Dupla proibição

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No caminho de volta à cozinha, para deixarmos os utensílios que usamos, notamos alguns guardas na entrada recebendo um mensageiro. O pobre coitado estava ensopado, mas, mesmo assim, conseguira guarnecer as cartas que levava.

– Tenho uma correspondência destinada ao jovem príncipe, posso entregá-la pessoalmente?

– Sim, estou aqui – aproximei-me dele curioso, nunca recebera uma carta antes.

– Ah, bem – o homem de mãos trêmulas pelo frio estendeu o envelope até mim – Creio ser importante, ela veio diretamente do reino do norte.

– É do Knuckles! – sorri. Lancelot parou-se ao meu lado para ler também. Rasguei o papel apressado e empolgado, torcendo para que fossem boas notícias – Dois convites!

– Para o que? – perguntou o cavaleiro.

– Ele vai se casar daqui poucos dias! – meu peito aqueceu, passar meus olhos através daquelas invitações fizeram ter mais um ponto de confiança – Espera, tem uma foto também – ali via-se Rouge e o echidna, sorrindo juntos.

Lacrimejei. Ela estava linda, usando um vestido comprido de princesa e tiara dourada. Podia sentir através daquela imagem estática, apenas com olhar para seu rosto, o quão feliz se aparecia.

– Obrigado – disse comovido ao mensageiro – Você não gostaria de ficar e esperar a chuva passar? Temos café.

O homem mostrou-se imensamente interessado, mas decidiu partir, ainda tinha trabalho o qual fazer, então pedi que lhe entregassem uma gorjeta, seu merecimento era evidente. Segurei aquela correspondência firmemente, haveria de guardá-la com muito carinho e arranjar dois trajes para a maravilhosa ocasião.

Até o final da semana, os minutos mais desconcertantes do dia se tratavam do almoço e jantar. De um lado meu, Lancelot sentava-se, sério. Do outro, obrigatoriamente, a princesa, meiga. Meus pais em cada ponta, trazendo assuntos reais e cotidianos, mas nunca sequer olhavam para mim. Pior que isso não era o que mais me perturbava, mas sim a escudeira à nossa frente, sempre sem dirigir uma palavra a qualquer um ali presente. Admitira a mim mesmo, temia-a, tanto ao ponto de não haver tirado coragem para comentar sobre ela com o negro cavaleiro, que ao contrário de mim, parecia admirá-la de alguma forma.

Restando pouco para o tão especial dia da união ao norte, aquela tarde fugiu dos padrões aos quais estavam, desafortunadamente, tornando-se comuns. A comida fora toda posta, tomamos acento nos mesmos lugares, mas quando estava prestes a dar a primeira garfada, a grossa voz de meu pai fez-se presente, e ele não parecia de um todo contente.

– Acredito que não ficarão para o almoço de pós amanhã, ou estou errado? – seu olhar acertou em cheio no meu – Mas acho que isso aqui responde minha dúvida – um desagradável calafrio percorreu meu corpo quando vi-o retirar do bolso o envelope que recebera.

– Isso... – fraquejei.

– Pretendia nos contar quando? Ou planejavam sair escondidos outra vez? – minhas palavras congelaram no tempo ao ouvir aquelas perguntas proferidas diretamente pela minha mãe.

– É um desacato – o rei rasgou tudo ao meio, inclusive a adorável fotografia. Naquele instante reagi:

– Por favor, nos deixem ir! São meus amigos! É um dia muito importante para eles...

– Eu vejo, um fracote metido por sua riqueza e uma prostituta imunda sem propósitos. O que me dá maior certeza de que são realmente seus amigos, é o fato de nem ao menos darem-se o agrado de também distribuir convites para nós, que somos os reis, ou sua própria futura esposa! Aquele garoto passa dias em seus aposentos que foram por nós cedidos, come de nossa comida, atrapalha seus treinamentos com suas brincadeiras estúpidas, e agora isso? O que seus pais têm na cabeça para deixarem um relacionamento desses ter continuidade?!

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