☪Capítulo 3 - Lua Cheia ☪ Abafar ☪

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 Abafar

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  O retorno da lua foi inevitável, estampando o véu negro dos céus junto as estrelas, o frio era seu acompanhante, os ventos sussurravam "perigo" nos ouvidos daqueles que os escutassem. Eram meia noite e quinze, muitos já haviam se recolhido, poucos os que vagavam pelas ruas, o vento alertava estes poucos, mas havia um que mesmo escutando e entendendo o vento, sabia que não era de seu destino se esconder, mas sim emergir da escuridão. Sua capa esvoaçava conforme andava, caminhava lento, sem medo, sabendo que podia estar sendo caçado, apenas vagava pela noite torcendo que a besta o encontrasse. Ferri sempre apreciou a noite, era seu lar, gostava tanto dela como as criaturas que costumava caçar, gostava do silencio e da sensação de conseguir escutar além do que os ouvidos pudessem ouvir, talvez até enxergar além dos seus olhos, além das sombras que o rodeavam. Estava inerte em ser caçador a fingir ser caça, não notou que alguém o vigiava, talvez tivesse percebido, mas não deu a verdadeira relevância que o sujeito merecia, subestimando o poder daquele ser soturno a observá-lo atrás das árvores, coberto pela escuridão. Um corvo o observava de um galho, quando o bruxo se distanciava ele voava silenciosamente para outra árvore, apenas cuidando cada passo que Ferri dava em intensão de ser apetitoso para a criatura que caçava.

Passava pela rua onde um dos ataques acontecera, agora o beco onde os corpos foram encontrados estava limpo, não havia mais o que o interessasse ali. ndo à rua da frente, passou pelo bordel Afrodite, tinha um bom tempo que Ferri frequentava o bordel, costumava ir aos sábados e quartas-feiras quando folgava, as vezes a noite após o trabalho na fronteira da floresta Bestia, mas mesmo que hoje quisesse adentrar o estabelecimento, não o poderia fazer, pois estava fechado em luto. A morte em frente ao bordel de uma das garotas do Afrodite comovera as demais prostitutas, e em respeito a isso e a falecida, Madame Libidine fechou o bordel por dois dias. Caminhando, quase passando do bordel, uma figura bem afeiçoada o viu passar da janela do seu quarto, então resolveu chamar a atenção do capitão.

– Boa noite, capitão! – Sua voz era rouca, de modo atraente, causando arrepios que somente esta voz conseguia gerar em Ferri. – Passa por meu estabelecimento e nem se quer cogita vir me admirar

– Boa noite, Madame. – Ele se vira, podendo vê-la sentada próxima a janela de seu quarto, vestindo seu robe azul transparente, com tule macio e penas bufantes na barra e pulsos, cinto de cetim amarrado em um laço a frente de sua barriga, uma vestimenta que além de arrastar no chão, era tão transparente que se tornava visível sua pele negra, curvas esbeltas e atraentes, e sua lingerie azul claro. – Perdoe-me, mas estou a serviço da imperatriz. – Respondeu, observando a mulher tragar o cigarro em sua piteira, baforando em seguida.

– Suponho que tenha haver com os corpos encontrados aqui perto. Uma das vítimas era uma de minhas garotas. – Seu tom era sereno. Ferri deu alguns passos em sua direção.

– Meus pêsames por vossa perda, Madame. Lhe asseguro que agora tudo está imperturbável, não há perigo que possa amedrontar a Madame e suas meninas. – Fez-se alguns segundos de silencio calmo, onde somente a noite se era escutada. Madame Libidine sorriu ladina.

– Me crê estupida, Ferri? – Questionou tragando seu cigarro.

– Jamais, minha dama. – Respondeu sério o capitão, abrindo o portão de ferro preto de um dos jardins laterais da casa, adentrando e atravessando o caminho de flores até parar diante a janela de Madame Libidine, quase um metro abaixo.

– Então por que mente para quem só lhe quer bem? – Havia um quê de sentimentalismo verdadeiro em sua pergunta. Ambos se olhavam com intensidade, não desejando elevar a voz um para o outro, mesmo que estivessem em um assunto que tendia a brigas. – Os jornais mentem a pedido daquela velhaca do qual você e toda aquela câmara servem. Eu sei que não foi um engano de um bêbado traído. Aquelas pessoas, tiradas do beco ali em frente, não foram mortas por um homem, mas sim por uma besta. Do contrário, não seria você a estar vagando a esta hora por estes lados.

Almas Fúnebres - O Lorde e a FeiticeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora