16 - Duende Travesso

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- Mallya on-

  Escutei alguma coisa bater, um som que parecia tão longe... O corpo tentou pesadamente erguer a cabeça, avistando estrelinhas e flores brancas e amarelas no teto eu resmunguei fechando os olhos com força outra vez, uma luz forte quase me cegou, mas meus braços estavam tão doloridos que o máximo que eu consegui fazer foi escutar o barulho outra vez, meus olhos piscaram tentando discernir de onde vinha o som, pareciam som de pedrinhas, mas de onde?
  Meus olhos acostumando-se a claridade vasculharam pelo quarto alguma coisa e se depararam com a janela que na noite anterior entrava uma doce brisa, agora ela estava fechada, e do outro lado o que eu achei que podiam ser pedrinhas batendo no vidro na verdade eram as unhas de uma criatura esverdeada e corcunda levemente arcada para frente com garras enormes do outro lado batendo e tamborilando uma por uma das garras no vidro da janela. E ele sorria, buscando por alguma coisa enquanto tentava a todo custo me chamar a atenção.
  O horror se instalou no meu peito como se eu tivesse sido mordida por uma cobra traissoeira.
  Engasguei tentando gritar, era sonho, eu não tinha fugido, estava lá de novo com aquelas bestas feras não estava? Largada no que parecia ser aquele galpão de novo pra morrer?
  Tentei me expressar outra vez, chamar por Tae, qualquer coisa e a voz morreu na garganta libertando apenas um choro tão baixo que me deixou de coração estilhaçado de medo.
  Respirei fundo... E a criatura bateu a mão espalmada na janela tentando abrir.
  Um grito alto irrompeu da minha garganta logo em seguida, e eu vasculhei a cama em busca de Tae, de alguém, qualquer coisa, mas tudo que eu encontrei foi alguma coisa oleosa, que mergulhou meus dedos, quando avistei ser manteiga, comecei a tatear mais, até uma faca para fatiar pão encostar nos meus dedos, mal conseguia tirar os olhos daquela coisa do lado de fora, mas ainda consegui ver que tinha uma pequena bandeja de café da manhã ali do lado, eu estava num quarto, não no galpão, e provavelmente deixada por Tae, aquilo era um café da manhã pra mim. Aliás, cadê o Tae?
  Meu coração acelerou no peito e eu segurei o cabo da faca, não era muita coisa, mas serviria para rasgar a garganta daquele bicho, a criatura do outro lado pendeu um pouco a cabeça para o lado confuso e fez menção de mastigar alguma coisa, parecia até que estava pedindo algo, e então quando eu franzi o cenho ele acenou e sorriu pra mim, não estava emitindo som a não ser pelo tamborilo no parapeito e no vidro com aquelas unhas enormes amarelas. Tentando me fazer ir até lá a todo custo abrir a janela pra ele.
  Ele ia me matar!
  Lancei a faca, gritando outra vez, e a lâmina rasgou o vidro como se fosse tecido, indo de encontro a cabeça da coisa do outro lado. E então tudo desmoronou, o vidro caiu se estilhaçado no chão, a criatura gritou choramingando e se encolheu cambaleante para trás. Eu peguei o abajur e joguei na direção da janela atingindo a cabeça da coisa em cheio, assim que ele caiu eu peguei a faca que tinha caído da janela para dentro do quarto e avancei, pronta para pular a janela.

- Alícia on-

- Acredito que você não é burro o bastante para achar que eu fazia parte dos planos dele, não é mesmo anjinho caído? - Indaguei a Tae fitando Mark com rancor do outro lado da mesa forrada de comidas para o café da manhã, e Kook segurou uma risada, mas se conteve antes de soltar pela reação do Tae.
  - Mas é claro que sei, não sou idiota o bastante para te acusar sem provas, - Tae arqueou uma sobrancelha duvidosa na minha direção e eu mostrei o dedo do meio para ele, enquanto Mark continuava com o rosto afundado mas mãos, calado o bastante para não mover nem um dos dedos, nem para tomar café, Tae continuou quando percebendo que não seria interrompido - Mas elas vão aparecer, mais cedo ou mais tarde, evidências o bastante até pra Mallya não bater mais dúvidas sobre sua verdadeira natureza Alícia.
  - Boa sorte em tentar. - Kook deu risada, retrucando Taehyung e Jimin roubou uma panqueca do prato de Tae, diferente de Mark, Jimin estava calado, mas ocupava em comer no lugar de pensar. Pelo menos um aqui sabia que precisaríamos de forças pra próxima jornada.
  - Não adianta encher os ouvidos do seu conselheiro fadinha Alícia, você sabe assim como eu que não existe crime perfeito, apenas mal investigado. E eu vou ficar com os olhos grudados em você para evitar que mate a todos nós. - Tae continuou seu discurso e quando eu estava terminando o copo de capuccino para levar lá fora no saguão, a voz de Levi invadiu o recinto, me deixando bamba das pernas.
  - Eu protejo vocês dela. - Ele disse brincando e meu coração se afundou no peito, podia sentir ele se aproximando, o cheiro de banho tomado invadindo a cozinha junto com sua presença, não consegui conter o sorriso quando ele se aproximou enquanto eu lhe estendia o capuccino que estava nas mãos. A caneca era pra ele mesmo.

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