Remorso

477 34 30
                                    

 – Estou arrependida – confessou a escudeira.

Estávamos os três na biblioteca. Ela desejava externar o que fizera em privado, e mesmo que eu já desconfiasse sobre alguns de seus atos, adoraria ouvir a verdade com detalhes propriamente proferidos.

– Pois bem, espero que suas desculpas sejam sinceras – cruzei os braços sério, aguardando. Lancelot olhou-nos confundido:

– O que aconteceu? – a gata lilás arrastou uma cadeira, estava explicitamente nervosa.

– Por favor, sentem-se. Não posso prometer que serei breve – pediu e assim o fizemos. Apoiei os cotovelos à mesa e fiz um sinal para que começasse a falar – Pois bem, eu sei o tipo de relação que vêm levando adiante.

– Como- – Shadow ficou de pé, batendo ambas palmas sobre a mesa com certa força. Toquei em seu braço e pedi que se acalmasse – Você sabia disso? – assenti, desviando o olhar até a dama com semblante pálido – Por que não me disse nada? – voltei a encará-lo.

– Não tinha provas concretas, e também, não queria te preocupar ou gerar uma feia discussão entre vocês.

– Compreendo – sentou-se novamente e tirou seu capacete, mirando suas íris vermelhas reluzentes até as douradas da garota – Suponho que não contou a mais ninguém sobre isso, certo?

– Não senhor, apenas eu sei. Tenho a devida consciência de que externizar isso geraria um grande escândalo a ambas famílias, e até nós mesmos – ela infelizmente estava certa.

– Mas então, desde quando? – Lancelot seguiu assunto. A escudeira encarou-o devidamente:

– Minhas suspeitas deram início desde a primeira conversa que tivemos no salão.

– Que tipo de conversa? – intrometi-me muito curioso. Recordo de Shadow haver me dito que falou com ela algumas vezes, mas nunca especificou do que se tratavam tais prosas.

– No exato dia em que eu e a princesa Amy chegamos, meu sentido especial apontou para seu escudeiro.

– Sentido... especial? – continuei confuso.

– Sim, bem, como haveria de explicar? – fez uma pequena pausa – Quando tenho a sensação de que algo vai mal, meus pelos arrepiam e meu rabo fica mais baixo que o normal – fez ela um gesto com a ponta das garras por seus braços – Foi assim quando comecei a prestar melhor atenção na forma como ele te olhava e se preocupava, fazendo muito além de seus serviços. E sobre a conversa, bem... – a gata desviou seu olhar para baixo – Sua alteza estava dançando com a princesa, algo que não deixava nenhum de nós contente, ainda mais que quase se beijaram.

– A-aquilo foi um mal intendido, posso explicar – ela esboçou um pequenino sorriso, pela primeira vez veria tal rara expressão:

– Não se preocupe, príncipe, certamente não fora intencional. Apenas convencê-la do contrário seria uma tarefa bem difícil – aos poucos foi corando – E assim haverei de confessar o maior motivo do porque causei tantas intrigas, e isso se deve pelo não tão simples fato de eu amar Amy, desde muito tempo. E descobrir que sua amada está sendo de certa forma enganada, fez eu tomar algumas atitudes indesejáveis por impulso.

Então era isso. Senti-me um pouco mal por causar-lhe esses desconfortos. Afinal, ela sentia o mesmo que sinto por Shadow, mas do contrário, não era correspondida. Uma afeição sem complemento acabava por se tornar uma emoção solitária e de grandes pesares.

– Mas isso não é tudo, queremos saber o que fez você ter tanta certeza das acusações, porque julgar meu comportamento não seria o suficiente – Lancelot pôs lenha na fogueira.

♚ 𝒮angue azul ♔Onde histórias criam vida. Descubra agora