Elegância trajada

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Acordei com o ronco arrastado de Knuckles. "Ótima forma de começar o dia", pensei. Decidi não acordá-lo, notava-se sua exaustão pela viagem e ainda assim passou horas conversando sem parar comigo.

Ele mostrou grande interesse quando comentei sobre Rouge e acabamos fazendo planos em ir finalmente a uma de suas apresentações, estas que eu e Shadow descobrimos acontecer por volta das nove da noite. A festa de fantasias daria início às dez, então seria tempo suficiente para ambos se conhecerem e matarmos a saudade um do outro.

Ao por-me de pé, instantaneamente recordei do cesto de maçãs que Lancelot comentara ter deixado na cozinha ontem a noite para distribuirmos aos cavalos, incluindo o seu, Garanhão. Sem contar que precisávamos sair para comprar roupas novas para festa. De fato, o dia será bem longo hoje.

Tomei uma ducha rápida e vesti minha capa mais velha, seguido dos tênis comuns de sempre. Saí do quarto silenciosamente e peguei o corredor que cruza próximo a sala do trono. Fiz esse trajeto para saber como estava ficando a decoração, mas acabei como na última vez, escutando diálogos dos quais me mantêm afastado para não ouvir. Infelizmente a conversa entre meus pais e Shadow pela manhã chegava ao fim:

– Acha que pode fazer esse favor para nós? – perguntou minha mãe ao ouriço vestindo prata.

– Sim, altezas, reconheço meus erros e farei o possível para satisfazê-los – respondeu ele.

– Assim esperamos que seja, Sir. Por hoje é só, pode ir iniciar seu treinamento – encerrou meu pai. Seu semblante era deveras estranho.

Quando Shadow virou-se para sair pela porta da qual eu observava-os, corri até a cozinha para que não me visse. Encontrei a cesta de frutas transbordante com maçãs sobre um dos balcões, então agarrei-a e corri novamente, agora até parar no estábulo. Estava com metade da cesta vazia, e foi nesse momento que Lancelot aparece, um pouco surpreso.

– Acordou cedo hoje. Bom dia – caminhou até a cabine de Garanhão, distribuindo um afago por sua cabeça – Bom dia para você também – disse encarando o animal nos olhos – Vejo que fez um ótimo trabalho cuidando dos cavalos – o que ele dizia, eu apenas acenava em silêncio – Eu fui há um minuto te acordar, e o que encontrei foi aquele seu amigo num ronco pesado, nem se parece com um príncipe enquanto dorme. Inclusive, vocês dormiram bem?

Tudo que passava-se por minha mente eram as tantas conversas privadas que Shadow tinha com meus pais, me perguntava o que era tão ruim ao ponto de não poder ser compartilhado comigo também. Estou me sentindo excluído e frustrado, além de mera curiosidade. E mesmo que eu pergunte, duvido muito que venha algo concreto de resposta.

– Hey, tá tudo bem? Está tão quieto – sua mão pousou em meu ombro, recuei pelo susto e todas as maçãs que restavam na cesta, esparramaram-se pelo chão. Shadow fez uma cara que nunca tinha visto antes – Sonic?

– O que tanto meus pais falam com você? – tomei a devida coragem, não me contive.

– O que você ouviu? – ele de repente ficou muito sério, tinha alguma coisa errada, podia sentir.

– Algo sobre realizar um favor.

– Ah, sobre isso. Não era nada com o que você precisaria se preocupar.

Já ouvi essa desculpa antes. Não quero estar alheio ao que se passa ao meu redor enquanto não estou por perto dele, quero conhecê-lo mais, quero estar incluso em todos os seus assuntos, por mais íntimos que eles sejam. É porque me importo com ele? Isso não importa, mas Shadow sim importa para mim.

– Eu quero saber que tipo de favor era esse – insisti. O ouriço negro suspirou, abaixando-se para juntar as maçãs, respondendo-me sem olhar diretamente para onde eu estava, de costas:

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