♚ 𝒮angue azul ♔

Estranhas lembranças

Pus minha capa e saí do quarto, dirigindo-me para o do lado, batendo à porta, mas ninguém contestou, então o adentrei rapidamente, para que também ninguém notasse. Realmente, Shadow não estava em sua habitação. Estranhei aquilo, pois dissera-me que após o treino se encontraria por aqui.

Iniciei uma busca constante pelo castelo. As garotas não localizavam-se em vossos aposentos, constatei, pois também não fui atendido. Nenhum dos guardas nas portas de entrada ou dos fundos sabiam onde ele estava, corri pelos jardins, não havia ninguém. Adentrei a cozinha, a sala de jantar, a de estar; nada. Recusei-me a perguntar para meus pais, então ignorei a sala do trono, irritado.

Relembrei do nosso tempo na biblioteca, e ao escancarar as portas em disparada, dando voltas pelo local, a princesa e sua escudeira estavam ali. Sentadas, separadas por uma mesa redonda com um imenso livro velho aberto sobre esta. Aparentemente havia interrompido uma importante conversa, pois o silêncio pairou e ambas estiveram encarando-me, sérias.

– Desculpe, mas por acaso vocês viram Shadow?

– Pensei que estivessem treinando – disse Blaze.

– Sim, nós estávamos, mas o horário acabou – respondi tenso. Com somente olhá-la já deixava-me tenso.

– Sinto muito, não o vimos – Amy quebrou o gelo, então apenas fui distanciando-me lentamente, até sumir de suas vistas.

Suspirei ao fechar as portas novamente. Onde haverá se metido? Talvez precisou ir à cidade de urgência, provável que meus pais houvessem lhe pedido algo. E enquanto caminhava de volta para meu quarto, pensando nas possibilidades de seu sumiço, avistei ao final de um corredor escurecido a silhueta de um ouriço com sua armadura cotidiana e íris vermelhas brilhando na penumbra.

– Shadow? – ele apenas desapareceu ao virar no próximo corredor, e eu, obviamente, o segui.

Lentamente pude reconhecer aquele corredor. Em algum momento desembocaria nas masmorras, as quais não eram usadas há anos e permaneciam trancadas. O único lugar que não o havia procurado, e que por algum motivo, minha mente até esquecera de sua existência. Uma sutil memória da infância veio à tona e ela parecia mais clara com o decorrer de meus passos através do breu.

Os gritos ecoavam, as correntes eram esticadas. Não recordava de quem se tratavam, nem do porquê faziam aquilo com eles, eu era muito pequeno. Minha mãe mandara-me dormir mais cedo aquela noite, não dei-lhe ouvidos e sorrateiramente a segui, com papai ao seu lado; eles adentraram a sala aterrorizante.

Minutos se foram junto da vida de dois indivíduos que externizavam sua dor e agonia por meio de gritos sufocantes. Corri dali, com medo de alguém descobrir que tentara espiar pela porta. No outro dia bem cedo, vi ao longe através da janela de meu quarto, dois corpos cobertos por lonas brancas sendo postos em uma carroça e levados para longe. O pensamento que tive era a pura mistura de medo com pena, pois sentira a necessidade de ajudá-los, mas não sabia como.

No decair da noite, não conseguia mais pregar os olhos e bati no quarto dos meus pais que fica ao lado da imensa sala do trono. Aquela foi a única e última vez em que dormi junto deles.

– Te peguei!

– AHH!! – gritei pelo imenso susto que Shadow me dera ao abraçar-me por detrás.

– Desculpe, não quis te assustar – falou rouco e baixo. Quando notei, já estava apoiado contra uma parede e ele distribuía selares tranquilos por meus ombros.

– N-não me assustou, eu só estava distraído.

– Uhum...

– Eu te procurei em todo canto – rodeei meus braços por suas costas – Me deixou preocupado.