Capítulo 30

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  Eu não dormi na casa da Mel. Acho que o ser humano tem que ter ao menos um pingo de inteligência. Se é que vocês me entendem. Não por causa da Melina mas pelo trouxa do Cadu. Trouxa. Trouxa. Eterno trouxa. Trouxa...

***

No dia seguinte...

- Chegamos família! - dizia George todo empolgado com a casa nova. Estávamos indo vê-la pela primeira vez. Era espetacular. Grande. Com piscina. Área para churrasco. Realmente era linda.
  Mamãe achou melhor comprarmos uma casa nova. Aquela casa trazia muitas lembranças do passado. E por mais que tenham sido boas, as antigas lembranças talvez não sejam tão boas no presente.
  A casa tinha duas entradas. A dos fundos e da frente. Que era onde se localizava o grande portão para passagem de carros. Sim, agora tínhamos carro no plural. Carros. Não imaginei que o Sr. George era tão bem de situação financeira. Acho que ele não quis revelar muito isso a nós. Ele não aceitava o fato das pessoas considerarem ele rico. Humildade é tudo mesmo. Vemos tantas pessoas no mundo querendo aparentar quem não são ou por algum motivo não podem ser, e outras escondem quem realmente são. Existe os dois lados da coisa. O lado ruim e o lado bom.
Tirando o fato de que George era um marido-coruja (se é que existe essa expressão), ele era um cara sensacional. Ele era considerado marido-coruja pelo fato de ficar de mimimi com a minha mãe o tempo todo. Eu ficava feliz por ela e triste ao mesmo tempo por ter terminado com o Júnior. Foram bons meses ao lado dele. Exatamente 5 meses e 13 dias. E o motivo foi o mais idiota possível. Acho que ele aproveitou a chance pra poder terminar mesmo, por que quando a pessoa não te ama de verdade ela raramente vai aceitar seus defeitos e te suportar com juba de leão. Eu deveria ter notado àquela paixonite toda (arg). Me iludi bastante. Eu só queria aceitar o fato de que ele era o cara perfeito pra mim e que eu tinha por que tinha que gostar dele mesmo não gostando. Algumas coisas não tem mesmo que acontecer, mesmo achando que elas tem que acontecer por que é o melhor pra gente. Nunca sabemos o que realmente é pra bom. Somente o tempo nos mostra o que é e não é.

- É linda não é filha?

- Muito mãe. Só não pensava em abandonar nossa casinha tão cedo. - sorri pra ela.

- Acho que você vai gostar de morar perto da Mel. Já que vocês voltaram a ser melhores amigas.

- Não voltamos a ser melhores amigas, sempre fomos. Só estávamos dando um tempo.

- Hum.

- E morar perto da Mel significa morar perto do Cadu. O que significa que... - ela me interrompeu antes que eu terminasse a frase.

- Significa que você o verá sempre. E aqui entre nós filha, eu sei que você ainda ama esse garoto.

- Mãe! Ele é um idiota.

- Que você ama. - bufei. Estava sentada á beira da piscina enquanto George estava olhando a casa pela última vez antes de nós mudarmos. Mexia meus pés na água da piscina  aumentando a velocidade gradativamente.

Me levantei com raiva, e sai para fora. Fiquei na calçada por um tempo. E reparava algumas pessoas em sua casa. Alguns lavavam o carro, crianças brincando, todos aparentemente felizes. Era um condomínio de luxo. Cada cantinho era perfeito.

- Psiu! Nick. Espera aí. - me virei e vi Cadu atrás de mim com um buquê de flores, lindo.

- Virou floricultor agora Carlos Eduardo?

- Por você viro qualquer coisa. - ele disse sorrindo. E me entregou o buquê.

- Até que são bonitinhas. - Falei não querendo demonstrar que eu tinha amado. Fazia algum tempo que não ganhava um buquê de flores tão lindo.

- Só bonitinhas? São suas preferidas. Rosas vermelhas.

- São lindas. - Quando percebi ele já estava me abraçando e sussurrando no meu ouvido. Portinari. O perfume do Cadu. Foi a unica razão para eu continuar abraçada à ele. O perfume.

- Eu te amo. E já nem tenho mais palavras e argumentos pra te pedir perdão. Mas... Me perdoa?

- Cadu... Da última vez que eu fiz isso você sabe no que deu. Por mais que eu queira, não consigo.

- Consegue, por que você quer. - Vi mamãe se aproximando e logo me desfiz do abraço.

- Olá Cadu. Como vão às coisas? Pelo que me parece tudo bem não é?
- Nem tudo. - Ele olhou pra mim. Desviei o olhar tentando fingir não saber ao que ele se referia.

- Vocês hein! Não se resolvem nunca. Já vi gente enrolada mas vocês vão entrar para o livro dos recordes.

- Tchau pra você também. Vem comigo Cadu. - puxei Cadu pela mão e o levei para longe da minha casa. 

Tropecei em numa infeliz pedra.

- Cuidado Nick. - ficamos sérios alguns segundos. Olhei para o rosto dele e não consegui segurar o riso. Rimos tanto que fez parecer que estávamos no passado, onde a pior coisa que fazíamos era tocar companhias no condomínio onde eu morava, e sair correndo. Quando éramos pegos no flagra era um corre-corre danado.

- Aonde você está me levando? - Cadu perguntou.

- Não sei. - respondi seca.

- Como assim? Está me levando à um lugar e não sabe onde é precisamente. Nossa. Você está meio confusa.

- Você saberá. - falei com ele e continuávamos andando.

Fomos até um parquinho que ficava em uma praça próxima a casa que eu poderia chamar de "futura casa".

- Lembra desse lugar? - eu estava fazendo um teste. Se ele realmente gostasse de mim e quisesse nossa volta ele saberia. "Se ele lembrar-se, terei certeza. É se ele lembrar-se e contar os detalhes terei mais certeza ainda. " pensei comigo.

- Por que você está perguntando? Claro que sim. Quando era criança meu pai costumava me trazer aqui quando íamos na casa da minha falecida tia, logo ali na frente.

- Carlos Eduardo?

- Oi? - ele parecia viajar em seus pensamentos.

- Foi aqui. Onde tudo começou. A nossa primeira briga. Era aniversário da sua tia que não me lembro o nome, eu estava na sua casa, e a Mel me chamou para vim com vocês. Aceitei. A festa estava meio entediante, só tocava música de velho e as únicas crianças éramos nós três e a Ágata. - Ágata era um prima chatinha do Cadu que se você se aproximasse dela ela já começava a chorar de tão chata. - Você nos chamou para vir aqui. Aceitamos e viemos.

- Nick. Eu me lembro. Não precisa contar essa história. Eu não queria magoar você e você sabe muito bem que eu sempre amei você. A Ágata sempre foi uma pirralha. É até hoje. É pior ainda. Eu tinha dez anos e ela treze e desde sempre foi atirada. Você morria de ciúmes de mim. - ele sorria de lado.

- Ah não exagera!

- Vai dizer que é mentira? - ele continuava sorrindo de lado.

- Não. - enfim eu confessei. Ele se aproximava de mim a cada segundo. Eu nem me mexia como se tivesse perdido o controle do meu corpo e do cérebro. Esses são os efeitos colaterais da paixão.

Querido Coração ConfusoOnde histórias criam vida. Descubra agora