Deixados para trás

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Vários anos antes...

O sorriso dela, o vestido movimentando-se graciosamente junto de seus fios compridos e louros, a energia contagiante que espalhava-se pelo lugar. Dançávamos, ríamos. Enquanto todos preocupavam-se tanto com o futuro, os seus destinos, nós apenas aproveitávamos o hoje, nossa própria companhia. A vida era assim ao lado de Maria, simples e brilhante.

– Licença – interrompeu um garoto altivo, daqueles que passam gel em excesso no cabelo – Espero não interromper nada muito importante. Quero dançar com minha noiva – ele sempre me odiou, com razão.

– Sim, fique à vontade, príncipe Edward – concedi a mão de Maria até a dele, que sorriu satisfeito, mas aquela irritante expressão converteu-se drasticamente a uma de horror quando um fragmento comprido e grosso de algo que parecia um cristal atravessou seu peito.

– Ugrh! – cuspiu sangue, arregalando o olhar – Ma... ria, n-não me deixe... morrer, por f- – caiu aos pés dela.

– ALGUÉM?! AJUDA! AJUDA! – ela gritava aos prantos, desesperada, olhando ao redor, os convidados começaram a agitar-se de um lado a outro com pavor. A jovem segurou-o pelo braço, tentando levantá-lo, mas impedi-a:

– Já é tarde demais! Precisamos sair daqui e nos proteger se não quisermos ter o mesmo destino!

– M-mas...

– Maria! Me ouça! – segurei sua mão, tentando levá-la para longe. Ela tremia, recusando-se a deixar Edward para trás e crer que ele havia morrido. Podia negar matrimônio, mas sempre agradou-se com a presença do rapaz e sua gentileza para com ela. Nesse quesito o jovem nunca me desapontou.

As portas de entrada escancaram-se e de lá dois seres escuros de pele pálida surgiram. Assemelhavam-se com indivíduos da mesma espécie que a minha, mas no lugar das mãos e pés possuíam diamantes pontiagudos, iguais ao que atingiu o príncipe. Fragmentos daqueles começaram a lançar-se contra o castelo, atravessando janelas, despedaçando seus vidros, acertando e ferindo vários dos ali presentes, que corriam, gritando em meio à tentativa de fuga. E era isso que faríamos também: fugir.

Não esqueço aqueles dois pares de esclerais vermelhas encararem-me, fora como se pudessem ler o que eu estava pensando, adentrando os meus mais profundos sentimentos, lendo-os e transformando-os em puro caos, distorcendo-os da realidade. A voz de Maria salvou-me do transe e seu contato apertado contra minha mão sinalizou que estava pronta para correr dali.

Deixei-a ir na frente, enquanto os cristais acertavam-me pelas costas, diretamente na armadura, servia-lhe como um escudo, mas em nenhum momento senti ser um alvo para eles. Chegamos na sala do trono e lá rei Robotnik conduzia as pessoas para que escondessem-se em lugares distintos e que, de acordo com ele, eram seguros.

– Filha, você está bem?! – ele abraçou-a preocupado.

– Sim, papai!

– Sir Lancelot, obrigado por sempre cuidar tão bem dela! Quero que leve-a para longe daqui o mais rápido possível!

– Entendido, majestade! Vamos, Maria! – puxei-a pelo braço, apressado, mas a garota se negou, lacrimejando:

– Não vou deixá-lo sozinho aqui, pai! Me diga o que está acontecendo! Por que estamos sob ataque?!

– O tempo é escasso para explicar! Prometo que ficarei bem! Vão! Vão! – ao terminar sua fala, os seres sombrios puderam quebrar as portas reforçadas, viam-se as dezenas de corpos mortos dos guardas que tentaram impedi-los, espalhados pelo corredor – Atrás de mim! – o velho exigiu e o fizemos, horrorizados – Sei que o que fiz foi errado, se quiserem me matar, tudo bem, mas por favor, não machuquem minha família!

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