☪ Capítulo 1 - Os Blackheart ☪ Primórdio ☪

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 Primórdio 

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   Muitos acreditam que histórias começam com um nascimento, com o início de uma vida, com o primeiro raiar de sol, com uma flor que desabrocha no primeiro dia de primavera. Mas esta história, mesmo que por desventura, começou não com um "era uma vez" ou com um nascimento de um novo início de vida, mas sim com o fim de uma. Esta história não começou a ser escrita pela Vida com belezas e alegrias, tal história começou a ser escrita com a tristeza e o luto, começou a ser escrita pela Morte.

Há quem diga, que casas refletem o interior de seu morador como um espelho de almas. São elas que muitas vezes dizem, mesmo sem querer, sobre a quão conturbada está a alma de seu residente. Muitas vezes, é necessário ter um sentido a mais para desvendar os mistérios do mundo, até mesmo os de uma casa, é preciso enxergar além de paredes, móveis, portas e janelas. Olhe para o lado, olhe para o outro. Abra uma janela ou uma porta. Se você não for como eles não verá o que se esconde em um canto escuro de sua casa. Ser o que eles são, é ser uma criatura de muitos rótulos, mas nenhum título que realmente os defina. Bruxo ou bruxa, mago ou maga, feiticeiro ou feiticeira entre outros títulos menos conhecidos, eles possuem vários nomes dos quais atendem, estes, os descendentes dos Elementares, da Mãe Natureza, nasceram para conduzir a vida em suas diversas formas para o caminho da evolução e da harmonia, tendo estes dons que os faziam ainda mais capazes de estruturar o mundo. É preciso ser como eles para enxergar o que não está à vista. Para compreender o mundo, a vida e a morte, é preciso ter um olhar diferente para estes, mesmo assim, é preciso que o mundo permita que você veja e desvende os mistérios que ele mesmo criou para as vidas e até mesmo para a Morte. Mas não é somente o mundo que há de permitir que enxerguemos o que ele oculta, cabe a nós mesmos permitir que enxerguemos o que nossa ignorância quer cegar.

Por falar em ignorância, na residência Blackheart há muitos cegos, talvez por ser uma família de iguais isso não permitiu que estes evoluíssem com o diferente. Estes mantinham sua casa da mesma forma desde que chegaram, tentando limpar e encobrir os mofos e sujeiras que contavam sobre vossas almas imundas, quem ali pouco tempo ficasse não notaria tais desleixos de alma e concentraria seus olhos apenas no luxo desta mansão, mas quem ali habitasse logo compreenderia que esta família já se perdia em seus próprios pecados desde muito tempo. A mansão Blackheart possuía um estilo sombrio e até mesmo aterrorizante, era de similar a muitas das casas da capital, mas possuía um luxo e nítida vaidade que somente os Blackheart tinham. Com suas estravagantes gárgulas de pedra a enfeitar jardins e sacadas, estatuas intrigantes e jardins extensos, porém obscuros, a mansão era um lugar interessante para se descobrir beleza nas trevas. Não era de se estranhar o silencio da casa mesmo que esta estivesse com todos seus moradores presentes, os Blackheart estimavam o silencio mais do que seus próprios parentes, consideravam a ausência de sons um prazer para se admirar e vivenciar todos os dias de suas vidas, mas assim como todos os prazeres, este não deixava de ser momentâneo e logo que saiam de casa tinham suas mentes corrompidas pelos barulhos da tumultuada cidade urbana em que viviam.

Por isso estavam na maior parte do tempo em casa, o silencio era necessário na vida dos Blackheart assim como o ar que eles respiravam, era graças ao silencio que eles podiam pensar com profundidade e clareza, e o pensar era algo de muito valor para esta família, pensamentos geravam opiniões, opiniões geravam debates e debates geravam ações e, enfim, mudanças. Perder um pensamento era perder uma joia de grande valor para os Blackheart, e se perdido um bom pensamento, perdida seria uma boa revolução. Assim como o silencio, o pensamento e a opinião, esta família valorizava como ouro a solidão. A residência Blackheart podia ser comparada a um castelo, fora construída assim para que seus residentes, mesmo que muitos, pudessem evitar contato e apreciar a solidão como esta deve ser apreciada e admirada. Com a solidão da casa, logo vinha o silencio e o silencio atraia pensamentos para formar opiniões, por isso que todas as manhãs logo após o café, era hábito dos Blackheart estarem sozinhos em cantos diferentes da casa dedicando-se a si próprios. Dedicavam-se a si alimentando suas mentes, na maioria das vezes lendo, ouvindo música, escrevendo, estudando ou aprimorando seus talentos mais notáveis, coisas que não deixavam de serem um lazer para estes. Mesmo os mais velhos sabendo muito, sentiam que sempre podiam saber mais, e assim como seus filhos aprimoravam sua mente quando não preferiam apenas parar. Parar para admirar a paisagem através das janelas, parar para apenas ouvir a natureza ou a uma boa música, parar para pensar.

Almas Fúnebres - O Lorde e a FeiticeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora