Capítulo 14

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  Fui enganada por todos que amo. Era o que se passava na minha cabeça o tempo inteiro. Lágrimas? Eu já não tinha mais de tanto chorar. Por que não me contaram isso? Pela primeira vez na vida eu poderia dizer que estava com raiva dos meus pais. Por que todo mundo mentia para mim?  Era a pergunta que ninguém poderia responder.

  Eu já estava exausta, chorei por horas e mais horas. Minha cabeça estava doendo em tempo de 'explodir'. O telefone tocou. Era a Mel. Desde que viajei tínhamos conversado poucas vezes. 

- Oi Mel.
- Oi Nick. Tudo bem?
- Ah tá tudo otimo. Só que não.
- O que houve Nick? Porque tá chorando?
- Meus pais não são os meus pais verdadeiros. - depois dessa frase dita fui novamente atingida por 'crise de choro'.
- Oh meu Deus Nick, você tá brincando né?
 Demorei um pouco a responder, o choro tomou conta de mim de uma certa forma que eu mal conseguia falar.
- Meu pai se é que posso chamar ele assim, deixou uma carta para mim antes de falecer contando- me. Mel não fala pra ninguém isso, e quer saber vou embora desse lugar não tenho condições de ficar aqui e fingir que nada aconteceu. Vou agora comprar a passagem de volta.
- Nossa Nick que coisa absurda. Mas amiga mantenha a calma, e faça o que achar melhor, se for mesmo voltar me avise ok? Mas faz um esforço pra ficar aí, aproveita sua viagem.
- Manter a calma?! Como? Diante de uma situação dessa acho bem difícil. Mas Mel eu vou voltar sim, aí pelo menos tenho minha amigona linda pra me abraçar e me fazer rir de qualquer coisa, ai Mel nem sei o que seria de mim sem você!

- Awn que fofa, faço das suas palavras as minhas, minha vida seria tão sem graça sem você Nick. Amiga se quiser pode ficar aqui em casa.

- É... Acho melhor não. 

- Ah tá, sei por que. Cadu não vai te incomodar, eu garanto. 

***

 No dia seguinte eu estava de volta ao Rio, inventei uma desculpa qualquer para mim avó. Minha mãe não sabia da minha volta, sai do aeroporto e peguei um táxi, eu não fazia a mínina idéia para onde eu iria, só pedi para o taxista ir em frente no caminho eu decidiria onde eu iria parar. Ele me achou uma maluca, claro, não é qualquer hora que se encontra uma doida varrida, com os olhos vermelhos de choro, várias malas, sem rumo. A única que me entederia seria a Mel. E de repente eu já sabia para onde iria. Falei o endereço para o táxista e em menos de quinze minutos eu já estava em frente a casa de Mel. 

- Amiga! - Mel veio correndo até mim e me deu um super abraço.- que saudade de você. - sorri.

- Eu também estou morrendo de saudade. 

- E aí, como está se sentido? Tá melhor? 

- Dona Melina, por que fazer perguntas óbvias? Eu estou péssima... 

- Isso vai passar, é como você sempre diz: tudo passa, não é mesmo? - Ela sorria, seu sorriso belo e encantador fez com que eu me sentisse melhor e sorri de volta. Eu assenti, e Mel fez sinal com a cabeça para entrarmos

- Está sozinha Mel? - eu perguntei olhando ao meu redor, não tinha visto Laura, que provavelmente estaria trabalhando.

- Minha mãe está no trabalho, e meu irmão... Está no quarto. - Fiquei feliz e triste ao mesmo tempo quando soube que estava tão perto e tão longe de Cadu ao mesmo tempo.

- Ah tá.

- Nick, já ligou pra sua mãe? 

- Não, vovó com certeza já fez isso por mim.  

- Acho melhor você ligar, nada de ficar com raivinha agora, esse é o momento em que vocês devem ficar mais unidas e conversarem sobre isso... 

- Mel, você não tem noção da mágoa que me consome, e olha só, eu não quero voltar pra casa, eu sei que quando chegar lá e minha mãe souber que eu li a carta, ela vai falar coisas clichês que não estou nem um pouco afim de ouvir.
- Nick... Ela é sua mãe. Pode até ser que não seja de sangue, mas mãe é aquela que cuidou de você, deu todo amor, educou ... E ela fez isso e muito mais por você e se for preciso faz qualquer coisa pra te proteger, sabe porque? Ela te ama! Vocês passaram por momentos muito difíceis e eu sei que ainda sofrem, vocês precisam uma da outra, não podem ficar assim. - a voz de Mel soa tão convincente que decido na mesma hora ligar para mamãe, meu orgulho idiota não me levaria a lugar nenhum.
- Você tem razão Mel. Obrigada pela ajuda e conselhos. - dei-lhe um abraço. E ela foi até a geladeira pegar algumas besteiras para comermos, estávamos mortas de fome.
  Eu estava sentada no chão de seu quarto com o corpo encostado em uma parede. Peguei o celular no bolso do meu short e disquei o número da mamãe. Ela logo atendeu.
- Nick! Minha filha, você me preocupou. Por que não disse que voltaria antes? Sua avó me ligou perguntando se você havia chegado bem, até estranhei na hora.
- Minha mãe sendo minha mãe. Interrogatório estava por vir.
- Oi mamãe. Desculpe-me. Eu li a carta e fique sem chão e sem condições de ficar na casa da vovó. Aí decidi voltar. Por que você não me contou antes? Não custava nada.
- Nick, primeiro me diga: onde você está ?
- Na casa da Melina.
- Vem já para casa. Conversamos aqui. - sua voz demonstrava sua ira. Não sei porque ela estava assim, eu que deveria  estar irritada com ela. Ela havia ficado brava por eu ter voltado sem falar, mas eu não havia feito nada demais.
  Eu não sabia o que fazer, mas achei que seria melhor conversar com mamãe, como era difícil pronunciar essas palavras, mas então fui até a cozinha e avisei a Mel que o lanche ficaria para outra hora, e disse que precisava ir embora. Ela até estranhou por que a pouco tempo eu havia dito que não queria voltar para casa. Peguei minhas malas e Mel me ajudou com elas.
- Eu te levo de carro.
- Mel você não pode dirigir.
- Quando se trata de ajudar meus amigos, eu posso. - ela riu. Não disse mais nada, mas me preocupei.
Colocamos a malas no porta-malas do carro e ela me deixou em frente minha casa. Nos despedimos e queria ter convidado ela para entrar, mas eu sabia que o clima não estaria bom para receber visitas.

Querido Coração ConfusoOnde histórias criam vida. Descubra agora