Distância

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O treino acabara mais cedo que o previsto, as criadas já juntavam-se à cozinha para prepararem um delicioso café da manhã, haveriam de dar seu máximo para agradar os gostos requintados da princesa. Esta caminhava ao meu lado em retorno do palácio, seguíamos o trilho de pequenas pedras brilhantes com o refletir da luz solar, apenas mais um dia que começara a ficar quente.

Eu soltava um largo suspiro a cada uma dúzia de passos. O que deveria fazer para ouvir um perdão por parte de Shadow? Aquela sua amargurada expressão não saía da minha cabeça nem sequer por um minuto. Passeei meu olhar pela ouriça rosada, tentando soar desapercebido, para que não parecesse um encarar. Ela seguia em frente, com as bochechas coradinhas e as várias flores nas mãos juntas contra o peito. Não era má garota, muito menos má influência, apenas emocionava-se facilmente. Decidi manter um largo diálogo com uma dama, alguém além de minha mãe.

Rose contestou cada pergunta que fizera a respeito de mais cedo, com um tom impossível de cogitar serem mentiras. Tudo o que aconteceu, desde sua ida à beira do lago até a chegada dela com Lancelot no local em que treinamos. Tanto que adentramos o castelo e o assunto continuava, e a cada palavra, ficava mais e mais culpado por haver interpretado a cena de uma forma totalmente equivocada. A partir desse assunto, outros surgiram, gostos em comum e até risadas, eu estava realmente me divertindo conversando com ela.

Foram pequeninas alegrias que duraram pouco quando sentamo-nos à mesa para comer e logo dei falta de Shadow. Meus pais avisaram-me que ele havia saído para resolver um compromisso de último momento e podiam não ter dito isso também, mas seus rostos já falavam por si só o contente que estavam ao ver-me ao lado de Amy.

– Seu matrimônio será tão lindo quanto o dele – só pude ter certeza quando minha mãe disse isso depois que comentei da saída de Knuckles. Ela segurava a mão de meu pai com paixão e ambos olhavam-nos.

Mordi o garfo, entortando-o de leve, controlando-me para não contradizê-los. Amy reagiu envergonhada e encolhendo-se na cadeira, remexendo seus delicados pesinhos por debaixo da mesa. Já sua fiel escudeira, era como se nem estivesse lá, seu silêncio e rosto em fotografia de identidade permaneciam idênticos.

De repente relembrei daqueles dias em que eles sorriam orgulhosos pelo meu empenho. Mas estava sendo ingênuo ao pensar que não me obrigariam a fazer outros tipos de coisas, exemplo disso era um luxuoso e exagerado casamento!

As horas se passavam e eu caminhava de um lado ao outro pelo quarto, entediado, aflito, ansioso, ou melhor, tudo isso misturado com a saudade que sentia de ao menos encarar os avermelhados olhos daquele negro cavaleiro. Escorei-me no parapeito da janela, o Sol já se punha e enfim, ao longe, vi Shadow montado em Garanhão, retornando da cidade. O coração acelerou e corri para fora, saudando os dois, sorria aliviado por estarem bem.

– Onde foi? – perguntei quando já caminhávamos lado a lado pelo corredor e ele retirava seu capacete, suspirando suado. Engoli em seco, era sexy.

– Só cavalguei pelos arredores para passar o tempo – eu também haveria de tirar um tempo sozinho após aquilo, compreendo e me arrependo.

– Sir Lancelot! Digo, Shadow – cumprimentou a garota rosada usando um vestido verde, saindo de seu quarto, que pela minha surpresa encontrava-se logo ao lado.

– Olá, princesa – curvou-se ele. Amy permaneceu intercalando seus olhos por nós dois em um curto silêncio constrangedor e então Blaze surgiu, conduzindo-a para outro local.

– Me desculpe – aproveitei que estava enfim a sós para admitir meus erros infantis – Eu disse todas aquelas coisas sem pensar, fiquei com ciúmes em vão e...

– Está desculpado – encarei-o surpreso, estranhei haver ter sido tão fácil.

– Mesmo? – Lancelot assentiu e abriu a porta de seu aposento, sem olhar para meu rosto.

– Agora, se não houver mais pedidos por hoje, me retiro.

Foram os três dias mais agonizantes da minha vida. Shadow não trocava mais que dez palavras comigo, ignorava-me e sorrateiramente fugia as vezes, saía com seu cavalo pela manhã e voltava no decair da noite. Eu precisei me virar sozinho em várias tarefas que já nem recordava como eram feitas sem companhia, como vestir-me e banhar-me. A única que acabava por distrair minhas frustrações dessa situação era justamente a princesa. Ficamos bastante próximos e já considerava-a uma ótima amiga assim como Knuckles, apesar de saber que ela não pensava a meu respeito da mesma maneira.

Então em um final de tarde, antes do horário que comumente Shadow retornava, minha paciência já estava prestes a transbordar como tempestade em copo d'água e vi-me parado em frente seu quarto. Olhei para todos os lados tendo a devida certeza de que ninguém veria nada, pois adentrei sem pensar muito. Estava decidido a esperar por ele lá e não sairia até ouvir uma explicação plausível para o seu comportamento.

Olhei em volta. Notei como aquele quarto estava extremamente diferente. Desde que Lancelot chegara, não havia feito presença aqui nenhuma vez. Abri a janela para que o ar fluísse, começara a ficar nervoso ao refletir que teria de encará-lo novamente, era até agora o maior recorde de distância que havíamos ficado um do outro e isso afligia-me.

Voltei a observar o minimalismo daquela habitação, paredes escuras, móveis escuros, carpetes vermelhos e cama de casal impecavelmente arrumada. O cheiro de Shadow encontrava-se em tudo isso, preenchendo meus pulmões, de fato, excitara-me. Afundei meu rosto corado em seu travesseiro, abraçando-o com força, querendo que fosse ele. Nesse instante a porta se abre.

Interação: Só eu que estou igual ao Shadow de empolgado para o Natal?

 Interação: Só eu que estou igual ao Shadow de empolgado para o Natal?

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