☪ Capítulo 3 - Lua Cheia ☪ A Carta ☪

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⊱A Carta⊰

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O som forte e firme de cascos a colidirem com o paralelepípedo das ruas gerava adrenalina aos que escutassem, mas para os que os vissem, o deslumbre e a inveja contaminariam aos olhos. Lado a lado eles cavalgavam com urgência, em um cavalo branco e outro castanho escuro, animais fortes e brutos, cujo coice seria fatal, cavalos de guerra criados para suportar o mal tempo, os sons da batalha e enfrentar o que fosse preciso para trazer glória a seus cavaleiros. Ambos carregavam o título de Sir, suas patentes eram privilegiadas. Dalibor Pávok, cavaleiro da guarda imperial, assim como todo cavaleiro imperial ele usava uma armadura dourada com o símbolo Darkmoon no peito, evidentemente pesada, uma capa dourada e uma espada em sua cintura. Dalibor era um homem grande, forte e amedrontador, um único soco e seu adversário cairia em sono profundo, regido pelo fogo, ele possuía várias cicatrizes pelo seu corpo negro, tendo algumas em sua face, incluindo em sua nuca careca. O segundo cavaleiro, trajava as mesmas coisas que o primeiro, com a única diferença do símbolo estampado ao peito da armadura, uma fênix de asas abertas, este era Donato Guerrier, um homem não tão grande quanto seu amigo, mas o suficiente para amedrontar qualquer civil. Um homem ruivo, seu rosto era fino, seu nariz curvo, sua pele clara, seus olhos eram castanhos escuros, os cabelos ondulados e bagunçados, iam até o começo de seu pescoço, possuía uma barba fina e áspera, embora seu aspecto fosse severo, havia charme evidenciado em seus modos de se portar.

Os dois cavalheiros cavalgaram velozes pela cidade, ambos saídos de Athena condado para enfim chagarem aos confins da cidade, onde Deus era apenas um delírio e o Diabo o carcereiro, Inferius. Carentes de comida, carentes de roupas e cobertores que os aquecessem, carentes de dinheiro e cultura, mas sobretudo, carentes de empatia daqueles ditos benevolentes da elite da capital. Quando atravessados os portões dourados de Athena condado, ou os portões floridos de La-Belle condado, ou até mesmo os cintilantes portões de Golden-Street condado, o cenário encontrado seria de deslumbre e riqueza, seja por haver campos amplos com árvores grandiosas, ou comércios cujas fachadas eram ricas e de belo design, e até mesmo mansões comparadas a palácios, se não o próprio palácio da família imperial.

No entanto, ao atravessar os tortos e enferrujados portões de ferro de Inferius, tudo o que o cenário proveria era a decadência. Enquanto as ruas dos demais condados eram de paralelepípedo negro, sem sinal de buracos ou imperfeições, as ruas de Inferius eram ruas de terra molhada, um lamaçal preto, com buracos que atolavam qualquer carruagem que passasse, se não os pés dos que caminhavam. As calçadas dos condados de elite, eram largas para que os pedestres pudessem ir e vir ao mesmo tempo, sem risco de colidir com ambos os lados, havendo cercados de pedra com lacrimosas plantadas sobre, para separar a calçada da ciclovia. Já as calçadas de Inferius, eram cimentadas de maneira irregular, não tendo espaço para a passagem de mais de uma pessoa, havendo buracos e lama, sendo estreita demais e por isso correndo o risco de passar uma carruagem sobre os pedestres. Da mesma indiferença que eram tratadas as ruas de Inferius, as pessoas que lá moravam eram tradas pelos seus ditos superiores. Suas casas eram de longe mansões, barracos que conseguiam ou não proteger famílias de um mal tempo, a falta de comida era tão evidente quanto de higiene, havendo resquícios de fezes pelas ruas. Havia poucos animais a vagarem pelas ruas, mas os que vagavam, eram ratazanas de mesmo tamanho que gatos, alimentavam-se da sujeira e da carne de mendigos mortos ou não.

Este condado similar ao Umbral, era lar da espécie mais selvagem e irracional já nascida na Terra, lar daqueles que um dia dominaram com crueldade e agora eram tratados de mesma forma, se não sendo mendigos a se alimentar do que achavam em meio a imundice, sendo escravos a trabalharem nas casas de seus superiores, os bruxos. Essa espécie, essa raça, essas criaturas cujo mal ainda reinava como trauma aos que sofreram em seu domínio, são os humanos. Um dia reis, agora o mais absoluto nada.

Almas Fúnebres - O Lorde e a FeiticeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora