Capítulo 28

145 6 2
                                    

- Você é fã da Fly né? - Júnior me perguntava analisando meus CD's

- Bastante... eu gosto muito dessa música aqui - coloquei o dedo sobre a música "seus detalhes".

- Já ouvi. Minha irmã já foi em um show deles.

- Legal, já fui em vários. Tenho até fotos com eles.

- Arrasou. - ele disse com voz de menininha, pelo menos tentou (risos).

- Cadê sua mãe que não chega hein?

- Ela foi acertar os detalhes finais do buffet.

- Não vejo a hora de pedir permissão a sua mãe para namorarmos, tô até com medo da resposta.

- Iih Júninho para!

- Tá parecendo minha mãe falando assim.

- Ótima comparação. Sua mãe é uma diva. Gata, perfeita.

- Quanto elogio, nunca vi uma pessoa gostar tanto da sogra. - ri.

***

- Oi Ana, tudo bem?

- Oi Júnior, tudo ótimo e você?

- Um pouco com medo, mas tudo OK. - Júnior era muito fofo, porém um "cagão", não sei porque ele ficou com medo de falar uma coisa tão simples. Ele havia dito que mamãe tinha cara de brava, não só cara, como também era. Mas só quando era necessário.

- E-eu e a Ni-nick... - ela o interrompeu.

- Tá, eu sei, você e Nick estão namorando, por mim tudo bem! você é um ótimo rapaz, felicidades e muito juízo. Agora tenho que ir experimentar meu vestido mais uma vez, acho que engordei um pouquinho. Torçam para isso não ter acontecido. - Ela dizia toda animadinha. Nessa hora o interior do Júnior deveria estar em festa, olhei para ele com aquele olhar "aí tem".

Mamãe saiu e Júnior me puxou para sentar.

- Já falou com a Larissa?

- Não! E nem vou.

- Acho que deveria. Apesar de tudo ela é sua amiga.

- Não! Eu só confiei nela e achei que realmente podia contar com aquela vadia. A única amiga na história fui eu.  

***

  Ouvi a campainha tocar, eu estava no quarto e tinha acabado de sair do banho. Mamãe provavelmente tinha ido atender. Uma certa curiosidade surgiu em mim. Afinal, já era meio tarde pra receber uma vista qualquer. Júnior não seria, pois ele tinha ido embora à pouco tempo.

  Sai do quarto passei pelo corredor, onde tinham duas portador que dava acesso ao quarto de mamãe, e o quarto de visitas. Vi uma mulher que eu jurava nunca ter a visto na vida. Mamãe sussurava. Infelizmente não podia ouvir muito bem.

- Vá embora Lauren! E nunca mais volte. A Nick não pode nem sonhar que você veio aqui. - fiquei me perguntando o porque da mamãe ter dito aquilo. Eu nem conhecia essa mulher. Tentei me lembrar de alguma Lauren. Mas não conseguia me lembra de nenhuma. A carta. A Lauren da carta. Aquela mulher podia ser minha mãe. Era a minha mãe. Eu precisava me aproximar e tentar entender o que estava acontecendo. Mas não tive coragem. Minhas pernas travaram.

- Lauren, afaste-se por favor. A Nick já passou por muitos problemas e ela não está preparada para conhecer a mãe biológica. - Por um segundo fiquei até sem pensar e muito menos sem reação. Era a minha mãe, vista por mim a primeira vez. Dessa vez, andei até a porta mesmo sem querer.

-  Lauren? -foi a única palavra que minha boca teve a capacidade de pronunciar.

- Nicoli, minha filha. Como você é linda! - ela me abraçou. Continuei imóvel e ela chorava muito. Continuei com meus braços no lugar enquanto minha segunda mãe, ou primeira sei lá, chorava no meu ouvido. Dizendo muitas coisas que não conseguia assimilar no momento.

- LAUREN! SAIA DAQUI IMEDIATAMENTE!

- Mãe, deixa ela aproveitar o momento, talvez seja único em sua vida. - mamãe respirou fundo e assentiu. Elas não deram muita importância ao que eu disse,  e muito menos entederam. Eu não podia simplesmente agir como se nada tivesse acontecido. 

Lauren deixou de me abraçar, e alisava meu rosto.

- Nicoli, me desculpa por tudo. Eu fui irresponsável, mas eu queria poder reverter a situação. Faria qualquer coisa pra ter o seu perdão.

- Tá tudo bem, sério, eu te entendo. É super normal uma pessoa engravidar aos 16 anos, e não querer assumir a responsabilidade. Você acha que um filho é um boneco que você dá para os outros, e depois disso desaparece do mapa. Aí uma bela noite, a mãe resolve aparecer e ... Querer pagar de boazinha. Lauren, não tenho o porque de ter aparecido aqui nessa porta, essa minha curiosidade!  Eu nunca queria nem ter conhecido você. A minha mãe é essa aqui - apontei pra mamãe. - ela sim é minha mãe é e sempre será. Foi ela quem ficou acordada as noites em que precisei de atenção, quando estava doente ela que dedicou seu tempo a mim, quantas vezes deixou de fazer o que queria para dar a mim o que desejava. E agora eu estou grande, não preciso de tanto cuidado. - eu já estava chorando. - Sabe, é muito fácil admirar o que já está pronto. Mas na hora da luta só fica os bons soldados. Eu chorei muito e as vezes ainda choro, ela sim - apontei novamente pra mamãe- sempre me amou mesmo não sendo filha de sangue dela. Ter filhos qualquer uma pode ter, mas ser mãe não é um dom que todas mulheres tem. Me desculpe. Mas tenho que subir. - Lauren chorava desesperadamente. E pensei comigo se não tinha sido dura demais, se fui ou não isso não importava. Era o que se passava dentro de mim e o que tinha a dizer. Ela tentou me impedir mas não foi o suficiente para me convencer a ficar ali. Ouvi algumas coisas do tipo "Lauren,tá vendo! Você não deveria aparecer aqui. A Nick estava tão bem e você simplesmente pareceu e colocou fim nisso."

Vi uma foto minha e de papai em cima da escrivaninha.

- Se você tivesse aqui agora você com certeza teria algo a dizer pra me consolar. Você faz muita falta, muita mesmo. Eu te amo pai, pra sempre. - Tomei um baita susto quando a cortina se mexeu, estava meio escuro apenas a luminária da escrivaninha estava acesa. Fui até a janela e a fechei. "Problema resolvido" pensei comigo.
- Queria que todos meus problemas se resolvessem assim, num piscar de olhos.

Poucos minutos depois mamãe chegou no quarto, e bateu na porta que esta entreaberta.

- Nick?

- Oi mãe, entra aí.

- Desculpa por tudo aquilo, eu jamais imaginei que aquela... que aquela idiota da Lauren apareceria aqui depois de tantos anos desaparecida. 

- Pensei que essa mulher estava morta, e bem que podia estar mesmo.

- Filha vá com calma, apesar de tudo foi ela quem te deu a luz e carregou você durante meses. Ela sofreu muito por você meu amor.

- Sofreu? o que por exemplo?

- Seu pai dizia que os pais deles expulsaram ela de casa quando descobriram que ela estava grávida. Ela não tinha condição alguma de criar você, e eu e Vicente tínhamos casado a poucos meses, ficamos com pena e resolvemos registrar você como nossa filha. Ela ficou muito abatida, entrou até em depressão, eu sei que ela jamais queria que isso acontecesse, antes dela sumir ela pediu para que cuidássemos muito bem de você.

- Nossa, quem eu achava que era meu pai, é meu tio. Era.

- É meu amor, mas isso não importa agora. 

- Não importa pra você mãe. Pra mim isso é muito estranho. Eu sei que você já perdeu seus pais a muito tempo, e nem sente mais falta deles não é?

- Que bobagem Nicoli, claro que sinto! eu sinto falta, mas aprendi a conviver com a dor da perda.

- Desculpa, estou um pouco mal. Poderia me deixar à só?

- Tudo bem. - Ela saiu em silêncio do quarto,  novamente encostando a porta.

Querido Coração ConfusoOnde histórias criam vida. Descubra agora