26 - Noite Pra Caçar

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- Alícia on-

  A água caiu, espirrando gotas e fazendo os peixes fugirem amedrontados pela correnteza, Mallya pulou logo em seguida, acompanhando Tae em sua queda livre para o rio. Estava calor e o nevoeiro tinha se dissipado, a água aí redor deles estava se enchendo de bolhas e ao longe era possível observar os cabelos platinados da Mallya, mesmo assim eu não esquecia da minha conserva com a ela. Ou melhor, não esquecia do fato de que talvez Levi pudesse ter ouvido também.
  Bom, se escutou não comentou nada porquê passamos o final do dia todos quietos, espertos e com medo, até chegar na primeira clareira onde havia o rio para tomar um banho e montar o acampamento pra passar a noite.
  As barracas e todo o resto estavam armados, Levi tinha tirado a camiseta cinza e estava olhando alegre para o casal feliz na água poucos metros dali.
  - Machucou muito? - Levi lançou um olhar um pouco preocupado na minha direção e eu levei uma fração de segundos para me ajustar e entender que ele estava falando da minha orelha, o corte que a faca da Mallya tinha feito não tinha sido profundo e nem tirado um pedaço da minha cabeça, apenas neguei com a cabeça, tentando mostrar que não me importava. Afinal tinha mais ardido do que fazia jus ao verdadeiro tamanho do corte, eu estava bem. E a louca da Kushisake Onna sumiu por enquanto e a Mallya e o Tae não paravam de rir naquele rio, pensavam que não estávamos vendo eles irem pra cachoeira se esconder de nós, distraídos e felizes namorando.
  - Eu queria ter isso um dia. - Levi suspirou observando Tae esconder a Mallya atrás da corrente de água que a cachoeira fazia e então ele se virou para mim.
  - Os ogros e eles, - Levi apontou para os dois fugitivos indo namorar escondido - Parecem tão felizes, meus pais eram assim, não importava em que situação que estávamos, sempre tinha um motivo pra sorrir. - Levi riu e então seus olhos se fecharam relaxados, mostrando os pés de galinhas nos cantos. O abdômen enrijeceu quando ele se inclinou do meu lado, chegando perto o bastante para nossas bocas quase poderem se tocar.
  - O que você está fazendo... - Parei um instante observando o formato da sua boca, parecia tão macia, mas seus olhos não desgrudavam dos meus - Levi? Quer namorar também? Achei que tinha te cansado já... - Falei, quase num sussurro piscando os olhos com gracejo o bastante para fazer ele ficar vermelho e o loiro sorriu ainda mais pra mim. Tão próximo que eu pude inalar o hálito dele. Hortelã talvez? Onde que ele arrumou chiclete aliás?
  - Vem caçar comigo? - Pediu, passando as pontas dos dedos no meu ombro, a mão estava tão gelada em contraste com a minha pele, enquanto ele me fitando com os olhinhos dourados brilhando como se fosse um gato, eu assenti, incapaz de responder e estragar aquele momento. Queria avançar e beijar sua boca, ele estava tão perto e tão... Distante. Suas intenções eram outras.
  Eu sabia muito bem que se forçasse ele podia recuar. Ou talvez não, talvez aceitasse meu beijo... Eram flertes demais e talvez demais para eu poder ter certeza de alguma coisa.
  Quando ele se afastou eu finalmente tive coragem de dizer alguma coisa.
  - Vamos só fazer uma ronda, não é bom chegar tão longe para a bruxa louca não nos pegar sozinhos. - Comentei e ele riu começando a desabotoar a calça e largar pelo caminho.
  - Acho que damos conta dela, eu e você, de olhos fechados. - Ele gargalhou, lançando um olhar desafiador na minha direção, pegando sua camiseta cinza que estava no chão a poucos metros de sua calça para jogar em cima de mim e eu me levantei, indo atrás dele enquanto retirava a minha blusa. Já podia sentir a adrenalina soltando faíscas pelas minhas veias como se fossem elétricas.
  Era o lobo chamando, era tão estranho saber que tinha alguma coisa dentro de mim, feroz e indomável. Como se fossem duas mentes, minhas mesmo, mas que eu só pudesse controlar parte de uma delas. A outra não me deixava chegar tão perto e assumia quando eu me transformava. Como se fosse outra personalidade debaixo da pele.
  Tirei a calça como Levi tinha feito, largando pelo caminho e quando saí da clareira, próximos das árvores de onde tinha percebido que ele havia ido. Dei de cara com Levi pelado.
  - Eita! - Me virei de repente, de costas pra ele pelo susto, sentindo o peito subir e descer dentro do sutiã e senti Levi chegando perto, próximo o bastante para sentir suas mãos geladas abrindo o fecho do meu sutiã.
  - O que foi gatinha? Está com medo de me deixar ver você? Você sabe muito bem que já vi você mais vezes do que podemos contar. - Pude sentir o sorriso dele queimando nos meus ombros, uma risada tão gostosa que fez com que eu sentisse um calorão subir pelas bochechas. Que droga, eu estava enrubescendo completamente.
  - É estranho tirar a roupa quando a intenção é outra. - Comentei me virando de frente pra ele, agora já deixando cair a calcinha pelas coxas, e ficamos frente a frente.
  E por nenhum momento seus olhos desgrudaram dos meus. Ele não ousava olhar, nem mesmo uma espiadinha.
  Ainda estranhava esse respeito todo por parte dele. Era um comportamento pouco comum, pelo menos da visão que eu tinha. Como se estivesse esperando algum tipo de permissão minha para o fazer.
  Quando não haviam mais roupas que nos separasse ele se afastou, indo para trás de mais árvores, me puxando pela mão para ir junto. Tentei conter a vergonha, ele estava me levando pro mato, e estávamos nus. Se fosse em qualquer outra circunstância, ou em qualquer outro dia, eu podia jurar que ele iria aprontar comigo. Afinal Levi era um estranho no final das contas, um homem grande e aparentemente mais forte do que eu. Que chances eu teria se sua mente fosse malvada?

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