Almas Fúnebres - O Lorde e a Feiticeira

☪ Capítulo 2 - O Lorde ☪ Tarot ☪

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    La Belle condado não fora batizado ao acaso com este nome, a beleza daquele lugar era de fato genuína, La Belle bairro então, era a supremacia da beleza na capital prateada de Vitorie. Em uma das ruas de La Belle bairro ficava o porto da cidade, um lugar movimentado em época de veraneio, época em que mesmo que os céus cinzas escuros e iluminados pelos relâmpagos, além do som dos costumeiros trovões e a presença da chuva agora mais calma, mas ainda incessante estivessem presentes, ainda havia um vento quente que atormentava os silverianos desacostumados com o calor. Nesta época, era comum que a praia do porto lotasse, mesmo que o mar estivesse revolto, pois assim sempre estava devido ao clima tempestuoso ainda presente em dias de verão, além dos banhistas, o peixe também chegava a costa pelas embarcações dos pescadores em abundancia, tendo variedades deliciosas e fedorentas aos montes para o comércio de peixe. Agora, faltando duas semanas para o solstício de primavera, o porto era calmo, com as ruas de paralelepípedos escuros molhadas como os prédios e tudo que não se escapou da chuva, como alguns cães e gatos que se mantiveram ao lado das embarcações a procura de um peixe para saciar a fome. O porto era uma espécie de paraíso sombrio, como toda aquela cidade, em determinada parte da praia, onde o porto começava, o cheiro a peixe era enjoativo aos de olfato sensível, com suas capas já húmidas pelo tempo, os marinheiros descarregavam lotes de caixa com o pouco de peixe que conseguiam no inverno.

Theodor, confortável na carruagem de seus tios, sentia-se relaxado pelo balançar da carruagem, o som do leve trote dos cavalos, as gaivotas a sobrevoarem os barcos em busca de peixe, tudo isso contrastando com o som da chuva calma e do mar revolto, com o soar do sino de algum barco a balançar com o vento ao longe, Theodor estava à beira de um sono plácido, almejando se deixar levar pelo delicioso escurinho da carruagem e o conforto do macio banco em que estava sentado, apenas tendo como última lembrança aqueles sons agradáveis que o fizeram adormecer. Sua cabeça estava se inclinando para o lado, suas pálpebras pesavam, aos poucos a paisagem cinza fora se tornando um borrão e seus olhos cansado foram se fechando, o jovem Salazar estava assim devido sua primeira experiencia com o desdobramento, um fenômeno de exteriorização do corpo espiritual ou perispírito, o perispírito ainda ligado ao corpo físico, distancia-se do mesmo, fazendo agora parte do mundo espiritual, ficando entre o véu da vida e o manto da morte, mesmo que ainda ligado ao corpo físico por fios fluídicos. Aquilo havia lhe cansado, tinha plena consciência do que tinha sido, se recordara dos mínimos detalhes, e fora por causa destas lembranças que Theodor decidira ir até o porto de La Belle.

Madame LeClair era uma velha amiga de seu pai, quando criança Theodor costumava visitar a mulher junto de seu pai, gostava de brincar com os gatos da velha bruxa, sensitiva como os integrantes da família Salazar, estando apenas um grau abaixo em sua escala de evolução mediúnica, enquanto ela e seu pai trocavam concelhos e estudavam sobre certas mensagens espirituais, Theodor se divertia com os felinos escutando os assuntos fantasmagóricos de seu pai. Os bruxos médiuns, ou bruxos sensitivos, eram bruxos cuja espírito era fortemente ligado ao mundo espiritual mesmo quando encarnado, tinham um talento de berço para a comunicação com espíritos e entidades que ficavam entre o véu e o manto ou dentro do manto da morte, quando um bruxo nasce com este dom é uma responsabilidade e seu dever ajudar através de suas mediunidades aos encarnados e desencarnados que lhe solicitassem auxílio. Com a chegada de seu despertar espiritual, não tendo a presença de seu pai para lhe auxiliar, Theodor começava aos poucos a compreender mais de seus poderes, descobrindo quais eram suas capacidades e limites, mas tudo isso estando sozinho e em situação de perigo.

Seu despertar aconteceu por causa da chegada de seus primos, talvez se isso não tivesse ocorrido, Theodor ainda seria apenas um bruxo regido pelo ar, mas agora estava começando a desvendar os mistérios de sua vida carnal e espiritual. O despertar espiritual é um processo magnifico e transformador pelo qual muitas pessoas podem passar, sendo estes bruxos, humanos, animal ou criatura, em diferentes fases da vida. Basicamente, envolve adquirir a consciência de que se é muito mais do que apenas um corpo e uma mente, e que dentro de si existe um espírito, algo que está além do que se pode ver. Embora seja da cultura dos místicos em geral a consciência sobre o espirito, o Deus Maior e a imortalidade da alma em diversas encarnações, passando de geração a geração sobre suas crenças espirituais, com o passar dos séculos e com a chegada da urbanização, com as almas descobrindo sobre suas qualidades e defeitos transformadores para sua evolução, muitas crenças e fatos foram deixados de lado, tornando a evolução destes espíritos um processo lento e doloroso, deixando este mundo enfermo, mas ainda em processo de cura e salvação. Com isto, o mal ainda sobrepunha o bem, a empatia ainda está escassa, a vida desvalorizada, a morte mal estudada, o orgulho, hipocrisia, luxúria e ódio ainda reinam nas criaturas, muitas almas ainda precisam de evolução e enquanto se negarem a evoluir mais o mundo demorara a alcançar seu maior estágio de evolução.