elas no volante. Eu podia estar errada. Tinha quase certeza enquanto minha intuição gritava nos meus ouvidos que Mark quem estava do meu lado. Porém eu não tinha mais certeza de nada. A dor intensificando descendo e subindo do corte no peito estavam tirando toda a minha razão. E se eu estivesse mesmo equivocada e aquele fosse o Levi. E nunca eles tivessem dado início ao plano B, e aquele fosse um lado do Levi que eu não conhecia. Que batia em mulheres e fazia o que queria quando se sentia ameaçado? Eu podia estar errada demais.
- A gente vai morrer. Certeza que a gente vai morrer! - A Mallya começou a dizer pegando outra faca e Levi entrou pra dentro pegando um dos panos que eu ia enfaixar na orelha dele de cima do painel onde tinham caído, e então começou a pressionar a orelha sangrenta da maneira mais frívola que podia. Eu não conhecia Levi bem o bastante para reconhecer mudanças de humores se ele as tivesse. Eu conhecia o Mark pouco o suficiente para reconhecer alguma diferença também. Era arriscado demais pressupor que eles tinham trocado de lugar, e o Levi prometeu que ia me avisar caso o plano B fosse necessário... Ele prometeu.
O silêncio que se instalou depois daquilo foi tão aterrador que eu queria me enfiar num buraco e não sair mais de lá.
Ofegava e com dor eu apoiei a mão no peito, sentindo que o seio esquerdo pegava fogo de dor. Era a cicatriz no meio, estava me matando eu sabia. Tinha que me acalmar. Ou ia morrer de susto do jeito que estava indo.
Foi então que eu girei a chave e mudei pra primeira marcha.... Algumas horas atrás...
- Mark on-
Meu coração começou a latejar de agonia, e eu me levantei, fitando aquele corpo bem na minha frente com desprezo.
- Pobre soldado, ninguém deve ter te ensinado a não ficar perto demais das grades. - Um riso meu ecoou ao redor da cela e eu tentei ignorar mais um pouco aquela sensação de desespero que se instalava dentro de mim. Era tarde eu sabia disso.
A Alicia estava em apuros e aflita e precisava de mim. Eu também sentia isso.
Pelo visto matar o guarda para levar a alma dele no lugar da dela ainda não foi suficiente para deixá-la em paz.
Eu preciso restaurar as coisas, e logo, estará na hora de encontrar Levi, e deixar um presentinho pro Jackson antes de ir embora.
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Prison IV
Mistero / ThrillerO pior dos piores, o fim dos tempos. Nada vai poder mudar o que aconteceu, e sobreviver é mais necessário que viver. Agora mais do que nunca a Alícia e a Mallya vão ter de se unir contra todos, ninguém mais escapa dos monstrengos que assolam a c...