33 - Fera Incontrolável

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- Mallya on-

  - Chegamos.
  Parecia até estranho quando minha voz saiu, era como se tivesse alguma diferença, mas ninguém reagiu de forma estranha com relação ao meu tom. Era estranho, apenas eu me sentia diferente.
  - Que bom. - Levi teve a decência de responder depois de quase um período todo de inquietação da minha parte, e Tae desceu de onde vinha voando, vindo ao meu encontro enquanto a Alícia o interrompia pelo caminho apontando que ele devia colocar as mochilas no nosso carro primeiro. Quem será que iria dirigir aliás? A Alicia é um pouco arriscado... Por mais que ela não esteja bêbada...
  - O que estamos esperando? Vamos procurar! -. A Alicia quem irrompeu depois de instruir Tae e então nos dividimos. Mas eu sabíamos muito o que iríamos fazer após chegar, o que tínhamos noção é exatamente o que a Alícia propôs, procurar, pistas, sinais de luta, qualquer coisa, até mesmo sangue ou corpos... Tae me deu um beijo estalado rápido e foi pra junto de Levi, deixando nós duas sozinhas. Agora todos humanos e na forma natural que nossos corpos permitiam.
  Mas eu ainda podia sentir as asas e a força que o meu lado híbrido me ofereciam, escondidos num cantinho escuro pedindo pra sair como se eu fosse me expreguiçar. E aquela sede desgraçada vinha puxando cada nervo e cada membro do meu corpo na direção da Alícia. Parecia até mesmo que eu não estava em mim, como se tivesse uma camada fina de outra pele. Era eu, mas era diferente, eu me sentia diferente não só pela minha aparência, mas pela minha própria cabeça. Como se eu fosse capaz de reagir como outra pessoa em peles diferentes, mesmo que lá no fundo em ambas as partes eu fosse a mesma pessoa.
  - Está tudo bem? - Indagou a Alícia alisando a nuca onde seus cabelos curtos estava se bagunçando por causa do vento e enquanto tentava me guiar pelo caminho adiante com ela, eu lhe interrompi.
  - Não deveria ser eu a te perguntar isso? Desde quando você resolveu largar o osso? - Indaguei de volta arqueando uma sobrancelha duvidosa na direção da garota ao meu lado e ela encolheu os ombros como se não soubesse a resposta para aquela pergunta. E nós duas sabíamos que mais cedo ou mais tarde ela ia ter que falar o que estava havendo.
  Fomos caminhar, alguns metros para trás da trilha de onde era para os meninos terem vindo, mas não havia muito o que olhar, tudo era mato e folhas pra todo lado, árvores secas e algumas boas para até dar frutos, mas eu duvido que alguma coisa boa  e comestível possa ser que brote por aqui. É uma terra amaldiçoada demais para qualquer alimento ser benéfico para seres vivos.
  - Não sei. - Ela começou, a voz se arrastando quase como se estivesse mergulhada num oceano inteiro de preocupações. E uma parte delas eu até entendia. Ela não ficaria tão abalada por um rapaz, eles tiram ela do sério e a deixam nervosa, não triste. Outra coisa estava lhe incomodando.
  - Desembucha Alícia! - Pedi, já ficando inquieta com tanta enrolação e a mesma me fitou bufando, toda exasperada.
  - Eu não queria que tivessem pego o Suguinha e o Huoyan. - Ela suspirou e então acrescentou condescendente - Não que eu não me importe com os outros, tirando o Mark claro.
  - Eu sei, eu também estou preocupada com eles. - Assenti apoiando o braço ao redor de seus ombros e a mesma esperou que cruzassemos pelos menos mais umas três árvores, longe o bastante dos meninos, para então me abraçar forte. Pude sentir uma fungada no meu pescoço e ela começou a chorar.
  A abracei mais forte, colocando meus braços ao redor dos dois ombros agora, e alisei com carinho as costas da mesma. Tentando ao máximo ignorar o cheiro iminente de sangue que subia de suas veias e se instalava no meu nariz.
  Era como se conversassemos, com aquela coisa quente e metálica me chamando pra esvaziar seu corpo até a última gota.
  Engolir em seco, mordendo com força a boca para evitar fazer o que minha mente estava tentando me convencer que era errado, e então afastei o rosto de seu pescoço, apoiando o queixo moderadamente perto de sua garganta, tentando me livrar da tentação. Foi no exato momento que vi um momento entre as próximas três fileiras de árvores espinhentas pouco a nossa frente.
  Dentro toda aquela camada de folhas tinha uma porta aberta do que parecia ter sido algum dia um Vectra, o velho carro mal escondido jazia dentro de seu interior duas criaturas, uma grotesca e peluda que estava dilacerando com todos os dentes alguma conta no banco do motorista, e do outro lado da história, o pobre Arak. Ele era a coisa morta servindo de alimento para o lobo mirando gigantesco em cima dele. E ele nos viu.
  - Alicia não se meche! - Tentei sussurrar, acalmando-a, mas já era tarde demais. Ele estava vindo, a todo vapor. E se tinha um deles aqui, com certeza haveriam mais, então não poderíamos fazer muito barulho.
  Como se sentisse o perigo, Alícia mandou a mão para o bolso, agarrada atentamente a arma, que não sei como ainda estava com ela, podia jurar que Levi tinha tomado dela depois da última gafe.
  - Tá na mira! - A Alicia se virou depressa, a arma sendo destravada. E ela se pois na minha frente me empurrando para trás com força enquanto mirava na cabeça do bicho. Cambaleei, os pés se confundiam e fui pro chão. No momento exato que a coisa começou a acelerar na nossa direção.
  E ele vinha carregando alguma coisa entre os dentes, era um... Era o braço do Arak, e ele estava sorrindo enquanto trazia isso consigo.
  - O barulho Alícia!

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